
Nas montanhas geladas da Finlandia, escavadores descobrem o verdadeiro espírito natalino.
Este é um terror para assistir no final do ano. As mortes são discretas, há mais sangue de animais do que de pessoas e até o bom velhinho faz uma participação especial. Apesar de que, de “bom” ele não tem nada. É um conto apropriado para a época, com mais atenção para o drama, do que para o medo. Eu só não o recomendo como diversão para toda a família, por conta da quantidade absurda de genitálias masculinas que o filme mostra.
Pietari é um menino que mora com o pai, no pé de uma montanha coberta de neve. As residências ao redor, ficam longe e não são muitas. As crianças dirigem e carregam armas, os adultos trabalham duro. É uma comunidade muito unida e muito pobre, que depende da caça para se sustentar.
No topo da montanha, uma equipe de escavadores enche o local de buracos, recolhendo amostras do solo. Depois de encontrar serragem e gelo no lugar de rochas, o responsável pela escavação mostra um entusiasmado muito grande, como se soubesse exatamente o que está enterrado alí. Faz com que a gente questione, se as histórias que Pietari tem lido ultimamente nos seus livros, são realmente fictícias, sobre um inimigo com fama mundial e uma reputação bastante desonesta.
Faz sentido que o menino, seja o único a temer a chegada do dia 25. Ele tem problemas bem reais, como lobos selvagens roubando o seu jantar e a ausência da mãe. Sua mente, no entanto, é muito infantil para a própria idade e prefere viver no faz-de-conta a encarar o mundo real. Ele ainda acredita em Papai Noel, age como se o seu bichinho de pelúcia fosse de verdade, e não abre os olhos de jeito nenhum, enquanto o pai corta um porco em pedaços na sua frente. É como se ele não pertencesse àquele local quase inabitável, cheio daquelas pessoas ásperas.
Ele também acredita nas lendas macabras, recheadas de violência, que mancham a imagem do personagem natalino. Pietari é um finlandês, assim como o Papai Noel. Pode ser um menino avoado, mas deve saber mais sobre o assunto, do que o resto de nós. Na verdade, sabe mais que o restante da vila, já que, sendo uma criança fantasiosa, consegue primeiro enxergar o mito, para depois saber realmente o que ele é.
Grande parte do filme, é dominada pela relação do pai com o filho. Por mais que Rauno, o pai, seja um brucutú, ele e o menino não tem um grande conflito para resolver. Praticamente por conta própria, eles são um retrato da cultura local e interessantes o suficiente, para nos entreter enquanto o vilão não aparece. Nem podemos ter certeza do que aconteceu à mãe de Pietari, mas não importa, porque não faz mais parte da rotina da casa.
Ninguém está deixando de fumar, beber ou falar palavrão. Não é como se o bom comportamento, trouxesse algum benefício para os moradores, que já estão com a corda no pescoço pela situação financeira. Eles culpam as explosões dos escavadores, apesar do silêncio dos últimos dias na montanha. Mas se a rebeldia ajuda a liberar algumas frustrações, ela não é muito bem vista, pelo poderoso sujeito que se aproxima. Este não só deixa de presentear os que não foram bonzinhos, ele os pune.
As marcas de pegadas descalças, estão aparecendo na neve embaixo das janelas. Animais estão sendo atacados e sacos de batata, sumindo. Um velho mendigo, sem roupas e com uma barba comprida, aparece testando as leis da natureza diante de alguns adultos. Pietari está apavorado, porque tem certeza de que ele está ali por sua causa. Mesmo sendo o mais bem informado, ele não foi exatamente um bom menino. Sua consciência carrega uma mentira grave e isso pode custar a sua vida.
É um pouco macabro, mas ainda é um conto natalino. O mal será derrotado pela criatura mais inocente, do modo mais implausível, como em uma comédia de fim de ano. Papai Noel das Cavernas é só um arranhão, em um gênero que pode viver esfaqueado o restante do ano. Até o nome em português, o separa de outros filmes de terror com o mesmo tema. O pior que pode acontecer aqui, é algumas pessoas perderem o cinismo em relação aos contos de fadas, e outras pessoas, suprirem a grande demanda de papais noéis, nos shopping centers do mundo todo.