Dirigido por John Carpenter
Dirigido por John Carpenter

Ciência e religião se unem contra uma ameaça esquecida há milhares de anos.

 

 

 

 

A segunda parte da trilogia do Apocalipse de John Carpenter, desafia o público com um novo conceito sobre a ordem no universo. Com uma bíblia na mão e uma tabela periódica na cabeça, o filme propõe que somos ainda homens das cavernas, tentando compreender o funcionamento de uma lâmpada. Nosso entendimento de bondade e maldade, seria baseado em informações parciais, falsas, ou avançadas demais para uma conclusão.

O maior desafio do filme, no entanto, é manter a concentração. Nos primeiros dez minutos, um homem morre durante o sono, um romance é ensaiado, pessoas olham o tempo inteiro para o céu, como se algo fosse cair de lá e insetos dominam a terra. Uma cena é interrompida por outra, ou pelos créditos de abertura, que nos lembram o tempo inteiro que ainda estão passando.

Em uma igreja, um padre bem velhinho é encontrado morto com um mini baú nas mãos (desses de lembrancinha de aniversário). Dentro do baú tem uma chave. O velhinho era um guardião e herdou a chave e as responsabilidades sobre ela de um outro velhinho, que herdou de outro, que herdou de outro… O próximo na lista, recebe também um diário, que fala sobre mudanças que o planeta está prestes a sofrer e o propósito da chave. Mas só ele lê o diário, a gente fica na vontade.

Prince-of-DarknessEm uma universidade, físicos formados estão em busca do doutorado. O professor deles recebe um pedido de ajuda do padre herdeiro. Juntos, os dois visitam uma igreja desativada, cujo porão esconde um livro, escrito em várias línguas e uma grande redoma, feita de um material que lembra vidro, por ser transparente, mas bem mais resistente. Dentro dela, uma substância líquida e esverdeada, gira como se estivesse em um grande liquidificador.

Sem muitas explicações, o professor disponibiliza os serviços dos seus alunos para o padre por um fim de semana. Não é a folga ideal, mas aluno precisando de nota, é mais prestativo do que estagiário esperando ser contratado e eles topam passar os dois dias na igreja.

Outras equipes de cientistas também são chamadas, assim como uma especialista em escrituras antigas, que começa a traduzir o livro, enquanto todos montam diversos equipamentos pela igreja, para fazer testes na redoma.

A essa altura, as perguntas começam a se amontoar e a falta de respostas começa a incomodar. Mesmo diante de profecias traduzidas do livro e da leitura intrigante feita pelos equipamentos, o filme não parece estar sendo conduzido por uma narrativa. Temos acesso apenas a partes de informações, que se acumulam sem fazer nenhum sentido. As coisas ficam tão estranhas que até Alice Cooper aparece no filme, liderando uma gangue de mendigos em transe, que fecham as saídas da igreja, usando móveis para formar barricadas nas portas (onde eles arranjaram móveis, sendo sem-tetos, é uma incógnita).

princeofdarkness2Dentro da igreja, alguns estudantes conseguem dormir e misteriosamente sonham com a mesma coisa. O padre, convence parte dos cientistas de que o mal, em sua mais pura forma, está prestes a se manifestar no porão da igreja. Entre tantas velas e crucifixos naquele local, as mentes brilhantes começam a ceder ao medo e a interpretar as escrituras literalmente.

Príncipe da Sombras é tão cheio de delongas, adiando explicações, que aceitaríamos a paciência dos personagens, interpretando seu comportamento passivo, como uma analogia com a necessidade de mitos, porque queremos uma resposta, qualquer resposta. Perai, essa era a idéia? Carpenter tentou reproduzir o sentimento de pânico e superstição diante do desconhecido? Se for isso, a execução do filme até agora, parece genial.

Até que uma das cientistas fica sozinha no porão e a redoma, meio que, faz xixi na boca dela. Sem brincadeira. Pode não ter sido bem essa a intenção da cena, mas foi o que pareceu para mim. Os personagens secundários, muitos deles, vão aos poucos sendo isolados e mortos. Aos principais, resta lidar com os colegas zumbificados e com o príncipe em questão, por mais que não exista uma definição sobre como ele vai aparecer, quando, ou o que isso vai desencadear fora da igreja.

Algumas cenas originais, muitas idéias interessantes, mas elas pipocam pelo filme inteiro sem um propósito que as una. Acaba que os mendigos nunca foram contaminados com o líquido da redoma, nada cai do céu e o sonho compartilhado, que eles pelo motivo que for, deduzem ser um aviso vindo do futuro, é vago demais para ser decifrado. Depois de algum tempo, a história poderia ser contada por uma criança e teria o mesmo efeito: “aí… os mendigos matam um homem, depois um monte de insetos come outro homem… aí… um passarinho fica na cruz… aí… alguns mortos levantam e uma mulher fica grávida… aí… a moça empurra a grávida para dentro da luz que sai do espelho… mas a mulher não está mais grávida…aí…”