O remake de um clássico que ninguém viu.

A primeira sequência do filme, que mostra a cidade de Ogden Marsh ardendo em chamas, indicando o destino da maioria dos cidadãos depois dos eventos que os transformaram em lunáticos assassinos, consegue ser uma menção clara ao original de 73, mesmo que ninguém esteja familiarizado com o filme de George A. Romero. A escolha dos planos de câmera, a fotografia, pelo menos nas primeiras cenas, são típicas dos anos 70 e de um filme de baixo orçamento, com imagens muito próximas do fogo e de partes de materiais cenográficos que acreditamos terem sido casas ou carros que funcionavam direitinho antes da destruição. É como se o diretor Breck Eisner, que tem muito mais recursos a sua disposição do que o meu avô do coração tinha no tempo dele, estivesse dizendo ao criador e aos fãs dele, que reconhece o esforço de um cineasta que realizou um filme super complexo sobre um tema que adorava explorar, com nada além de muito amor, alguns milhares de dólares e a ajuda de muitos amigos que trabalham na área. A nova versão mantém nomes dos personagens principais e a base da história, mas é um filme superior e não só pela grana investida. Desculpa vô, é a verdade, mas a gente ainda te ama e te considera o rei na categoria.

Em uma cidade rural dos Estados Unidos, todo mundo se conhece pelo primeiro nome e a vida segue com harmonia e tranquilidade. Não existem segredos entre os moradores e isso teria sido de grande valia, se alguém tivesse testemunhado o acidente que irá abalar a vida da população para sempre. A taxa de criminalidade é zero, ou um, se você contar os adolescentes que de vez em quando excedem o limite de velocidade na direção de algum veículo. É exatamente por isso, que quando o ex-bêbado da cidade invade o jogo de baseball com uma espingarda na mão, toda a cidade, até quem deveria estar trabalhando, mas não pode perder os poucos eventos que o município sedia, condena o xerife que não teve escolha a não ser atirar contra o cidadão, mesmo que ele estivesse apontando a arma para a autoridade com a intenção de matar. Em uma cidade grande teria sido um acontecimento triste, mas justo, mas nesta cidadezinha, é difícil acreditar que a polícia tenha motivos para atirar em alguém, mesmo que todo mundo tenha visto o quão alterado e perigoso o invasor no campo estava.

THE CRAZIES 2

A boa notícia, é que não há muito tempo para David, o xerife vivido por Timothy Olyphant, aprender a lidar com a hostilidade da cidade ou alguma consequência negativa na própria profissão, quando os exames mostram que o ex-bêbado ainda era ex quando morreu. Rapidamente outro maluco aparece causando uma tragédia e a má notícia é que o número de maníacos homicidas, repentinos, mas permanentes, começa a pipocar pela cidade em uma velocidade tão grande que o departamento de polícia, com seus míseros dois membros, não consegue acompanhar. No filme original, se os infectados não estavam aprontando era mais difícil separar os doentes dos saudáveis, mas nesta versão, por mais estranho que possa parecer considerando a quem pertence o material de origem, os contaminados tem uma aparência que os denuncia. Com o corpo meio podre e extremamente agressivos, eles poderiam ser considerados zumbis vivos e é o fato de ainda terem pulso que faz dos contagiados uma ameaça diferente do que estamos acostumados. Eles não perderam nenhum sentido, a coordenação motora ou a capacidade de controlar os próprios impulsos e estas necessidades sociais são indispensáveis, já que eles utilizam inteligência e planejamento caçando sozinhos ou em bandos os próprios vizinhos. Os infectados só atacam os normais, com outros infectados eles convivem direitinho.

A Epidemia é uma sequência atrás da outra de momentos de muita tensão, com ótimas e numerosas cenas de ação, o que deixa o filme com um ritmo ligeiro e nervoso, ou seja, perfeito! As forças armadas aparecem para conter os estragos e acabam se tornando mais um problema para o xerife, que com a esposa e outros poucos saudáveis, tenta fugir da cidade em algum carro ainda não inutilizado pelos militares e sem ser atacado por algum amigo da vida inteira, enlouquecido e homicida. O filme não demorou muito tempo para mostrar a cidade passando da normalidade ao caos, mas foi o suficiente para mostrar como muitos moradores se comportavam antes do contagio. O impacto quando eles ressurgem pelo filme com outra personalidade, é muito maior do que seria se todos os vilões fossem desconhecidos. Pra quem assiste é uma brincadeira assustadora no estilo polícia e ladrão, só que é a polícia quem está em fuga.

Danielle Panabaker The Crazies

O antigo tinha diversos pontos de vista sobre os acontecimentos, mas o filme novo só acompanha o grupo de sobreviventes e não deixa dúvidas sobre os culpados desse verdadeiro desastre, fazendo deste talvez o menos correto, mas definitivamente o mais político dos dois. O título em inglês, traduzido como “os doidos”, parece uma explicação simplória e até meio caipira, mas é apropriada quando se trata de uma descrição feita por entes queridos em uma situação tão absurda e de desdobramento tão rápido. São nossos amigos e parentes e estão querendo nos matar sem nenhum motivo, como poderíamos nos referir a eles sem demonstrar muito desrespeito ou falta de compaixão? Eu adorei o modo como o filme lida com todo o processo, dos primeiros sinais de perigo à indiferença dos responsáveis, sem perder de vista a compreensão de que se trata de um filme de terror, feito para dar medo. É uma experiência muito realista e tratada com seriedade, mesmo que o tema central seja repleto de fantasia.