Uma coisa é ir ao cinema e pagar para sentir medo, outra é levar sustos de graça em casa. O terror começou na tv discretamente com séries antológicas, adaptadas de contos literários ou vindos do rádio, onde cada episódio era diferente e independente, não exigindo lealdade total do público. Esse formato fazia com que cada apresentação fosse também uma aposta, já que alguns episódios eram obras primas, enquanto que outros eram apenas interessantes. As únicas certezas eram o preto e branco e o twist no final.

ALFRED HITCHCOCK PRESENTS (1955 – 1962)

alfred hitchcockEsse não foi o primeiro programa do gênero, mas investiu pesado para ser o primeiro inesquecível. Não era só um nome cedido, Hitchcock em pessoa aparecia para literalmente apresentar cada episódio, acompanhado por silhueta e trilha sonora que se tornariam suas marcas registradas. O diretor trazia classe e credibilidade à série dirigindo alguns dos melhores episódios, mas não foi muito longe do que já fazia no cinema, que era colocar pessoas comuns em situações de tensão e perigo, causadas quase sempre por elas mesmas. Assistir a um episódio de Alfred Hitchcock Presents, na versão original ou no relançamento dos anos 80, era descobrir de quantas maneiras um indivíduo pode se encrencar, quando se deixa tornar a pior versão de si mesmo. Não chegavam a ser lições de moral, apenas estudos que nos faziam perguntar: “Como ele vai se livrar dessa agora?”. Menos medo e mais angústia, que é um sentimento mais aceitável pelo público, podendo ser apreciado por qualquer um e fazendo do programa um grande sucesso.

ALÉM DA IMAGINAÇÃO – THE TWILIGHT ZONE (1959 – 1964)

twilightzoneCom todo o respeito à Alfred Hitchcock, que guarda merecidamente o título de mestre do suspense no cinema, mas o terror só chegou mesmo na tv através das mãos de Rod Serling. Assim como Hitchcock, Serling aparecia no início de cada episódio para apresentá-lo mas ao contrário do famoso diretor, Serling não tinha uma carreina prévia de sucesso e apostou que a qualidade dos seus roteiros fariam o seu nome. Aposta certa, já que algumas histórias da série eram tão bem escritas que permaneceram nas mentes de várias gerações de telespectadores e foram usadas pelo cinema como inspiração.

Além da Imaginação foi um mergulho sem medo ou desculpas na ficção científica. Dramas pessoais são importantes mas não interessavam Serling tanto quanto o sofrimento coletivo. Com o desejo de criar histórias lotadas de crítica social e política, era preciso encontrar um meio de burlar a censura, tão presente e intimidadora na época. A solução foi tirar os personagens da vida como a conhecemos e jogá-los em uma distopia, onde o sobrenatural era uma regra e a realidade fabricada criava episódios assustadores.

Com relançamentos em outras décadas e um filme em sua homenagem, Além da Imaginação é uma das séries mais famosas e importantes da tv. As histórias de Serling ainda nos assombram com a idéia de que por mais bizarro que o terror possa parecer, ele não só é possível de acontecer como já pode estar acontecendo, de uma forma menos fantasiosa.

THRILLER (1960 – 1962)

Boris-Karloff-ThrillerComeçou como Hitchcock, cheio de crimes e intrigas, com personagens que se deixavam levar pela imaginação, trazendo consequências catastróficas para os demais. Boris Karloff era o apresentador do programa e aos poucos as influências do cinema de terror antigo, que fizeram de Karloff um astro, tomaram conta dos episódios. O tema sobrenatural substituiu o plausível e de repente, o bem deixa de ser blindado e nem sempre vence no final.

Apesar de tensas e cativantes, as histórias se esticavam para preencher os cinquenta minutos de tempo do programa, ignorando os exemplos enxutos dos antecessores de mais sucesso. Alguns episódios tiveram o cuidado de mudar o foco da história na metade do caminho ou dividir o horário em mais de uma história, em uma tentativa de deixá-los mais dinâmicos, mas eram medidas raras e o rítmo arrastado da série pode ter contribuído para que ela só durasse duas temporadas.

A QUINTA DIMENSÃO – THE OUTER LIMITS (1963 – 1965)

Outer_limits_(TV)(1963)“Não há nenhum problema com a sua tv. Não tente ajustar a imagem”. Era com uma narração que simulava a tomada do controle do aparelho de tv, que começavam os episódios de mais uma série de terror das antigas, realizada com histórias independentes. A Quinta Dimensão usava a ficção científica na forma de monstros, alienígenas e viagens no tempo (sempre mostrando um futuro apocalíptico) para apavorar principalmente as crianças dos anos 60.

O programa merece crédito pelas suas criações e soluções artísticas, feitas com orçamento e tempo bem apertados, mesmo que os monstros e outras criações estejam obsoletos. Era extremamente popular, bem escrito e atuado e só durou duas temporadas por uma péssima decisão na grade de programação da emissora: moveram o programa de segunda para sábado, fazendo com que ele perdesse grande parte do seu público jovem.

Não é impossível curtir os efeitos especiais de A Quinta Dimensão nos dias de hoje. Qualquer criança ou telespectador mais ingênuo sentiria medo, enquanto que o resto de nós ainda teria uma ótima história para apreciar. É uma viagem na maionese, longa como Thriller só que mais acelerada. Bem realizada mas não muito famosa, por isso, muito mal conservada. É um problema encontrar episódios em bom estado.