É um pássaro? É um avião? Não! É só um alienígena mal-intencionado.

Neste ano mesmo, nós tivemos um moleque maldito com planos perversos, acabando com a própria família no esquecível Maligno (The Prodigy). A gente realmente precisa de outro deste tipo, como são tantos filmes lançados ano após ano, sobre uma criança que disfarça a monstruosidade até a puberdade atacar? Não dava para pelo menos esperar até 2020? Acontece que Filho das Trevas não é um filme que segue caminhos já percorridos, quero dizer, você vai ver uma montagem feita com os vídeos caseiros dos pais, mostrando os melhores momentos da infância, do tipo que mostra a calmaria antes da tempestade e isso não é exatamente inédito. Você também sabe que assim que a vela for assoprada, ela não representará mais um ano de vida e sim o início do fim dos bons tempos, mas existe algo no modo como este filme foi idealizado e realizado, que faz com que o público sinta que a família em questão, já era um grupo de pessoas queridas muito antes do filme começar. O garoto mata, mas é quem ele escolhe matar e como. Me desculpem pelo mini spoiler, mas é impressionante que o bully da escola não seja a primeira vítima! É um filme que não dói só pela violência, mas também porque ela é praticada por um garoto que conhecemos desde a infância, de filmes mais esperançosos sobre a chegada dele.

Em uma propriedade rural na terra do tio Sam, o casal Breyer possui todos os livros possíveis sobre infertilidade. As chances são que eles estão tentando entender a condição e não aceitar que não podem ser pais biológicos. Durante uma dessas noites em que eles tentam desafiar o prognóstico, um meteoro cai atrás da casa… e é isso aí! Dez anos depois lá está Brandon, saudável e super querido, curtindo uma infância tranquila com os pais mais amorosos e sensatos do mundo. Viver em um local com privacidade, ajuda a manter as verdadeiras origens do garoto em segredo, como tem que ser. Quem acreditasse na história fantástica, levaria a criança para ser analisada. Quem não acreditasse, levaria os pais para serem analisados e levaria a criança para outro casal. Eu não vi amigos, apenas colegas de classe, mas pessoas especiais geralmente são solitárias. Ele não é um qualquer no mundo e certamente não é um qualquer no cinema de terror. Esta é a história de um menino que descobre ter poderes dignos de um herói dos quadrinhos e das consequências dessa descoberta, quando ele entende que não é apenas diferente de nós, ele é superior.

BRIGHTBURN 1

Estamos vendo, de uma forma mais simplista e menos espalhafatosa dos filmes baseados em quadrinhos, a infância de um super vilão, mas não um inventado para o filme. Vamos aos fatos! Chegou no planeta Terra em um meteoro-manjedoura. Foi acolhido por um casal de caipiras, que não estava na flor da juventude e também não tinha filhos. Ele voa, é super rápido e tem visão de laser. A fraqueza, ou o objeto com o poder de machucar o garoto, veio do planeta dele. Ele tem um símbolo. Ele também possui um uniforme, que com todo o improviso de ter sido criado com o que o menino tinha em mãos, cumpre os papéis de ser uma fantasia assustadora e de esconder a pouca idade durante os episódios de violência extrema no exercício dos poderes. Eu não sou uma adepta do politicamente correto, mas nunca fui a maior fã de crianças perversas nos filmes de terror, principalmente quando os pais não são biológicos. A mensagem não me cai bem, mas aqui, Brandon sempre o filho de Tori e Kyle Breyer antes de ser o Filho das Trevas e a adoção não era escondida do menino e não era um assunto sensível para os pais. Voltando ao uniforme, em uma cena logo após que o garoto “apronta” com uma vítima que eu não cheguei a prever e não me preparei para o estado em que o corpo iria ficar, quando Brandon remove a máscara, provoca uma mistura de emoções que não seriam possíveis, se sua carinha de mini-Christopher Reeve ficasse em evidência o tempo todo.

 

BRIGHTBURN 2

O filme tem a produção de James Gunn, o controverso diretor de Guardiões da Galáxia, e também produtor de O Experimento Belko e roteirista da versão mais recente de Madrugada dos Mortos. Eu menciono o cara, porque Filho das Trevas está em uma categoria mista, mas bem sustentada por um profissional com gostos e experiências bem sucedidas em terror e em quadrinhos. O meteoro continua na fazenda, tão bem escondido de uma criança curiosa quanto uma arma de fogo ficaria. Quando Brandon atinge uma certa idade, o objeto é ativado e começa a colocar pensamentos na cabeça do menino. Essa parte do script enfraquece a narrativa pra mim. Seria melhor que as ideias de dominação do mundo viessem só dele. Ainda assim, vê-lo descobrindo a extensão dos próprios poderes é tão interessante e animador quanto é nos filmes da Marvel, mesmo que uma habilidade nova percebida pelo moleque, venha acompanhada de um sorriso sinistro. A mais importante das características inatas de Brandon no entanto, é a inteligência. O menino é um gênio e ele precisa ser, porque só músculos não fariam dele um vilão tão poderoso. Ele não é somente horrível porque não está ajudando as pessoas, como era de se esperar. Brandon é cruel e brinca com as vítimas, sejam elas conhecidas ou pessoas que ele chegou a amar, o que faz dele um monstro do terror primeiro e um super vilão depois.

O filme arranca de Hollywood e da fantasia de que no final, o mocinho sempre vence, um tema que se mostrou extremamente lucrativo nos últimos anos. Uma visão realista, mesmo que nem sempre imprevisível, do desenvolvimento do Super Homem do mundo bizarro, mesmo que não oficialmente, do momento em que seus pobres pais acreditam terem sido abençoados com a chegada do bebê, às terríveis consequências de muito poder em um corpo que não pertence a alguém apenas imaturo, mas indiferente com os habitantes do planeta que ele invadiu. Clark usava óculos, mas nunca escondeu o rosto porque, lá no fundo, não seria uma tragédia se sua identidade fosse revelada. Ele sempre teve motivos para se orgulhar do que fazia. Verdade, justiça …and the american way, não soa tão brega de repente. Filho das Trevas tem falhas, mas algumas de suas cenas me deram pesadelos. É mais do que matar na velocidade da luz, é uma verdadeira traição com os nossos sentimentos.