Alguns clássicos são relançados, mas não tomam o lugar de produções originais, cheias de personalidade. O formato com episódios independentes permanece como se fosse uma regra inquebrável, mas os programas se desvinculam uns dos outros e ficam mais segmentados. A briga pela audiência não é ganha pela qualidade das histórias e sim pelos shows que conseguem descobrir que tipo de terror o público quer ver.
REMAKES – ALÉM DA IMAGINAÇÃO / HITCHCOCK PRESENTS
Seria um pecado associar aquele ditado “na tv, nada se cria…” às importantíssimas e requisitadas adaptações destas duas séries de sucesso dos anos 50. Não é só porque ambas tinhas histórias inéditas para contar, mas porque também fizeram um magnífico trabalho de modernização dos contos antigos.
As duas séries reiniciaram em 1985 e terminaram em 1989. Além da Imaginação repaginou os créditos de abertura com tanto êxito, que eu confesso que tanto imagens quanto trilha sonora ainda me apavoram décadas depois. A turma encarregada de trazer de volta Alfred Hitchcock Presents, sabia que sem o dito cujo, a nova série poderia perder um pouco da classe, então tratou de colorizar imagens de arquivo do diretor (que morreu em 1980), para apresentar os episódios novamente. Não há nada mais fúnebre do que uma participação além-túmulo, Hitchcock teria amado!
É interessante constatar o quanto os contos originais das duas séries são contemporâneos. Mesmo com a competitividade dos dias de hoje, se relançadas novamente, eu tenho certeza de que encontrariam o seu público. Eram medos antigos mas tinham fundamento e estes não nos abandonam nunca.
CONTOS DA ESCURIDÃO – TALES FROM THE DARKSIDE (1983 – 1988)
Não temos Edgar Allan Poe, mas temos Stephen King em alguns roteiros. Não temos Serling, mas temos George A. Romero na produção (*aplausos*). Temos monstros. Meu Deus, como temos monstros! Contos da Escuridão é o Quinta Dimensão dos anos 80, só que com episódios bem mais curtos, com cerca de 20 minutos cada. Um pouco pobrinho, eu não cheguei a ver muitos com mais de duas locações. Ritmo é um problema, porque por mais que seja um programa curtinho, algumas cenas são desnecessáriamente longas e nos deixam impacientes. Até a abertura é muito longa.
Romero sempre foi um diretor sem medos, que usava seus filmes de terror como um espelho para os problemas da sociedade, mas ele nunca foi um egocêntrico então duas coisas não aconteceram aqui: ele não se escalou para apresentar o programa e não ditou regras para os outros diretores da série. O resultado foi muita liberdade criativa e um pouco de inconsistência, a não ser pelo tema sobrenatural e pela falta de lição de moral. Às vezes o mocinho vencia, às vezes ele perdia e às vezes o desfecho das histórias não mudava muita coisa na vida de ninguém.
THE HITCH HIKER (1983 – 1991)
Eis que o terror chega na tv a cabo, com todas as liberdades que ela permite. Muita violência, muita, muita nudez e a marca registrada da H.B.O.: nenhuma obrigação com a duração dos episódios. O programa teve até mais do que um apresentador, apesar de que para esta função, eu prefiro um ator esquisito e sombrio a um tipo modelo da Calvin Klein, como eles usaram. É mais apropriado para um programa dessa natureza, só que causar medo em Hitch Hiker era uma preocupação secundária.
A H.B.O. queria deixar bem claro para o crescente público dos canais pagos, que estava livre para fazer o que bem entendesse, incluindo usar nosso querido gênero como desculpa para mostrar pelo menos um par de seios por episódio. A ousadia da série trouxe não só muitos telespectadores, garantindo o seu sucesso por muitos anos, como também atraiu muitos atores, então você vai ver muita gente famosa em Hitch Hiker, mas se você quiser levar alguns sustos, ou ver finais surpreendentes, vai precisar garimpar muito entre os episódios.
