Pois é, já são um pouco mais de dois anos de ausência e eu imagino que você tenha se sentido abandonado. Durante esse período, não se enganem, eu sabia exatamente o que eu estava deixando passar, mas isso não quer dizer que a sensação de desconforto foi constante, a cada vez que um novo título do gênero estreava. Apesar de continuar pagando o domínio, eu demorei para acessar o blog novamente, ainda que fosse só para dar uma olhadinha. No final de 2.019, o cansaço tomava conta de mim e eu me via lutando para escrever sobre algo que eu amo. Algo que costumava ser fácil. O que estava acontecendo? Um crítico de cinema, que se propõe a analisar somente filmes de terror, é antes de qualquer coisa, um estudante do medo. O que eu não sabia é que terror sem intervalos, drena qualquer pessoa.

Eu queria um período de separação amigável. Era preciso sair com outros gêneros de filmes, namorar umas séries. Qualquer coisa que não tivesse muito sangue. Eu queria ler um clássico qualquer, ver antigos concorrentes ao Oscar, mesmo que a premiação não fosse o parâmetro para o que eu buscava. Eu definitivamente tinha uma necessidade enorme de estudar, já que a minha profissão exige renovação constante. Falando nela, quem poderia imaginar que durante uma pandemia que levou tantos e deixou outros tantos sem emprego, o meu trabalho (em uma emissora de televisão) seria considerado “essencial”. Eu trabalhei muito, ao ponto de desenvolver um problema sério e persistente no braço que segura o mouse. O braço que segura a caneta. Sim, o Muito Molho é abastecido por textos escritos no papel, para depois serem digitados no computador. Neste departamento eu sempre fui um pouco antiquada e o meio ambiente sai perdendo. 

Assistir a um filme não é o mesmo que assistí-lo para escrever sobre ele. Havia também o desejo de desligar temporariamente a chave crítica, o que me deu a liberdade para assistir tudo e manter as minhas opiniões só para mim. Dá pra acreditar que eu ainda não tinha visto Dogma (1.999) do Kevin Smith? Que tipo de auto-proclamada “fã de Kubrick” ignorou Spartacus (1.960) por décadas? Esta cinéfila de araque, já deixava um monte de coisas passar e a especialização no terror, permitiu que esse desleixo tivesse uma justificativa aceitável. Como foi bom finalmente conferir filmes dos quais eu ouvia falar desde a pré-adolescência, como O Discreto Charme da Burguesia (1.972) e Muito Além do Jardim (1.979). Que ótima surpresa foi Palm Springs (2020), um independente que quase ninguém viu e que decepção foi Esquadrão Suicida (2016), antes de adicionarem um artigo ao título, na nova versão deste ano. 

Entre um lockdown e outro, eu via todas as categorias, inclusive a favorita, mas eu me certificava de que gritos e sangue não fossem uma atividade diária, mesmo que as minhas ocasionais visitas ao blog, mostrassem que tinha bastante gente lendo os textos antigos, ainda. Por incrível e hilário que pareça, as comédias românticas viraram um poderoso entorpecente, no final de longos dias com a máscara no rosto. Não foi até eu me pegar procurando um “terror para relaxar”, que ficou claro que todos os gêneros de filme merecem a minha atenção, mas apenas um é a mais eficiente terapia. A verdade é que, lugares escuros ainda são desconfortáveis, mesmo depois dos quarenta. As crises de ansiedade, no entanto, que costumavam atacar com qualquer passo fora da zona de conforto, em qualquer área da minha vida, se tornaram mais suaves e melhor administradas com o passar dos anos. O mérito vai em grande parte para o mais eficaz identificador de gatilhos que eu consegui encontrar. Se eu puder dar um conselho de coração aos meus leitores, é que não fujam dos gatilhos; trabalhem com eles. São uma ferramenta importante de amadurecimento.

Agora, convenhamos que nem todo filme de terror precisa ser criticado com uma base cheia de complexidade. Eu ainda sou uma cagona (perdão), mas o meu amor pelo gênero não aconteceu apenas porque eu sinto que preciso dele. Terror ainda é para mim a categoria de filmes que mais diverte e desperta a vontade de falar e ouvir a respeito. Eu assisti e gostei muito de Duna (2.021) e adoraria ouvir sobre ele, mas eu prefiro falar sobre Guerra Mundial Z (2.013), um filme do qual eu nem sou tão fã e eu não preciso ser. Tem zumbis rápidos nele, se é que você entende a minha devoção! Há mais ou menos dois meses, eu vi um filme de terror sobre o qual eu postarei em breve, que me fez pela primeira vez em muito tempo, caçar folhas e uma caneta e escrever sobre tudo o que ele estava me fazendo sentir. No final do filme, eu percebi que não era uma obra prima, mas o meu braço estava doendo, como dói agora e eu passei a ensaiar um retorno a este local. Eu continuo sem muito tempo para tantas atividades, mas aprendi uns exercícios muito bons para tendinite. O lance é saber administrar bem os meus compromissos, porque este aqui sempre será muito importante para mim. Eu estou reativando o Muito Molho, com a meta de colocar pelo menos um texto novo por semana no site. Quero muito voltar a falar com vocês, se ainda me permitirem este privilégio. Se for tarde demais, é uma pena porque eu vou continuar aqui e você vai perder um lugar que, ao contrário de muitos festivais e premiações badaladas por aí, presta a um gênero marginalizado o respeito que ele merece.

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