Dirigido por James Wan
Dirigido por James Wan

Dois homens acordam presos em um banheiro, com um cadáver para lhes fazer companhia.

 

 

 

 

 

Jogos Mortais foi filmado em poucos dias e com baixo orçamento. A propaganda boca a boca, garantiu um retorno lucrativo nos cinemas. “I wanna play a game”, virou o “Hello Sidney” do novo milênio. Os críticos foram menos receptivos, classificando o filme como torture porn. Mal sabiam eles, que este seria o único da franquia com alguma substância e talento na frente e atrás das câmeras.

Adam e o Dr. Gordon acordam acorrentados em um banheiro desconhecido. Parece um banheiro, porque tem uma banheira e um vaso sanitário, mas é um lugar grande o suficiente para que eles, estando um em cada extremidade, não consigam se tocar, ou mesmo alcançar o corpo estirado no centro. Os dois não se conhecem, não sabem quem é o morto e não se lembram de como foram parar naquele lugar.

Apavorados e confusos, eles vasculham o local, dentro do limite imposto pelas correntes, em busca de algumas respostas. Cada um possui uma fita no bolso, que pode ser tocada no gravador deixado aos cuidados do cadáver. As mensagens contém um breve sermão, sobre a vida pessoal e profissional dos dois, algumas instruções vagas e uma ameaça. Vão apodrecer alí, se não participarem e vencerem… o jogo.

Saw 2O filme é um circo de horrores macabro, com câmaras de tortura disfarçadas de invenções de Rube Goldberg. No comando está Jigsaw, um vilão com uma queda para enigmas. Não basta ser terrível, nos dias de hoje, ele precisa ser criativo. Ele não tem vítimas, tem alunos, que não precisam morrer, só precisam de uma bela lição.

Por mais que aquele banheiro sujo seja envolvente, é maravilhoso sair dele em cenas de flashback, deixando a dupla com as suas teorias. Jigsaw se mostra um adversário interessante, intrigando a polícia com complexos suicídios forçados, repletos de crueldade e ironia. Um justiceiro doutrinador, consertando a humanidade na porrada. Os alvos são estudados, abduzidos e largados em alguma espelunca, com uma escolha simples, viver ou morrer. Ele espera que todos vivam e vivam melhor, ou não substituiria a própria identidade pela de um boneco em cima de um triciclo. Sua motivação? Intolerância com a desonestidade e com o desdém pela vida, própria ou alheia.

Não é impossível escapar das armadilhas, ou Amanda, uma ex-drogada, endireitada pelo jogo, não teria sobrevivido. O método, também parece funcionar, já que a garota testemunha a favor de Jigsaw para a polícia. A jornada para a liberdade é que aterroriza e não acontece sem muita dor e sacrifício.

saw1Nas ruas, detetives tentam fechar o cerco ao redor de Jigsaw. Cada corpo encontrado, é uma nova peça no quebra-cabeças, que deixa o perfil do assassino e o seu paradeiro mais claros. No banheiro, o médico já recebeu o seu ultimato. Ele tem algumas horas para matar Adam, ou vai perder a esposa e a filha. Isso aumenta a tensão e a desconfiança entre os dois, ainda mais porque Adam, não tem um dilema semelhante para resolver.

Este é o tipo de brecha que diminui o filme para mim. Eu entendo a lição de moral, mas não entendo a injustiça dos danos colaterais. Para que algumas pessoas recebam a lição que o vilão quer dar, outras pessoas precisam sofrer, ou morrer. Onde está a escolha de Adam? O que ele tem a ver com o modo como o Dr. Gordon trata seus pacientes? E quanto à família do médico, ou ao amigo que a ex-drogada teve que matar para se salvar?

Jogos Mortais é um bom filme de terror. Ele revelou o diretor James Wan, o mesmo de Sobrenatural e Invocação do Mal. Grosseiramente violento, mas cheios de propósitos, mesmo que falhos. É realmente um circo, criado para trazer o caos, com a esperança de que a ordem venha em seguida. O palhaço é assustador, mas ele não é de verdade. Quem comanda o picadeiro é um mágico, que sabe distrair todo mundo com fanfarras, enquanto realiza truques bem simples. Quem conseguir superar a dor, o medo e o choque, mata a charada.