HISTÓRIAS MARAVILHOSAS – AMAZING STORIES (1985 – 1987)
Nem se atreva a atravessar a década de 1980 sem reconhecer que ela teve um rei absoluto! Steven Spielberg só ficou mesmo longe da indústria musical, mas no que se refere à imagem, ele dirigiu de tudo e produziu de tudo. Como poderia não ter no currículo o seu próprio e personalizado Além da Imaginação? A abertura do programa era uma mistura de Indiana Jones, Contatos Imediatos e E.T., bem a cara do diretor, porque até o terror para ele é antes de mais nada, uma aventura emocionante.
Histórias Maravilhosas era feito para o público juvenil, apesar de que algumas histórias davam tanto medo quanto longas-metragens de terror, daqueles que viram traumas, mas eram episódios raros. Se você era jovem o suficiente para se assustar com esqueletos, o programa era para você. Se curte fumaça falsa e muito humor para quebrar um pouco a tensão, o programa também era para você.
A série tinha um ótimo orçamento e isso era aparente. Também tinha ótimas histórias e a participação de alguns dos diretores mais celebrados do cinema. Foi concebido como um blockbuster, feito para entreter em primeiro lugar, mas jamais decepcionou os fãs do gênero. A duração de apenas duas temporadas não tem nada a ver com rejeição do público, já que a série foi um grande sucesso. Talvez Spielberg tenha simplesmente se cansado. Sabe como é a realeza de Hollywood… ninguém mantém suas coroas fazendo mais do mesmo por muito tempo.
O TEATRO DE RAY BRADBURY – THE RAY BRADBURY THEATRE (1985 – 1992)
Este também foi produzido pela H.B.O., mas menos usado como um exercício de liberdade de expressão e mais como um veículo para a divulgação dos contos de Ray Bradbury, um autor que como Stephen King, escrevia muito, escrevia bem e tinha uma preferência por histórias sobrenaturais.
Bradbury tinha um repertório gigante, perfeito para manter uma série antológica por anos. A escrita era diversa e original e o autor fazia questão de nos contar como algumas de suas ideias nasciam.
Ele não era um grande fã de monstros ou máscaras assustadoras e suas histórias eram sempre muito adultas. Até as ocasionais viagens à Marte não eram sobre alienígenas e sim sobre a humanidade, com histórias não muito claras e com desfechos ambíguos demais para o público mais jovem.
A série fez muito sucesso porque prendia a atenção e era assustadora, a única coisa que podia ser melhorada era a trilha sonora, que não escapou do domínio dos sintetizadores.
SEXTA-FEIRA 13-A SÉRIE – FRIDAY THE 13th-THE SERIES (1987-1990)
Absolutamente nada a ver com os filmes, com Jason ou com a data em questão, esta série conta a história de dois primos que herdam uma loja de antiguidades do tio. A única explicação que eu consigo pensar para a escolha do nome é publicidade. Quem não estaria interessado em qualquer coisa relacionada à sequência de filmes intermináveis de Crystal Lake? O trabalho depois seria encontrar histórias boas o suficiente, para atenuar a decepção inevitável de não ver ninguém com máscara de hoquei no episódio piloto.
O tio vendeu a alma para se tornar imortal. Em troca, todos os objetos de sua loja ficariam amaldiçoados, para serem vendidos e trazer dor e morte para os donos. Quando a consciência pesa, o tio tenta enganar o diabo e recuperar os objetos, mas acaba morrendo e deixando a incumbência para sobrinhos que nem sabiam que ele existia. Cada episódio é sobre um objeto em particular, que os protagonistas tentam readquirir, enfrentando todos os demônios e a violência provocada por cada tarefa.
Em 1988 outra série foi criada com o nome de “Pesadelos de Freddy”, só que desta vez o próprio Krueger apresentava e participava dos episódios, que sempre se passavam em Springwood, a mesma cidade que tinha uma certa rua Elm, onde os pesadelos originais começaram. Só que “Pesadelos…” era tão chata e sem imaginação, que a falta de fidelidade de Sexta-Feira 13 – A Série, nunca chegou a ser uma má ideia.