Um casal visita um parque ecológico que não tem dó de turistas.
Caia na estrada, eles dizem! Saia de casa, respire o ar puro, vai viver! Com frases prontas e acionando o nosso botão de culpa, alguém sempre nos convence a entrar numa roubada. Com alguns dias de folga, Alex inventou uma escapada da cidade e agora Jenn será obrigada a fazer suas necessidades no meio do mato. É sempre assim com os dois, ele arruma uma encrenca e ela tem que participar. Mas natureza é uma coisa boa, certo? Por que essa minha hostilidade, quando a intenção é lazer e descanso? Bom, porque antes de mais nada, Alex é um cara com sérios problemas mentais! O guarda florestal oferece um mapa, ele recusa. Jenn coloca o celular na mochila, ele retira e deixa no carro de propósito. Ele é o entendedor, o gps humano, o capitão planeta, contrário à qualquer medida de segurança tomada por uma personagem que nunca acampou. O rei das montanhas! Tomara que morra!
Mas espere! O que a nossa querida Jenn, a cautelosa, a sem-banheiro, resolve aprontar assim que Alex se afasta por alguns minutos? Ela convida o Brad pra jantar com eles! Sim, aquele Brad, que vive aparecendo em filmes como esse, todo amigável, todo capaz, trazendo um monte de peixes que ele mesmo pescou. Ele tem um facão estilo Rambo, uma personalidade agressiva, modos grosseiros e uma queda por Jenn. O cara aparece do nada e praticamente mora ao ar livre, é óbvio que ele é mais experiente do que Alex na natureza e é óbvio que vai ter treta entre os dois. Agora, o interessante em Sobreviventes, é que nenhum vilão é páreo para a falta de sorte e de preparação. O problema vai muito além do possível “maníaco da floresta”.
O diretor estreante Adam MacDonald, que também é ator, pega sua câmera experimental e vai gradualmente removendo toda a beleza de um lugar que não deveria ter nada além disso. O casal se perde e isso é um problema gigantesco por si só, porque a comida é pouca e eles não conseguem encontrar água. Apenas um dia com poucos recursos naquele lugar, diminue drasticamente as chances de voltar para casa. A medida em que um obstáculo novo se apresenta, temos mais close ups e menos tomadas da floresta ao redor. A falta de prática do diretor aparece em inserts de cena desnecessários nas sequências de ação, mas ele faz um bom trabalho, quando o estado de espírito dos personagens dita a linguagem a ser usada. Se a reclamação é só fome, a câmera está quase parada. Se o cansaço vence, a lente desfoca. Se o caos reina, nós não recebemos um câmera com Mal de Parkinson, mas sim, tomadas curtas e eficientes, com rápidos momentos em que a câmera chacoalha, mas nada que induza o vômito. Revirar o estômago é algo feito com outro truque que o diretor já parece dominar.
Se você deu uma rápida olhada para a capa do filme, já se ligou no quanto esta viagem pode se tornar assustadora. O que é mostrado é até rápido, sem a superexposição que banalizaria cenas muito sérias. Mas mesmo que seja breve, o que a gente vê é uma representação muito realista de encontros entre homem e natureza quando a natureza vence. É bem desagradável, mas exibido na medida certa, para que o público fique entre o choque e a aceitação do que acabou de acontecer, mesmo que os personagens não consigam ser tão racionais de imediato. MacDonald também não tem medo de partir alguns corações, mostrando dois adultos que chegam a perder o respeito um pelo outro, em um roteiro onde isso faz muita diferença. Veracidade é um elemento muito presente. Nem tudo no filme tem uma explicação, nós sabemos o que os personagens sabem. Só enxergamos o que as vistas deles alcançam.
Por mais que Sobreviventes seja um verdadeiro guia para superar toda situação de terror que se possa imaginar, turistando pelos bosques de qualquer lugar, é muito difícil prever o que está para acontecer. Um dos dois pode escapar de um ataque de cobra por exemplo, e sair correndo, cair, bater a cabeça em um tronco e morrer. A floresta é o vilão! O filme também serve para sossegar o facho desse povo ao nosso redor, que adora #partir pra qualquer canto sem um conhecimento amplo sobre o destino, ou sobre primeiros socorros. Tão paranóico quanto A Bruxa de Blair, tão brutal quanto O Regresso (com Leonardo di Caprio), mas não tão bom quanto Um Longo Fim de Semana (versão de 78), mesmo assim, é um filme que te deixa ser o chato sem espírito de aventura, em paz! Nós saímos das florestas para morar em apartamentos por uma boa razão.