De acordo com o Wikipedia, a sigla “LLC” significa proteção contra processos para microempresários, teoricamente.

Hell House parece um documentário de verdade. Até certo momento, você o recomendaria como algo que realmente aconteceu. Nele, testemunhos de jornalistas, sobreviventes e imagens de noticiários relembram uma tragédia ocorrida em outubro de 2009, com um saldo não-oficial de 15 mortes, no que deveria ser uma assustadora porém inofensiva atração de halloween, na forma de uma casa mal-assombrada como muitas encontradas em parques de diversão. Nas imagens de arquivo, bombeiros, paramédicos e policiais são vistos atendendo feridos e retirando corpos do local. Várias equipes de televisão transmitem matérias sobre a fatalidade. Um vídeo feito por clientes da atração na noite em questão, é subido para o Youtube com imagens do exato momento em que a tragédia está acontecendo, com toda a correria e gritaria que se espera. Fotos clandestinas das paredes e do piso do local com vestígios de sangue, vazam na internet. Um livro é lançado. Um ator que escapou da casa quando estava trabalhando, se enforcou dias depois, mas até então nada definitivo sobre aquela noite é divulgado pelas autoridades. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Você com certeza adoraria ver um documentário desses, se ele fosse verdadeiro, porque não há como ignorar uma arapuca bem armada como esta.

Sara, a única sobrevivente da equipe de produção, aparece para ser entrevistada no documentário. Ela era parte de um grupo de 5 amigos, que obtinham imóveis velhos, os reformavam e transformavam em estabelecimentos de entretenimento macabro por todo o estado. Ainda se recuperando do trauma, ela oferece muito mais do que um ponto de vista interessante sobre o acontecimento. Por precaução legal e para ter um registro de possíveis erros que seriam evitados no futuro, os realizadores do evento estavam gravando todo o processo no qual consistia o trabalho, desde a chegada no local, até o esquema de funcionamento da atração, que duraria algumas semanas até o final de outubro na noite de halloween. Começa então o found footage dentro do documentário falso, mas o filme não para por aí. O que a maioria dos amigos não sabia quando adquiriu aquele hotel abandonado, é que ele também tinha uma história curiosa (mas é claro que tinha, todos têm!), introduzida aos poucos por rumores vindos da população local e por, digamos, “coisas” que são encontradas pelo velho hotel . São vestígios de uma possível tragédia antiga, dentro do registro que antecede a tragédia, que está dentro do documentário falso sobre essa tragédia.

HELL HOUSE 1

Uma coisa do qual Hell House tira muita vantagem, é o sempre brega mas nunca ultrapassado terror cenográfico, encontrado tanto no Playcenter quanto na Disneylandia na forma de bonecos que imitam corpos, máscaras que imitam monstros, teias de aranha e sangue falsos, na decoração de brinquedos e atrações mal-assombradas. Por poucos minutos, na companhia de amigos e no espírito da zoeira, o negócio pode ser muito divertido, mas no filme que passa um bom tempo mostrando os preparativos para a noite do terror, a presença de objetos mórbidos, mesmo que de mentirinha, começam a pesar em cima das nossas certezas. Os integrantes da equipe realizadora enfeitam e brincam com os objetos, decidindo qual ficará em qual cômodo e o que aquele cômodo representará, tudo com o profissionalismo de quem está acostumado com a construção de um clima de cemitério. Aí o found footage dá uma pausa, como acontece por todo o filme, para que o documentário do lado de fora faça algumas análises. Vemos um slow motion de uma cena com uma sombra na parede, um comentário de um especialista, ou no caso que me fez ver as cenas seguintes três vezes seguidas, Sara diz que assim que a eletricidade foi reestabelecida, eles passaram a dormir no hotel abandonado e tudo mudou. A verdade é que o found footage não muda nada de imediato, mas não faz mais diferença. Eu já estou observando quadros, a posição de copos e o que pode aparecer dentro de um quarto escuro, já que a porta está sempre semi-aberta, mas nada acontece, nada se move. O pior é que eu sabia que o documentário mencionaria qualquer coisa anormal, se houvesse, mas era tarde, eu já estava imersa no terror.

Até quase metade do filme, com o entra e sai das imagens que Sara trouxe, nos sentimos como a outra metade em um relacionamento abusivo, durante um sempre curto período de paz. Muita falação, pouca ação. Não ouvimos barulhos estranhos no meio da noite, apesar de que alguns rapazes dizem ter escutado antes de ligar a câmera para investigar. No comando das operações na casa dos infernos está Alex, o namorado de Sara e quase chefe em uma companhia com vários sócios que também são muito amigos. Alex é o cético da turma e o mais preocupado com os investimentos, que vive em dúvida sobre as estranhezas que o pessoal começa a relatar e reage com raiva, quando o trabalho é afetado pelo medo. Eu não posso culpá-lo, já que nenhuma aparição no filme pode ser comprovada como verdadeira, com a possibilidade na maioria das vezes, de bonecos mudando de lugar no local ser o resultado esperado quando se tem muitos deles e muita gente acertando suas posições finais até que a atração seja aberta. Ainda assim, o estado de espírito do público é o de tormento constante, até que a inevitável ira daquele nosso “companheiro violento” ressurja, com uma cena bem estranha, envolvendo um membro da equipe com uma maquiagem macabra, torturando psicologicamente outro membro, que se esconde em pânico debaixo do cobertor.

HELL HOUSE 2

Hell House LLC é realmente assustador e com uma história-base muito envolvente. A atmosfera arrepiante permanece com o público por um bom tempo. O pesadelo que eu tive naquela noite que o diga. Saber o que aconteceu na tragédia é o mais importante e isso pode decepcionar muita gente, quando outro vídeo surge com imagens do porão lotado de clientes daquela noite, mas ainda deixando mais perguntas do que respostas. De uma forma, é como comprar um ingresso para uma dessas atrações na vida real, onde a expectativa nunca corresponde à realidade. Analisando com cuidado, não existe nenhum fenômeno sobrenatural no filme, que não possa ter sido forjado por um membro da equipe. Se não fosse pelo número de mortos… que nunca foi oficialmente confirmado… o negócio seria o golpe de publicidade perfeito… calma… espera aí… espera! Eu reconheço que não dá pra ver quase nada em nenhum dos vídeos “vazados”, a gente nem sabe quando a gritaria teatral termina e a real começa. Um dos especialistas entrevistados é creditado como autor, mas autor de quê? Não tem nem nome do livro, ou artigo. Um jornalista entrou no local que estava interditado pela polícia, tirou fotos, colocou online e não sofreu nenhuma consequência legal? As imagens realistas, que com todo sucesso são as que nos prenderam ao filme logo no início, mostram um monte de gente assustada em frente à casa sem nenhuma informação! Seria tudo uma farsa? Seria o filme como um todo, uma tentativa de devolver a honra a um passeio no qual até crianças entram nos dias de hoje? Caraca!

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