Quando alguém pergunta o que você levaria para uma ilha deserta, faça o seu melhor para não dar uma resposta prática. Ninguém quer ouvir barco, telefone por satélite ou qualquer outra das suas soluções sem graça para sair com segurança do local. Quem pergunta sempre quer ouvir as respostas poéticas, como os livros que você não vive sem. Ignore a eletricidade e fale dos melhores filmes do mundo, porque ninguém tem dúvidas sobre o que é preciso fazer para vencer a fome ou a sede. O enigma é o que você faria para esquecer a solidão. Tom Hanks tinha o Wilson. Jenn tem um anfíbio gigante e selvagem, que sai do mar todas as noites para caçar.

O Mistério da Ilha não perde tempo em nenhum momento e já começa com a náufraga vomitando água na areia da praia. Rapidamente ela mapeia o local, percebendo que se trata de uma ilha inabitada e não muito grande. Dificilmente seria o destino de alguma embarcação, mas por incrível que pareça, lá estão alguns sinais de turismo, como um cooler com refrigerante e outras utilidades. Eventualmente a maré traz o suficiente do que precisamos saber sobre o acidente, como bagagens e corpos. Não é extraordinário que a ilha atraia tudo o que boia, ou que grande parte da família que visitou o lugar recentemente esteja morta. O curioso é que eles tenham sido enterrados e que não existam vestígios de quem os enterrou. Enquanto deixamos de lado o desperdício de coca-cola e questionamos onde estaria o último corpo, Jenn está mais ocupada do que curiosa. Ela é ágil, encontrando comida, água, fazendo fogo e também enterrando quem encontrou do próprio grupo. Primeira noite… segunda noite, um avião de pequeno porte passa como um anjo no céu, anunciando a possibilidade daquela ser uma rota frequentada por vários outros do mesmo tipo. É só ter paciência e manter uma rotina saudável até o resgate. Aí ela dispara o sinalizador e a luz vermelha que ilumina a escuridão revela a silhueta da criatura que se aproxima.

Não é sempre que temos um filme legítimo de monstros no gênero, como os da era de ouro de Hollywood. A escolha de manter a configuração de um desses bichos, no caso, o de O Monstro da Lagoa Negra (The Creature From The Black Lagoon – 1954), com sua carinha de peixe e físico emborrachado, que deixaria desconfortável até o mais comprometido dos atores, mas, obviamente utilizando as mais modernas ferramentas de maquiagem e efeitos visuais para não passar vergonha, foi uma homenagem clara e muito bem vinda aos clássicos da época. Melhor ainda é atualizar muito mais do que a aparência do dito cujo. Ele nunca tem muito tempo de cena, mas quando aparece é imponente, articulado e apavorante. Diferente do avô da lagoa, que demorava alguns minutos pra se aproximar das vítimas, ele é ligeiro correndo e ainda mais nadando. Não é nem de longe a companhia que Jennifer gostaria de ter para não ficar entediada, mas o que o diretor sugere, de uma maneira muito sutil, é que talvez um monstro tenha sido exatamente o que a jovem precisava.

A Bruxa de Blair causava um efeito semelhante. Por mais que exista uma certa segurança durante o dia, o cenário ainda é inescapável, então ninguém relaxa. O filme sempre é tenso durante as cenas diurnas, porque sabemos o que vai acontecer ao cair da noite. O monstro sabe que tem alguém vivo na ilha. Por quanto tempo a garota vai conseguir se esconder? Quando a sorte dela vai acabar?

Falando a mais absoluta verdade, baseado no que aprendemos pela boca de terceiros, é justo dizer que Jenn não é a mais qualificada para se tornar uma heroína em um filme de terror. É fácil identificar o tipo de pessoa, porque todo mundo tem pelo menos uma Jenn no grupo de amigos e duas entre os colegas de trabalho. A chata, a reclamona. Quando não sente a segurança necessária para arrumar encrenca, fica no canto da festa, emburrada, esperando alguém perguntar qual é o problema. Como define quem a conhece bem: “uma nuvem negra paira sobre sua cabeça e te segue para todos os cantos”. Se este for realmente o caso, a Ilha em questão se torna um tremendo tratamento de choque, porque lá não há como terceirizar o que precisa ser feito. É engraçado ver como algumas personalidades mudam, quando não há ninguém por perto para ser impressionado ou explorado. Tire as muletas do falso aleijado, solte os cachorros atrás dele e veja se ele permanece parado. Se ninguém tivesse mencionado a frustração que ela costumava causar, a “sweetheart” (querida) poderia ter me enganado.