Um investigador paranormal encontra três casos que balançam a falta de fé dele.
A mensagem do filme é clara: “Cuidado com o que você acredita!”. Isso porque o protagonista tem seus motivos para ser um cético profissional, que vive de desmascarar charlatães disfarçados de médiuns. Ghost Stories tem uma linguagem um pouco incerta, com imagens em vídeo, em película, com cara de reportagem feita para a televisão, cara de documentário feito para o cinema… Isso pode estar acontecendo, porque o Professor Goodman, possui realmente um programa de tv onde expõe aproveitadores da dor alheia, e de vez em quando olha pra câmera para conversar com o público. Mas também é possível que esta incerteza cinematográfica, ainda que de uma maneira planejada, tenha o propósito de refletir outro tipo de confusão, em um filme com histórias sem resultados e um personagem central lutando para se manter no controle dos acontecimentos.
Goodman tinha um ídolo na infância, um homem que nos anos 70 também tinha um programa de t.v. e fazia o que Goodman faz agora. Charles Cameron, o homem da ciência, foi o grande responsável pela maior mudança na vida do, na época, adolescente devoto ao pai, que era devoto ao Torá. Cameron era uma verdadeira autoridade no ofício da dúvida, com reputação inquestionável e uma fama modesta. Idoso, solitário e arruinado, Cameron, que estava desaparecido há muito tempo, retorna à vida de Goodman de uma forma bastante pessoal; ele quer ajuda com três casos do seu passado, com fortes ligações sobrenaturais, que ele não só falhou em resolver cientificamente, como deixou que estes três acontecimentos o transformassem em um homem de fé, ou pelo menos de medo. Essa virada de casaca de Cameron, instiga Goodman a investigar os mesmo três casos e trazer o ídolo de volta. O filme então se transforma em uma jornada arrepiante por três contos sobrenaturais, como uma antologia informal.
Caso 1 – Tony Matthews – Um ex guarda-noturno em uma daquelas horrorosas instituições psiquiátricas desativadas, descreve para Goodman a madrugada mais assustadora de sua vida profissional. Como era de se esperar, um longo flashback, que acontece mais como um curta, segue sem narração ou interrupções depois de muita resistência da parte de Tony. Como a palavra de um homem não é o suficiente para abalar a falta de fé de outro, Goodman precisa fazer o que não era de se esperar em uma coletânea de histórias de fantasmas, que é investigar a veracidade do que acabamos de ver. É estranho que Tony não seja mais velho, não no flashback, mas na conversa com Goodman, já que Cameron havia desaparecido da vida pública há décadas e o motivo eram as três histórias que desafiaram sua descrença.
Caso 2 – Simon Rifkind – Simon é um jovem desconfiado, que mora com os pais em uma residência com muitas trancas. Um dos retratos na casa chama a atenção, porque duas pessoas nele já apareceram no filme anteriormente em outras circunstâncias e elas não estão posando para a foto, então é incomum que ela tenha sido escolhida para ser pendurada. Mas enfim, Simon recebe Goodman em seu quarto, onde ele também tranca tudo e conta sobre a noite em que ficou perdido na estrada, sem gasolina ou sinal de celular e foi perseguido por uma entidade demoníaca que queria uma carona. É importante neste ponto reconhecer que o filme dá muito medo. Quando Goodman fica curioso sobre os outros cômodos da casa e Simon diz que ele é livre pra bisbilhotar, é uma vergonha que alguém na profissão dele acabe recusando, por estar impressionado demais com a estranheza de tudo na sua frente, mas é um certo alívio para nós. A recusa foi antes de Simon contar a história, o que quer dizer que ela já estava fazendo efeito antes de aparecer.
Caso 3 – Mike Priddle – A história de Mike é a confirmação de que nenhuma dessas experiências é algo com que Goodman estaria acostumado. Nenhuma é a tentativa de um vivo se comunicar com um morto e ser ludibriado por um falso médium. Não há ninguém para ser desmascarado, apenas gente muito apavorada, que ainda sofre com as consequências do que acredita ter visto e sentido. Tudo o que Mike queria, era que sua mansão tivesse um pouco mais de vida, mas ele recebeu o completo oposto disso, sem aviso e sem motivos. Outra coisa que se confirma após o terceiro caso, é que não existe exatamente um desfecho para nenhum deles. Assim como não há veredito, quer dizer, a gente acredita em tudo, é inevitável, mas quem precisa ser convencido de que existe um mundo além daquele que enxergamos é Goodman e ele ainda é um cético apesar de estar um pouco abalado. Até que a história dele começa…
Ghost Stories é uma produção britânica surgida de uma parceria entre Jeremy Dyson, um experiente escritor para t.v. e Andy Nyman, o ator que interpreta o professor Goodman. Andy diz não ser fã de câmeras nervosas em filmes de terror e você não as verá aqui, ao invés disso, você encontra tensão e medo constantes nas três histórias e nos períodos entre elas. É divertido ficar apreensivo e curioso ao mesmo tempo, enquanto um segmento termina e Goodman segue para a próxima aventura. Um pequeno problema do filme, é que aquela bagunça mencionada lá no começo e a falta de resolução das histórias, precisa ser explicada e isso não acontece da melhor maneira, ou da maneira interessante e competente como o filme havia sido conduzido até então. As causas, as razões, os motivos, podiam ter sido criados de uma maneira que não diminuísse o impacto dos três curtas vistos anteriormente. Não chega a estragar o filme, mas não o completa satisfatoriamente.