Duas irmãs atormentadas. Uma delas, por escolha.

Eu tenho uma confissão a fazer. É vergonhoso porque a minha obrigação com esse blog é escrever sobre o que eu vejo, então eu preciso ver todo o filme, mas no início de O Terceiro Olho eu estava tão desinteressada e convencida de que o filme não entraria no blog, que após uns quinze minutos, comecei a acelerar para saber logo o que ia acontecer. Ele não é arrastado, esse não foi o problema, nunca é, mas quando o primeiro fantasma apareceu berrando na tela, e o segundo apareceu correndo atrás da vítima, como se fossem adolescentes tentando assustar alguém na marra, ao invés de espíritos que não precisam desses recursos, eu olhei bem pra capa do filme, com aquele olho mal-photoshopado na boca da garota e tive a impressão de estar perdendo o meu tempo. A ideia era conseguir um sumário com os pontos altos do filme, se é que eles existiam e depois deixa-lo para trás, como tantos outros que se apagam da memória. A verdade é que não se trata mesmo de um filme bom e de diversas maneiras a direção indica que não sabe o que está fazendo, mas eu fui obrigada a assistir o filme de novo e direito, já que uma das características desse amadorismo foi saturar a história de eventos horripilantes, uma verdadeira tortura, que resultaram em uma péssima noite de insônia para mim, seguida por poucas horas de sono, interrompidas por um pesadelo. Nada mal para uma semi-porcaria!

O filme conta a história de duas irmãs, Alia, a adulta e Abel, a adolescente que vive com fones no ouvido por se sentir meio que protegida pela música, seja ela de qualquer gênero. Os pais das duas morrem em um acidente e Alia precisa deixar a vida que estava construindo em Bangkok, na Tailândia, para cuidar da irmã na Indonésia. O apartamento onde a família estava vivendo, pertencia à firma do pai e com a morte dele, as jovens precisam retornar ao único imóvel que a família possui, uma casa que, pela premissa do filme, parecia ser o foco de todo o terror, quero dizer, o local certamente não é um refúgio, mas o problema que as irmãs irão enfrentar é muito mais abrangente e permanente do que aquela moradia. O namorado de Alia, Davis, que por razões que são um mistério para mim, solta frases em inglês no meio de conversas em sua língua nativa, é convidado e aceita morar com as meninas, mas apesar de ser uma pessoa prestativa ele nem sempre está presente. Logo na primeira noite, Abel sofre com as presenças não desejadas da casa, porque elas não são sutis e isso é um grande defeito e uma grande qualidade no filme. Os espíritos são rápidos e com uma aparência grotesca, frequentes e violentos na maioria das vezes. O modo como se movem e assediam é um pouco tosco e cansativo, mas nenhum deles passa sem deixar a própria marca. Todos exigem atenção e envolvimento de quem consegue vê-los. Todos.

MATA BATIN 1

Alia é a cética, Abel, não tem escolha. Quando a mais nova não consegue mais suportar a mediunidade calada, ela confessa seus dons e pede ajuda. Entra em cena Bu Windu, uma paranormal com pinta de rockstar e cheia de regras sobre o oculto, que vão sendo reveladas aos poucos, de acordo com o desenrolar da história. Durante uma consulta, é dessa mulher que Alia tira todo o conhecimento sobre a vida após a morte, mas ainda acreditando que tudo não passa de superstição e que o problema da irmã pode ser psiquiátrico. Para Windu, Alia faz a pergunta mais importante do filme: “Todo mundo possui o tal terceiro olho?”, responsável por enxergar o suposto mundo sobrenatural, visível apenas após a morte e a propósito, ele fica no meio da testa, não nos lábios! Com a resposta positiva de Windu e a confirmação de que o olho pode ser ativado por quem desejar a mediunidade, Alia faz o pedido fatídico e Windu o concede. Mesmo não acreditando, a irmã mais velha queria ser solidária, mesmo que isso significasse um diagnóstico de insanidade para Abel, só que Alia acaba literalmente abrindo as portas para o inferno.

A regra número 1 sobre videntes em filmes de terror, é que se você começa a vê-los, eles também passam a ver você. Realmente dá pena, porque é o tempo inteiro e alguns são perigosos. Antes que Alia estivesse prestando atenção, um deles deixa uma impressão na pele dela, o que leva a jovem ao hospital, ainda sem compreender o tamanho da encrenca na qual havia se enfiado. Em filmes comuns de terror, um hospital seria o local perfeito para a descoberta dessa nova habilidade, já que as chances de ver o espírito confuso de um morto recente são bem grandes. O vidente teria uma experiência macabra e sairia correndo pra casa, mas em O Terceiro Olho, Alia não tem tanta sorte. Eu contei cinco fantasmas, um pior do que o outro, que vão aparecendo em lugares diferentes do hospital, sempre pegando a coitada sozinha, enquanto ela tenta sair do prédio. É muita coisa para terceiros olhos-virgens. Alguns efeitos são horrorosos, outros, bem eficazes e os mortos possuem as mais variadas aparências. É importante ressaltar duas coisas: as duas médiuns não conseguem ver os pais, porque de acordo com Windu, somente espíritos com assuntos para terminar permanecem entre os vivos. A outra coisa, é que Abel teve o dom psíquico a vida inteira e por mais que ainda tenha medo, não dava chilique no apartamento em que morou com os pais, ou em nenhum outro lugar. Somente na casa onde está sendo obrigada a viver novamente.

MATA BATIN 2

O Terceiro Olho plagia descaradamente uma porrada de outros filmes de terror americanos, mas tudo bem, porque geralmente é o ocidente copiando o oriente, então nada mais justo, certo? O que vira uma espécie de estraga festas com o filme, é o argumento de que qualquer espírito ruim possui a capacidade e o conhecimento para tomar a vida de qualquer vidente. Isso significa que mesmo escapando de um local mal assombrado, sendo o que são, as irmãs teriam o potencial para transformar qualquer lugar em mal assombrado, atraindo sempre as piores espécies de almas. Mas espere, nem tudo está perdido! De acordo com a guru Windu, que fica inventando adendos às leis da vida e da morte pelo filme inteiro, o modo de tirar o poder dos espíritos é não ter medo deles. Então é simples! Basta não temer os seres demoníacos que gostam de aparecer fazendo barulho no meio da noite, cheirando a carne podre, com os olhos brilhando, cobertos de feridas, berrando e correndo na sua direção!

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