
As noites de Natal costumam ser violentas, na famosa mansão da cidade.
É um filme muito mal conservado e isso pode ter sido culpa do clima amador que algumas cenas possuem. É como se ele não fosse merecedor dos cuidados que outros clássicos desfrutam, o que resulta em imagens e trilha sonora cheias de falhas. Não é também como se o enredo do filme ajudasse no entendimento. Complexo não é uma descrição justa. Noite de Sombras é complicado, mentiroso e com tantos buracos na história quanto um queijo suíço. Um filme muito escuro e cheio de segredinhos para ter um final satisfatório, mas de alguma forma, ele alcança o seu objetivo, que é o de manchar a data natalina de sangue, com uma história mais apropriada para ser contada durante o Halloween.
Em alguns momentos é um filme estudantil, em outros é uma obra prima hollywoodiana. Para algumas perguntas, as explicações são cheias de detalhes, para outras, elas não existem. Se este é um filme para ser visto mais de uma vez, o propósito não pode ser nada além de apreciação, porque a segunda sessão não seria mais esclarecedora do que a primeira. Quando o filme termina, existe um entendimento geral sobre o que estava acontecendo e sobre o motivo que provoca um banho de sangue na cidade, só não sabemos os detalhes de como tudo é possível.
Na tarde do dia 24 de dezembro, Wilfred Butler sai de dentro da sua belíssima casa com o corpo em chamas. A casa permanece intacta e assim ela ficará pelos próximos vinte anos. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu e ninguém quer saber. O relatório do legista, muito breve e simplório, contraria a anormalidade da morte. No testamento, a mansão é deixada para Jeffrey, o neto de Wilfred, que não dá muito valor ao imóvel, até que precise muito de dinheiro duas décadas depois. Ele envia um advogado para a cidade para vender a propriedade, provocando o desconforto de alguns moradores locais.
Noite de Sombras é um slasher sobre vingança direcionada a uma cidade, exceto pelas duas primeiras mortes, que acontecem com forasteiros, mas não se trata de violência aleatória. As vítimas estão instaladas na casa e é uma incoveniência para o assassino, mas não é só isso. As circunstâncias da morte são peculiares, porque a dupla chega a se separar por alguns instantes no local, sem correr perigo. A união é o problema. Algo sobre as vítimas, sobre o que elas fazem juntas, despertam no assassino uma mistura de ódio e vergonha, mas isso só passou pela minha cabeça quando o vilão se revelou e revelou seus motivos no final do filme. O queijo fica menos esburacado quando algo aparentemente trivial começa a fazer sentido, depois que os créditos rolam.
Não é a mais populosa das cidades, mas com certeza ela possui alguns dos moradores mais excêntricos que eu já vi. O azar financeiro de Jeffrey, é visto pelos mais velhos como uma oportunidade de comprar a mansão por um preço razoável e eles comprariam em conjunto mesmo, só para ter o direito de demolir o local. A verdade é que a mansão Butler é um lugar limpo periodicamente, conservado com respeito e protegido de acordo com a lei, mas extremamente odiado. As únicas pessoas que gostariam que a propriedade permanecesse intocada são um paciente que escapa do hospício, assim que fica sabendo que o local será vendido e o velho Butler, mas este morreu faz tempo e nada pode fazer a respeito… eu acho… a casa pode ser mística, mas não é mal assombrada… eu acho…
Diane, a filha do prefeito, é quem conta a história de forma melancólica e incompleta. Fascinada com a casa, com o pai e finalmente com Jeffrey, que resolve aparecer na cidade confundindo mais do que esclarecendo, ela é a maior enganada da história. A narrativa parece confusa e é de propósito e nem aquela longa sequência de flashback no final desata todos os nós, porque quando percebemos que as versões não batem, todos estão mentindo. Não era a decisão correta que Diane tivesse a responsabilidade de nos servir de guia, quando nem ela tem toda a informação, mas era a única alternativa. Só sobrou ela, em uma história onde todos sussurram, como se estivessem com vergonha de alguma coisa. Como se estivessem no lugar errado, vivendo as vidas erradas, no filme errado e definitivamente na data errada.