No meio de uma floresta mexicana, um grupo de turistas se aventura em busca de uma experiência cultural inédita. Cansados de alternar os dias entre praia e piscina, eles saem sem avisar ninguém com o objetivo de encontrar as ruínas de um templo Maia, completamente fora do circuito de visitações, por ser supostamente uma descoberta arqueológica recente. O antigo local de culto não os espera, não espera absolutamente ninguém, mas turista invadindo território proibido, é uma tradição inquebrável neste planeta. O convite partiu de outro intruso, tão estrangeiro quanto eles, um homem que eles acabaram de conhecer. A regra diz que se um estranho se aproxima com uma proposta boa demais para ser verdade, certamente é uma cilada. Só que a armadilha para o clichê é anulada, quando nem o estranho sabe no que está se metendo. 

As Ruínas possui todos os elementos de terror tradicional, mas nada dos maus hábitos. A situação é perigosa, tensa e com um argumento nitidamente sobrenatural, só que sem os esteriótipos de produções semelhantes. A linha que separa mocinhos e vilões não existe e grande parte do filme funciona na base da presunção. O que a turma acredita, acreditamos, porque temos as mesmas poucas informações que eles. Sem violência desnecessária… dentro, é claro, do universo do terror onde o ato é muitas vezes a força que move a história. Pela descrição do plot, parece não apenas genérico, como ruim e pela arte da capa, que reforça esta imagem negativa com sucesso, não dá para imaginar um filme acima da média, mas é exatamente disso que se trata.

O caminho até a região secreta é longo, distante da civilização, de difícil acesso pela mata, confuso geograficamente… o que deveria servir de alerta, ou ser uma coleção de alertas para pessoas que nunca fizeram este tipo de exploração. Pessoas sem suprimentos suficientes ou roupas adequadas. Que falam pouco espanhol e nada da língua que irão encontrar pela frente, mas enfim, o que realmente vai despertar os primeiros sinais de dúvida na cabeça de todos, é a população encontrada pela trilha. O comportamento dos nativos não chega a ser hostil, mas não é receptivo, como o de anfitriões relutantes, que conseguem ficar apreensivos sem demonstrar claramente, enquanto observam a movimentação dos forasteiros com cuidado. Se chegou gente de fora até aquele ponto, é melhor deixar que sigam com a esperança de que eles errem o caminho, voltando para o hotel frustrados, sem terem encontrado o que vieram ver; ao invés de ativamente impedir o acesso e acabar atraindo ainda mais curiosos no futuro. Se tudo der errado e os turistas chegarem ao destino maldito, os descendentes do povo adepto dos sacrifícios estarão por perto, para se certificar de que as notícias sobre o lugar não se espalhem. 

Geralmente, quando vemos este tipo específico de santuário, como uma pirâmide com o topo reto, a cor que predomina no exterior é a das pedras usadas na construção, já que o vai e vem de visitantes e estudiosos mata os arbustos, mas a visão desta obra é verde, porque a vegetação que a encobre parece intacta, como se a interferência humana fosse inexistente, mas isso é impossível, mesmo que seja um achado novo para os de fora. Existe um vilarejo ao redor e o sobe e desce das escadarias, dos remanescentes religiosos ou crianças e adolescentes curiosos, por centenas de anos, jamais deixaria o mato tomar conta de uma maneira tão viva e agressiva. Quando os invasores chegam naquele lugar, que aparenta ser mágico de tão intocado, é que eles são finalmente abordados pelos herdeiros de uma cultura que precisa manter o templo intacto. Quando um daqueles protetores acidentalmente entra em contato com a relva e é rapidamente “neutralizado”, é que os turistas entendem a razão real, do que poderia ter sido visto e respeitado como um forte senso de preservação, mas somente antes de eles mesmos colocarem as mãos onde não deveriam. Real ou parte de um folclore, a contaminação não será ignorada e eles não podem mais sair dali.

Detalhes visuais são importantes e fazem do filme uma experiência coerente, sem que o público fique saturado com diálogos informativos. Por exemplo, do pé da pirâmide dá para ver que um acampamento foi montado, mas não é necessária uma busca por arqueólogos. No topo há uma abertura para a entrada, mas a corda utilizada em um mecanismo bem montado e útil, por pouco não alcança o chão. Não seria um problema para quem pode dar um pequeno salto na descida, mas eles também precisam subir e podem não estar com o corpo intacto para fazer na volta. Crianças acompanham mães, que acompanham brutamontes armados cercando os amigos em quarentena. Dá para notar que ninguém ali quer ser forçado a agir, apenas esperar. Eles sabem que tem um celular por satélite em algum lugar, mas com tanta planta ao redor, não é possível encontrar sem o barulho de uma chamada. 

O filme tem gente suficiente para gerar problemas e soluções. As decisões são inteligentes, porém continuam sendo questionadas, apenas para eliminar dúvidas. Conflitos não ultrapassam a intensidade e o tempo determinados pelo bom senso. No entanto, não é apenas sobre entender o que funciona, o que não insulta a inteligência e seguir uma cartilha segura para garantir bons resultados nas telas. Com um tema bem parecido e lançado no mesmo ano de Fim dos Tempos, este é bem mais competente e assustador, ao mostrar a inversão da dinâmica do homem versus o que o homem sempre considerou inofensivo. O melhor é que foi feito com menos fanfarra, menos grana e sem recorrer a personagens superficialmente agradáveis. Com um pouco de humildade, você pode até fazer uma planta “falar” em um filme de terror, sem temer ser taxado de ridículo.

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