Quatro jovens descobrem que a união… e a macumba, fazem a força!
O Ministério da Magia adverte, que somente uma em quatro adolescentes irá usar poderes sobrenaturais para atividades mundanas, como descolorir o cabelo ou dar uma lição no ex-ficante. As outras três serão bem mais maliciosas. O poder corrompe sim e Jovens Bruxas fala de um poder sem limites nas mãos das rejeitadas da sociedade, em uma idade em que elas só enxergam o próprio umbigo. O filme é sobre o quão perigosas as pessoas se tornam, quando acreditam que os primeiros anos da juventude vividos na exclusão, dão passe livre das consequências dos seus atos.
Nancy, Bonnie e Rochelle são três estudantes do equivalente ao colegial norte-americano, que sofrem com a ridicularização constante dos colegas. Nancy é a emo-antes-de-ser-cool com problemas sérios em casa pela falta de dinheiro. Bonnie vive coberta e escondida, para que ninguém note o corpo marcado por uma tragédia. Rochelle é alvo de um bullying pesado. Revoltante e pesado. Ninguém poderia questionar que as meninas precisavam de uma válvula de escape e bruxaria se tornou um passatempo inofensivo, mas com potencial de se tornar algo mais sério, por causa das circunstâncias nas quais elas se encontram. Não seria maravilhoso acabar com os problemas, literalmente, num passe de mágica? Eis que surge Sarah. A nova aluna, também com um pé no lado escuro da força, para transformar o trio em um grupo.
Sarah é uma bruxa muito mais avançada em relação às outras. Do tipo, “enquanto vocês estavam atrás dos ovos, eu já tinha matado algumas galinhas!”. A experiência de Sarah com o oculto não vem de livros adquiridos em lojas esotéricas, ela sabia que era diferente, antes de chegar na idade em que isso mais importa. Com uma velocidade incrível, a novata descobre o que significa fazer parte dos exilados da escola, após a divulgação de uma mentira comprometedora. Ela resolve abraçar a causa das novas amigas, e a própria, mergulhando de cabeça no aperfeiçoamento coletivo dos conhecimentos e poderes do grupo. É uma nova era na vida de todas.
Quatro no filme é um número sagrado. São as quatro estações do ano, os quatro elementos da natureza, as direções em uma bússola e dá até pra fazer um círculo mais redondinho com quatro pessoas. Está na hora de colocar a feitiçaria em prática. No começo, quando a brincadeira é irresponsável mas divertida, somos adolescentes vendo as fantasias de vingança contra os nossos bullies sendo realizadas na tela. Mas o adulto que já entende que escola não é pra sempre, acorda assim que a magia extrapola o limite da justiça e coloca vidas em perigo. Nancy queria dinheiro e poder. Bonnie queria ser bonita. Rochelle queria ser como a pessoa que mais a odeia. O que Sarah queria, não pode ser conseguido através de magia e os conflitos que levam à ruptura do círculo começam a surgir.
Talvez em um filme atual, um ser poderoso como Sarah seria o pavio que inflama os desejos de gente maltratada e instável. Seria ela a grande vilã a ser combatida pela junção das mais fracas, mas nos anos 90, a pessoa mais habilitada para possuir poderes, uma bruxa natural como as outras a classificaram, saberia instintivamente que um dom tão especial vem acompanhado de obrigações e teria o bom senso de pedir licença e cair fora do grupo. É uma pena que Sarah não tenha feito isso, antes de ser vista como uma ameaça ao clã e revelar inocentemente algumas de suas maiores fraquezas e medos.
Eu me desculpo pelo atraso no texto de Dia das Bruxas, com este clássico da época de Friends, de Alanis e Nirvana, que de tanto sucesso em divulgar a cultura Wicca, fez com que a religião virasse febre entre a molecada e até virou série (Charmed). É da época dos trintões interpretando adolescentes de forma convincente, já que ao contrário da galera dos anos 80 em papéis similares, eles souberam se cuidar melhor, e também da galera do novo milênio, que teve mais trabalho pra rejuvenescer em filmes com a chegada da alta definição da imagem. Tá todo mundo aqui, todo mundo que importava na época, Neve Campbell, Robin Tunney, Fairuza Balk e Skeet Ulrich com sua carinha de Johnny Depp, como o eterno boyzinho-epicentro de todos os problemas. A tecnologia usada para os efeitos pode estar desatualizada, mas a criatividade deles ainda é muito apreciada. Como esquecer Nancy andando sobre as águas, ou as garotas erguendo uma delas do chão apenas com os dedos? A trilha sonora é magnífica! O que me dizem de chamar o dia de A Semana das Bruxas e perdoar a demora?