Antes de qualquer coisa… quem mais AMOU a nova vinheta de abertura da Blumhouse Productions? Eles deram uma renovada nas imagens, mas mantiveram o tema: “o máximo possível de referências em poucos segundos”. A produtora especializada em terror, apesar de financiar tudo quanto é estilo, continua na dianteira dos lançamentos mais variados do gênero, às vezes de maneira muito bem sucedida como em Corra (Get Out – 2017) e Sobrenatural (Insidious – 2010) e às vezes apostando em obras que não souberam aproveitar muito bem a premissa, como Ma (2019) ou as diversas sequências de Atividade Paranormal. Seria uma pena se a estreia da nova arte de abertura da companhia, antecedesse uma produção decepcionante, mas isso não aconteceu, já que o filme em questão pode ser um dos melhores terrores do ano, na minha opinião.
Os meninos da vizinhança estão desaparecendo. Cartazes são espalhados pelas redondezas e renovados quando necessário, por um tempo, até que o sumido mais recente se torne a maior preocupação da polícia, enquanto os mais antigos só sejam lembrados pelos próprios pais. As vítimas são escolhidas pela oportunidade, mas são os anos 70, sem celulares e sem a paranóia dos dias de hoje, que faria pais que trabalham fora acionarem avós, amigos e até vizinhos, para acompanharem a molecada em qualquer canto, portanto, oportunidade é o que não falta para um maníaco em uma van preta, que não levanta suspeita alguma, mesmo circulando pelas escolas no horário típico do fim da aula, exibindo as melhores máscaras da coleção de Tom Savini.

Quando Finney pergunta para a irmã se ela acredita na possibilidade de que o amigo abduzido, Bruce, será encontrado e ela responde categoricamente: “Não em boas condições”, dá para perceber que Gwen é diferente. Especial até, diriam os que olham para a habilidade da menina, de sonhar com coisas terríveis que se tornam realidade, como uma dádiva. Corajosa e combativa, ela é o oposto de Finn, que tem a Nasa como um sonho de carreira e grandes chances acadêmicas de alcançá-lo. Um nerd tímido o suficiente para quase passar despercebido como a estrela do filme, mas não para despistar bullies. A sorte é que o mais violento deles precisa de um tutor, então a ordem é que ninguém encoste no garoto. É uma pena, no entanto, que a proteção do valentão não se estenda até a casa dos meninos, onde eles não são livres nem mesmo para mastigar em paz, para não irritar o pai alcoólatra e traumatizado, que enxerga em Gwen os mesmo dons sobrenaturais que levaram a mãe das crianças ao suicídio.
Ethan Hawke está tão monstruoso quanto um sequestrador de crianças deve ser. Eu não me lembro de ter visto o ator, em nenhum momento da carreira, desempenhando de uma maneira tão ameaçadora um papel. Uma decisão mais do que acertada, foi ter escondido aquele rosto padrão Hollywood, que sempre transmitiu beleza e doçura, pela maior parte do filme. O personagem, apelidado de “agarrador” pelo comitê regional de apelidos a serial killers, é um vilão que já se especializou em acalmar a vítima com lorotas que não fazem nenhum sentido. Algo como: “Eu te peguei a força e te coloquei no meu porão, mas eu jamais te machucaria…”. Numa tarde após a escola, ele sequestra Finn e começa um jogo mental cruel, que não tínhamos conhecimento até então, de que era a norma para todos os garotos. O tal objeto que dá nome ao filme, fica preso à parede do cativeiro, desconectado de uma linha há anos, como explica o maníaco e ele não está mentindo desta vez. A última coisa que todo mundo esperava, incluindo o agarrador, é que o telefone começasse a tocar assim que Finn fica sozinho no local. Aparentemente o menino é especial como a irmã. Talvez até mais do que ela!

O Telefone Preto (ainda não acredito que mantiveram o nome original) é adaptado de um pequeno conto de Joe Hill, filho de Stephen King. Geralmente, quando a fonte de inspiração é curtinha, a história tende a ser criminalmente esticada e o filme se arrasta, mas felizmente não temos este erro aqui. Enquanto torcemos para que Finn escape o mais rápido possível, o filme prende e entretém o público em cada cena. O único problema é que não ficamos apavorados todas as vezes que deveríamos. Sob a direção de Scott Derrickson, de Doutor Estranho e O Exorcismo de Emily Rose, a narrativa mantém o suspense com muita competência, mas o terror perde um pouco do fôlego a cada aparição sobrenatural, que poderia permanecer apenas como uma ligação telefônica. É um pouco King demais, para o próprio bem.
Hawke não é o único a brilhar neste filme, como um homem de carne e osso que almeja ser um demônio. Ele está acompanhado de dois excelentes atores mirins nos papéis principais. Como Finney e Gwen, as crianças atuam sem medo e sabendo exatamente o que estão fazendo. O filme é exigente física e emocionalmente, com cenas ousadas envolvendo crianças e sangue suficiente para chocar qualquer faixa etária no público. Sem todo um elenco talentoso e bem instruído para carregar o peso de uma história tão violenta nos ombros, o filme poderia falhar ao exigir de nós mais do que interesse superficial. O sucesso aqui, é atrelar ao drama todo os elementos fantasiosos e fantásticos da história.