Um terror-comédia de Halloween, válido para o ano todo.
Chris não foi exatamente convidado, mas lá está ele na noite de Halloween, caminhando sozinho por vizinhanças curiosamente vazias de Nova York. A fantasia ele mesmo fabricou, com papelão e muita criatividade. Ele também assou um bolinho pra levar, porque ele é parça, e porque a alternativa era ficar em casa, levando desaforos do próprio gato enquanto assiste a filmes de terror antigos e vendo sua decoração ser vandalizada pela molecada da rua. O local da festa no entanto, é tão afastado e o caminho até lá parece tão abandonado, que todo o espírito de aventura do rapaz começa a evaporar, mas ele segue em frente. Quem se importa se o convite foi encontrado no meio da rua? O bolo está assado e a armadura medieval improvisada deu trabalho, ele não vai voltar pra casa agora! São só mais algumas quadras talvez, de silêncio, escuridão e de uma atmosfera inegável de perigo.
Festa Assassina tem potencial para se tornar um clássico do “terrir”, se mais gente soubesse de sua existência (ele está no Netflix, galera). Com um elenco completamente desconhecido e um roteiro enxuto e inspirado que supera a total falta de dinheiro, este talvez seja o “red” de uma possível trilogia do diretor Jeremy Saulnier, responsável anos depois pelos maravilhosos Blue Ruin e Green Room. Em seu longa metragem de estreia, o diretor já sabia que uma comédia de terror não pode ter apenas sangue e piadas para obter sucesso. O filme é tenso e nos mantém rindo do humor e rindo de nervoso, desde o primeiro momento em que Chris pisa na festa, com seu traje precário e seu bolinho com passas embaixo do braço. Dali em diante, até existe um plano traçado pelos organizadores, mas a história é criada de uma maneira tão convincente em parecer caótica, que não há como prever o que iremos ver realmente, independente de todas as expectativas.
Com todos os cenários possíveis na mente, do sucesso de uma festa cheia de gente que não se conhece, mas super disposta a se divertir apesar desse detalhe, ao desconforto de uma reunião mais íntima, de amigos usando fantasias super produzidas e sendo forçados pela presença do intruso a fazer sala para um desconhecido; Chris jamais poderia considerar que o convite havia sido lançado ao vento propositalmente, como uma isca para qualquer trouxa que resolvesse aparecer, já que se trata de uma festa falsa, cujo objetivo é produzir uma vítima para ser morta por um grupo de estudantes de arte, que pretendem impressionar um investidor, utilizando um ato transgressor como um assassinato.
Enquanto os péssimos artistas-em-construção discutem sobre métodos de matança, horários convenientes para rituais e quais presenças são indispensáveis para a realização do “projeto”, Chris aguarda a própria morte, como se fosse o quem menos importa no filme. Por mais que o protagonista seja tecnicamente merecedor de destaque, Saulnier sabiamente o deixa amarrado e amordaçado em uma cadeira, com seus próprios pensamentos de fuga, para que os donos da festa reinem livres pela história de maneira hilária, com toda a imaturidade das crianças mimadas que são na realidade. O filme é bem curto e na maior parte de seu tempo de duração, funcionaria muito bem como uma peça, porque a ação se passa quase toda em apenas um local fechado. É como o Clube dos Cinco, só que bem mais violento, repleto de amores não correspondidos e com o público rachando de rir da cara de todos eles. Desculpe Chris, de sua também!