
Após ser atacado por um lobo, um homem muda física e mentalmente.
Michael Jackson ficou tão impressionado com este filme, que pediu para John Landis dirigir o videoclipe de Thriller. O rei do pop se curvou em respeito a uma certa cena de transformação. A mesma cena que fez a Academia de Artes e Ciências de Hollywood, homenagear pela primeira vez, a categoria de maquiagem com um Oscar.
Não é por caipirice que os bêbados do pub rejeitam a presença da dupla de viajantes. De férias pelo norte da Inglaterra, Jack e David esbarram na resistência da escassa população local, supersticiosa até para responder as perguntas menos ofensivas. Com suas mochilinhas, os amigos famintos e cansados continuam buscando um lugar para encostar, depois de passar o dia andando pelas montanhas.
Landis tem a habilidade de causar pavor com recursos bem simples. Duas pessoas andando pelo campo no escuro. Um uivo, uma conversa mole para disfarçar o medo e o barulho da chuva é tudo o que se escuta. Como Dorothy, saindo da estrada de tijolos amarelos, eles ignoram os únicos conselhos que conseguiram arrancar no bar e se perdem. Sem árvores altas para esconder nada, sem trilha sonora para avisar, a criatura ataca. Jack é devorado e David, gravemente ferido.
Três semanas depois, David acorda com alguns ferimentos em um hospital. A polícia e os médicos o informam que ao contrário do que ele acredita, não foi um cachorro gigante que o atacou e sim um lunático. David está longe de casa, desacreditado, tendo diversos pesadelos, um mais divertido do que o outro e começa a ver e conversar com o companheiro de viagens morto, que está mais podre a cada visita. Mas nem tudo está perdido, pois a enfermeira bonitona já se mostrou uma ótima companhia, pelo menos até a próxima lua cheia.
A cena é inesquecível, um verdadeiro parto. Ele sente muita dor e muito medo, nós ficamos maravilhados e solidários ao mesmo tempo. Os efeitos visuais, ainda magníficos, se aliam ao desespero de David e não conseguimos desgrudar os olhos da tela. Ossos se esticam, pelos se multiplicam e o lobisomem nasce, depois de quase uma eternidade de sofrimentos. Rick Baker é o cara!
Ninguém perde tempo em Um Lobisomem Americano em Londres. As regras sobre o monstro são introduzidas casualmente, mas sem que se perca o bom senso. Ninguém fora de vilarejos fictícios, acreditaria na história que está se desenrolando no filme. A aceitação da lenda não é apressada, assim como cenas que nos conectam aos personagens, mas não somos enrolados com detalhes que só deixariam o filme mais longo. Vítimas não demoram para morrer, a não ser por uma, em uma sequência no metrô de Londres quase vazio, que mesmo sem surpresas no desfecho, tem uma execução de acelerar o pulso.
Jack não quer aparecer o tempo inteiro, ainda mais se decompondo, mas não tem alternativa. Enquanto a raça que o matou existir, ele não consegue descansar. Os dois amigos não perdem o bom humor, aliviando as cenas que fazem juntos, mesmo que o tema delas seja assassinato e suicídio.
Eu me perguntava por que ele tinha que ser americano e não britânico. Por que o filme não poderia ser apenas “Um Lobisomem em Londres” ? Eu acredito que o choque de culturas desempenha um papel no filme. Quando David suspeita, mesmo sem se lembrar, que é o maníaco que aterroriza a cidade, ele tenta ser preso, mas esbarra no cavalheirismo inglês. Uma perseguição seguida de batidas violentas de carro, típica de Hollywood, consegue ser ainda mais sangrenta com a população londrina. Essa aliás, é uma cena épica, como muitas outras neste filme imperdível.