Um labirinto criado pra entreter e para matar.
Vocês se lembram daquela cena em Austin Powers, em que o Dr. Evil explica um plano super elaborado para matar o herói e é interrompido pelo bom senso do filho? Scott dizia em tom de deboche que tinha uma arma no quarto, não havia a necessidade de tanques com tubarões e lasers, era só dar um tiro no cara e pronto. O jovem apostava na praticidade e eu me lembrei daquela cena rindo, enquanto Escape Room mostrava um trecho do jogo logo no início, onde uma vítima e sua morte planejada e cheia de variáveis servem de base para o que devemos esperar no filme. Scott sabia que projetos elaborados levavam tempo para serem concluídos, dando chance para que Austin escapasse, mas ele não entendia que era essa possibilidade a responsável por toda a graça para o Dr. Evil.
A atração Escape Room virou uma febre nos Estados Unidos, seduzindo participantes dispostos a testar o próprio raciocínio lógico, durante um tempo limitado. Um evento divertido que reúne poucos amigos por vez, em um ambiente labiríntico e controlado, onde uma sala cheia de objetos aparentemente normais, mas usados como pistas, abrem uma porta que leva a outra sala misteriosa, como um mini parque de diversões exclusivo, do qual se precisa escapar em menos de uma hora. No filme, a atividade envolve alguns estranhos que recebem ingressos no formato de objetos, que também precisam ser decifrados para revelar as informações do convite, com destaque para o prêmio no valor de dez mil dólares para quem conseguir sair da brincadeira a tempo. Quem recusaria um passatempo tão estimulante, gratuito, potencialmente lucrativo, atual e o melhor, enviado como um presente por pessoas que os participantes conhecem na vida real?
Mesmo não possuindo a princípio elementos típicos de terror, a diversão é um pouco sombria. Antes de saberem como começar, os participantes já estão no jogo, quando se encontram trancados no que pensavam ser a sala de espera. Logo, um dispositivo que jamais poderia falhar é acionado e a busca pela saída é acelerada. Entre os jogadores está um executivo em ascensão, um estoquista sem perspectiva, uma universitária com o cérebro afiado, um operário, uma soldado e um geek com experiência em muitos desses tipos de jogos, louco para testar o que ele ouviu dizer ser “o melhor Escape Room” criado até então. É a pessoa mais animada no local que mantém todo mundo calmo, quando o fracasso na passagem de uma sala para outra envolve a probabilidade de uma punição dolorosa e perigosa. Ele vira brevemente a voz da razão, enquanto aqueles que nunca participaram de Escape Rooms ignoram que estes jogos não envolvem severo desconforto físico e perigo de morte, como um empurrão que apressa as pessoas de um cômodo para outro.
O que impressiona muito no filme, é o absurdo no tamanho e na complexidade das salas misteriosas. A construção destes locais deve ter levado muito tempo e custado uma fortuna, e o nível de dificuldade dos enigmas fica no patamar de Missão Impossível. Esse jogo não foi feito para qualquer um e como descobrimos no filme, não foi mesmo, ele é especial, mas a impressão é que o pré-requisito para estar lá é ser um atleta-gênio. Também, se fosse fácil, a resposta do público seria a raiva, como é o caso com tantos slashers em que as vítimas tinham que “claramente” e “obviamente” correr para a esquerda e não para a direita. Sem nenhuma simplicidade, o filme é imaginativo e tenso. Acelerado, empolgante e extremamente prazeiroso independente da taxa de mortalidade, já que cada estágio foi organizado para que pelo menos um jogador fique para trás. Se você remover o terror, ainda fica com um filme de suspense bem legal sobre desvendar charadas.
Você já viu este argumento em outros filmes, como Jogos Mortais, O Experimento Belko e Mayhem. O próprio conceito deste novo tipo de entretenimento, me lembra muito a narrativa do filme Cubo. Decifre o mistério e avance para a sala ao lado. É tão modinha que há algumas semanas, eu tive a infelicidade de ver um filme de 2018 com o mesmo nome, mas com uma qualidade bem inferior em todos os aspectos, achando que era este aqui. Neste as atuações são boas, o enredo é bem construído, as salas são fantásticas, repletas de pistas a serem desvendadas por gente apavorada, amenizando até um final fantasioso demais. Você tem a escolha de ver um filme desses pelos olhos de Scott ou pelos olhos do Dr. Evil.