
Um jovem desconfia que o vizinho que acabou de se mudar para a casa ao lado, é um vampiro.
O filme começa com uma exibição noturna da vizinhança, acompanhada por uma conversa bem brega. O diálogo é fictício, vem do A Hora do Espanto, um programa de terror com filmes antigos que Charlie está assistindo. A vizinhança, no entanto, deserta e sinistra, é onde ele realmente mora. Mas este clima sombrio só funciona à noite mesmo, quando as luzes das belas casas estão apagadas e as árvores se transformam em seres monstruosos, podendo nos atacar a qualquer momento.
O adolescente que vive com a mãe, só tem uma coisa em mente naquela noite. “Estudar” ao lado da namorada, que finalmente concorda em usar o tempo a sós, de forma menos acadêmica. Até que um barulho chama a atenção para a janela, de onde o garoto vê dois carregadores levando um caixão para o porão da casa ao lado.
Não sobram dúvidas, depois de uma sequência de eventos testemunhados por Charlie. Ele vê a loira entrando na casa do vizinho, enquanto ainda é dia. Escuta o grito no meio da noite. Na manhã seguinte, acompanha a notícia da morte da jovem pela televisão. Com outra garota, Charlie o vê usando as presas. Sim, é um vampiro.
Sem ofensa, mas Jerry, no cinema norte-americano, é sempre nome de contador, de professor, não de um membro da sociedade das trevas. Uma casinha em um bairro residencial e uma afinidade por maçãs, deixam o vampiro ainda mais exótico do que aqueles, donos de castelos e adeptos de capas pretas. Estes detalhes incomuns, são o início de um movimento que foi aos poucos, filme a filme, tirando os sangue-sugas da zona de conforto e deixando suas histórias menos previsíveis.
Jerry tem um ajudante, assim como Drácula tinha. Um servo fiel, que se livra dos corpos e mantém o mestre seguro durante o dia. Mas o compromisso do filme não é com a autenticidade, é com o humor e as cenas precisam ser engraçadas, até quando estamos com medo. Água benta e alho funcionam, principalmente por serem os ítens mais ridículos da lenda. O vampiro não tem preocupações, dorme o dia inteiro e se diverte a noite toda. Está sempre bem disposto e adora brincar com a comida.
Agora, A Hora do Espanto tinha sim, a ambição de ser um divisor de águas. Desde a arte na capa, existe uma fusão de diversão e elegância, que separa o filme, tanto dos seus antecessores, quanto dos slashers que dominavam a década. Cara a cara, estão um adolescente boboca e um vampiro com pinta de galã. Só que não haverá conflito entre eles, sem um representante mais sério do terror antigo, para intermediar a batalha.
O que você faria se descobrisse um monstro na casa ao lado? Certamente a primeira reação seria o pânico, que sempre nos faz agir de modo irracional. Charlie, que não quer encrenca, mas teme pela segurança da família, comete dois erros catastróficos. Primeiro, ele acidentalmente se faz notar. Depois, ele propositalmente denuncia o vizinho. Era uma manobra arriscada, que não valeu a pena, porque ninguém acredita no garoto. Mas já é tarde, eles são agora inimigos em uma terrível desvantagem.
Sem o apoio dos amigos, que o taxaram de maluco, ou da mãe, que é gentil demais para não convidar o vampiro para entrar na sua casa, Charlie não tem outra alternativa, a não ser recorrer ao assassino de vampiros do seu programa favorito de tv local. Peter Vincent (este sim, um nome apropriado para o papel), o apresentador do A Hora do Espanto, é um ator que conseguiu uma fama modesta com filmes B de terror. Ele também não acredita em Charlie, mas está falido e por uma quantia razoável, claro, Vincent aceita o papel que interpretou diversas vezes na década anterior.
O inimigo mora ao lado e não demora muito para escurecer. Também não é nenhum segredo, as diferentes maneiras como um vampiro pode ser morto. Nem Charlie, nem o diretor tinham para onde fugir. Então, como entreter, seja com sustos ou com risadas? A aposta do filme é a evolução dos personagens, que permite o avanço constante da história, mesmo com as limitações de tempo e espaço. O maior trunfo, são os atores certos para os papéis. Todos passam por mudanças, que ocorrem por necessidade. O conquistador canastrão, vira um vilão cada vez mais perigoso. O garoto assustado vira um homem corajoso e o ator esquecido, se lembra do amor que tem pela profissão.