
Um detetive é contratado para localizar um escritor desaparecido, já que os seus leitores estão enlouquecendo de tanto esperar pelo próximo livro.
Carpenter começa o filme em ritmo de heavy metal e coloca o personagem principal em um hospício. A coisa está tão feia do lado de fora, que o paciente, doido ou não, decide ficar por lá mesmo. Agora, estando ou não maluco, é impossível fazer desenhos no corpo com um giz de cera. Mantenha isso em mente, porque pode não ser um erro do filme, mas uma pista de como ele realmente termina, para quem fica em dúvida.
John Trent era muito bom no que fazia. Trabalhando como investigador para uma companhia de seguros, sua função era desmascarar clientes golpistas. Um dos clientes da seguradora, uma editora de livros, pede a ajuda de Trent para localizar um escritor que desapareceu, junto com o livro que escreveu mas não entregou.
A cena que mais se parece com um pesadelo, é bem real. Dois homens conversam em um restaurante e no fundo, um lunático com um machado se aproxima. As pessoas ao redor não fazem nada, porque não acreditam no que estão vendo, mas os dois homens só notam o doido quando ele já está bem próximo. Minha única reclamação é que a cena tem cortes e isso diminui o seu impacto. Por outro lado, muitas coisas que parecem reais, são pesadelos do protagonista. É um efeito colateral dos livros que ele precisa ler, para o seu próximo trabalho.
Sutter Cane, o procurado, é um escritor de livros de terror, vistos como uma droga poderosa e bem sucedida. Suas obras vendem muito e o seu público só aumenta, apesar de rumores de que após a leitura, seus fãs apresentam desorientação, perda de memória e até surtos paranóicos. A editora está em pânico, porque o desaparecimento do autor atrasa o lançamento do livro e causa prejuízos, mas os leitores, constantemente desorientados, paranóicos e esquecidos, estão desesperados a ponto de destruir livrarias e sair por aí matando gente inocente. O caos toma conta das ruas. Nem Harry Potter era tão aguardado.
Fontes seguras dizem que o novo livro fala sobre o fim do mundo. Cane não é descrito como um autor genial, apenas popular e altamente viciante. Mesmo assim, me incomodaria se o personagem fosse só reputação e o filme não mostrasse pelo menos um pouquinho do que está causando tanto frenesi. Incomodava Trent também, até que ele entra, sem querer, em uma das histórias do escritor.
Partindo de pistas encontradas no livros antigos de Cane, o detetive encontra uma cidade pequena que até então, todos acreditavam ser fictícia. Toda a geografia da cidade, nomes de locais e pessoas, haviam sido descritos nos livros. Os poucos moradores que encontra, agem de maneira estranha e violenta, não contra ele, mas uns com os outros. Trent começa a acreditar que tudo não passa de um golpe publicitário, mas Linda, a funcionária da editora que o acompanha, tendo informações privilegiadas, saberia se a viagem seria apenas uma encenação.
Linda testemunha sozinha as bizarrices do local, enquanto Trent está sempre ausente ou distraído. Como naquele desenho do sapo do Pernalonga (Hello my baby, Hello my honey), que dá um show musical quando está com o dono, mas fica quieto se aparece mais alguém. Ela está convencida de que eles estão vivendo a adaptação dos livros do autor, ele está convencido de que ela está mentindo.
O escritor aparece eventualmente, tão megalomaníaco quanto sua fama permite, mas poderoso demais para ser uma fraude. Sua influência vai além de causar delírios em fãs impacientes. Trent percebe isso, quando vê a cidade inteira vivendo como os personagens dos livros, se recusando a ter um propósito fora do que já foi escrito.
À Beira da Loucura fecha a trilogia de Carpenter com a criação de um Deus. Um homem venerado por todos, cuja palavra acaba virando a verdade. É a descrição do fim dos tempos com os loucos no comando. E se a maioria das pessoas acreditasse que histórias de terror são verdadeiras? O resto do mundo teria que se adaptar a nova realidade? A melhor coisa que Trent pode fazer para se salvar, é ser fiel a sua natureza de investigador e continuar cético.