Um pouco mais do que o de costume.
Este aqui foi uma obrigatoriedade nos anos 80 pra molecada e não apenas pela insistência de manter o filme na programação televisiva, para que ele fosse ao ar pelo menos uma vez por ano, mas também por possuir os elementos de um slasher clássico da época e eles eram todos imperdíveis. Assistindo novamente depois de algumas décadas, eu percebo um certo cuidado que não existia neste tipo de terror, e que também só foi adotado como regra anos depois, que é a apresentação de vítimas em potencial com muito mais do que um alvo nas costas. Independente de quem seria o último sobrevivente na história, ela foi escrita para que a gente goste de todos os personagens e que forme um vínculo com eles. Mesmo que haja neste caso um interesse por trás desta decisão, ela mostra que houve planejamento desde o início, para que a proposta do filme fosse plausível. Tem tanto filme por aí que não se importa de trabalhar os detalhes de um roteiro, para dar veracidade a um desfecho fantástico, que o esforço deste filme não é nada além de louvável.
A Noite Das Brincadeiras Mortais conta a história de um grupo de jovens que se reúne em uma casa no meio do mato, para o fim de semana de primeiro de abril, durante uma pausa tradicional da universidade. Agora, eu sei o que você está pensando e a resposta é sim, eu estava há algum tempo esperando a data certa para falar deste filme. Não? Não era isso? Você quer falar sobre o clichê da cabana na floresta? Pois saiba que ele não só é proposital, como essencial para a história. São oito pessoas, sem contar com a dona da casa, uma galera e tanto, a caminho de uma ilha reservada aos endinheirados e com acesso restrito aos dias úteis. Naquele fim de semana em particular, após a balsa levar todos ao destino, um acidente violento e bizarro remove o único barco da família, então eles ficam como o terror quer que eles fiquem… isolados! Só que não existe medo a princípio no filme. Não teria como, já que a anfitriã preparou uma série de pegadinhas para entreter/irritar os convidados e fazer o público relaxar (Engraçado, eu tinha me esquecido da cadeira que derruba a pessoa e depois se arma novamente. Era icônica no filme). De almofadas que fazem barulho a charutos que explodem na cara, a ideia é que não se pode acreditar em nada que pareça inocente e que nenhum objeto na casa está a salvo da desconfiança. Todas as palhaçadas no entanto, estão voltadas para o bem.
Na primeira noite, que eu imagino ser uma sexta-feira, entre risadas e a procura nada sutil por um romance relâmpago, um membro desgarrado do grupo é atacado sem que ninguém perceba e sem que a gente veja o autor do ataque. Na manhã seguinte, os vestígios de um corpo são vistos de relance e o clima muda completamente na propriedade e no filme. De repente, ventanias não são mais vistas como um ato normal da natureza. A trilha sonora fica sombria, os arredores da mansão perdem a atmosfera de tranquilidade e o propósito do passeio de diversão e camaradagem acaba. Quando os personagens percebem que as circunstâncias ficaram perigosas, antes que o fato faça muito sentido, eles chamam a polícia, ou tentam, já que as linhas telefônicas apresentam problemas. Mais um corpo. Seria um maníaco, ou retaliação pelo trabalhador local que quase morreu no acidente? Infelizmente a dona da casa, que deveria ser uma fonte mais confiável e esclarecida de informações, acordou naquele sábado com a personalidade tão alterada, que fica estranho quando seus amigos demoram horas para notar, ao contrário de nós, que sacamos a diferença no comportamento da jovem nos primeiros minutos daquela manhã.
O filme é curto, mas não parece porque ele é bem dividido e cheio de coisas pra nos contar. Uma porção grande do filme, talvez a metade, é reservada para a zoeira relacionada à data e para que a gente conheça bem os personagens, mesmo que a vida pessoal deles não tenha um grande impacto na história. A segunda metade do filme, é dividida em três partes. A descoberta dos assassinatos e a histeria que toma conta da galera, o desenrolar de um mistério sobre a casa e a conclusão da história, com esta última espremendo em poucos minutos um grande twist, algumas explicações e um susto e tanto. Se o diretor Fred Walton, que se especializou em slashers, não nos mantém na sequência certa de acontecimentos, pelo tempo que cada uma das partes precisa ter, o filme fica comprometido e não funciona pra nós. O mesmo acontece com os personagens dentro do filme. Os eventos que iniciam e depois acabam com a folia do grupo, não levam mais do que horas para acontecer, porque este era o plano do assassino. No momento em que a violência fica evidente, os convidados que ainda respiram se reúnem para formar uma rede de proteção e apoio, mas ela não dura. Pela natureza propositalmente ofensiva de algumas pegadinhas anteriores e principalmente, pelo abalo de uma sequência de mortes que acontecem de maneira cruel e sem aviso, eles tomam as decisões erradas, ou as certas, se você é um assassino e sabia que o efeito seria este mesmo.
É claro que com tantos acertos e uma originalidade acima da média, o filme não está livre de defeitos. O assassino é muito ligeiro para antecipar e se ajustar aos imprevistos que são inevitáveis. Trata-se de uma ilha, mas não de um ambiente completamente controlado, então são muitas variáveis a serem consideradas. A maior delas é o grande número de vítimas, que poderia contra-atacar um serial killer com facilidade. Não é o artifício mais sensato que eu já vi em um roteiro, mas mesmo assim, passando por todas as improbabilidades, é inegável que se trata de um filme imaginativo, completamente assustador, divertido e um ótimo candidato a um remake. Não estou dizendo que seja necessário, porque não é, mas… se alguém quiser fazer, eu não vou reclamar.