O número de produções deu uma esfriada e cor foi uma das poucas inovações da década, mas o clima começou a pesar. Menos texto e mais ação, porque os mistérios não precisavam mais ser tão complicados. A maior característica da época é a falta de sutilezas e a perversidade dos temas. O público teve tempo para amadurecer e não há mais aquele medo de mostrar nada, nem violência nem as consequências da violência, mesmo que elas estejam se decompondo há algum tempo.
NIGHT GALLERY (1969 – 1973)
Assistindo ao Night Gallery você testemunha o nascimento de muitas carreiras, inclusive a de Steven Spielberg na direção do episódio piloto. No comando do programa no entanto, estava o já veterano Rod Serling, escrevendo e apresentando os episódios como fazia em Além da Imaginação.
O maior trunfo de Night Gallery era ser realmente assustador. Era um programa longo, mas cada apresentação era dividida entre duas, às vezes três histórias, independentes e macabras, realizadas para fãs de terror e não telespectadores comuns.
Cada história começava com a introdução de um quadro, pertencente a uma fictícia e seleta galeria de arte, que só abria a noite. Cor era tão importante nos quadros quanto nas cenas que eles inspiravam, elas davam dicas sobre que personagem deveria ser temido e exaltavam toda a loucura e o desespero de cada história, quase sempre com um desfecho cruel, que beirava o torture porn.
SCOOBY DOO (1969 – 1972)
Todos os vilões conseguiriam se safar… se não fosse por aqueles garotos intrometidos…
Um dos desenhos de maior sucesso da tv, era um tremendo absurdo. Quatro jovens hippies e um cachorro, bancando os detetives a bordo de uma van com o nome de A Máquina do Mistério, ensinando as crianças dos anos 70 uma importante lição: vilões são os mais medrosos e covardes dos personagens e sempre se escondem atrás de máscaras.
As histórias eram feitas para acelerar pequenos corações, seja com aparições fantasmagóricas ou agitados e hilários números musicais. Cada episódio tinha um mistério sobrenatural diferente, mas a turma de amigos, que certamente não tinha uma licença para investigar nada, era sempre a mesma. Fred, Daphne, Velma, Salsicha e Scooby Doo, foram personagens criados pela dupla Hanna/Barbera para entreter, assustar e provar com pistas coletadas de forma nada ortodoxa, que mais absurdo do que um cachorro falante, é acreditar que fantasmas devem ser mais temidos do que vivos gananciosos.
KOLCHAK E OS DEMÔNIOS DA NOITE – KOLCHAK: THE NIGHT STALKER (1974 – 1975)
A narração do personagem principal, que inclue data e hora dos eventos, a escuridão das cenas e o clima investigativo dão a aparência de Film Noir, mas a série está longe de ser tão elegante. Carl Kolchak acha que é policial, mas é um jornalista, odiado pelo chefe e desrespeitado pela classe. O fato de que ele é o único a perceber o que realmente está por trás das mortes na sua cidade, não o tornam mais popular entre os seus semelhantes, na verdade só serve para isolar o pobre homem cada vez mais. Mas quem poderia acreditar em suas conclusões?
Kolchak se passa em Chicago, um lugar até então de gangsters, loiras sedutoras e crimes motivados pela cobiça. Somente o repórter enxerga a cidade como uma nova Salem, Transilvânia ou outro desses lugares sombrios onde um vilão sobrenatural aparece uma vez por semana. Zumbis e vampiros, demônios e Jack – Estripador, desfilando como intrusos, onde todos se comportam como se esses personagens fossem de mentirinha. Não se sabe quem está no programa errado, Kolchak e os vilões, ou qualquer outro morador da cidade, a única certeza é que essa separação faz do jornalista um homem solitário, como um Fox Mulder original, combatendo o mal enquanto tenta manter o emprego.
A GHOST STORY FOR CHRISTMAS (1971 – 1978)
Durante quase uma década, os britânicos puderam contar com esta atração anual, que não era um programa convencional, mas sim um presente para celebrar os últimos dias de dezembro. Os intervalos entre episódios desta série, estavam mais para o especial de fim de ano do Roberto Carlos, do que para, digamos, Sherlock, uma série que se dá o luxo de ser rara, mas quando aparece, pelo menos oferece mais de uma história em sequência.
Anos após ano o público assistia a um curta de terror, sendo que as histórias eram adaptadas de contos sobrenaturais de escritores locais, quase sempre de época. O canal BBC, uma referência mundial em qualidade televisiva, foi o responsável pela produção e transmissão dos curtas, que não tinham um apresentador ou uma vinheta de abertura, mas continham assinaturas mais importantes do canal, como roteiros e atores excepcionais e também tinham aquela atmosfera nebulosa e melancólica que poucos lugares recriam tão bem quanto a Inglaterra. Eu adoraria ter algo do tipo por aqui, como uma tradição natalina, ao invéz de por exemplo, um show anual do rei.