As décadas passaram e o palhaço retornou.

Em uma escala de 1 à adolescente usando capa de chuva amarela em comemoração ao lançamento do filme na porta do cinema, o quanto você antecipava a chegada deste filme? Meu Deus! Se havia apenas um terror antigo com uma grande necessidade de ser reapresentado para a nova geração de amantes do gênero, era It. Até os logotipos dos estúdios que aparecem no início ficaram animados com o remake, adaptando a sua arte ao tema do filme. A história não poderia mudar, mas as piadas tinham que ser atualizadas, o palhaço precisava de um facelift e já estava na hora de fazer com que os acontecimentos avançassem no tempo, transformando os anos 80 (que é quando a história chega ao fim no filme original) no ponto de partida desta versão, aproximando o novo filme até da porção do público que sofre de nostalgia dupla, já que viu o primeiro e está agora se aproximando dos 40 anos.

Antes de mais nada, a história da cidade do interior que a cada 27 anos recebe a visita de um palhaço assassino de crianças, que opera livremente sem que adultos o percebam, sempre foi pesada demais para a televisão aberta. Portanto, além de substituir brilhantina por mullet, era indispensável levar a obra de Stephen King para o cinema, com um orçamento que permitisse que o filme fosse visualmente perfeito e que contatos e diálogos desconfortáveis entre crianças, adultos e palhaço fossem feitos sem censura. A vantagem da versão antiga, era apresentar a trama em forma de minissérie, com tempo suficiente para contar a história completa. A solução para os limites da resistência com o público pagante, que está assistindo em uma tacada só, foi adiar a aparição da turminha dos perdedores como adultos, colocando um subtítulo no final do filme que o classifica como “Capítulo 1”. Se o diretor conseguir o feito de transferir o carisma dos atores mirins para os adultos, algo no qual o original pecou muito, eu vou ficar tão feliz! Ainda não me conformei por ter visto o John Boy com rabo de cavalo.

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Os elementos visuais que fazem de A Coisa uma história bem familiar, estão todos lá. Existem algumas cenas completamente re-imaginadas, certos personagens mudam de destino e tudo é bem recebido, mas não dá para ser o mesmo universo sem o balão vermelho, sem Henry Bowers extrapolando as definições de bullying e é claro, sem o palhaço. Tim Curry era o cara! Eu considero o ator um patrimônio para o cinema como é agora Andy Serkis (Gollum), mas com o mérito de ter criado seus personagens sem computação gráfica. A interpretação de Tim como Pennywise marcou uma época e agora Bill Skarsgård herda o papel e o torna seu. Eu meço o sucesso da performance de Bill, pelo fato de depois de ter visto o trailer assim que foi lançado, ficar fugindo do mesmo que teimava em aparecer como propaganda antes de vários vídeos no youtube; eu fugi com a mesma aflição que me fazia evitar encarar o v.h.s. na locadora com o Pennywise antigo na capa.

Na história, mais uma criança desaparece na cidade de Kerry, que eu juro, parece ser a mesma onde filmaram o original e por um tempo todos se desesperam. Até que outra some, depois outra e a preocupação parece “flutuar” de vítima em vítima até desaparecer, quando os cartazes de alerta espalhados por todo o canto, são substituídos por avisos de outra natureza. Contrariando a tradição local, Bill se recusa a esquecer o irmão Georgie e para investigar o que está acontecendo, se junta a um bando de desajustados que como ele, estão recebendo visitas de uma entidade sobrenatural vestida de palhaço. Assim como no original,  a amizade entre as crianças é a base de todo o filme e os atores não decepcionam. Eles brilham em todas as cenas em que Pennywise ataca, e se eles enchem o saco com a falação quando estão sozinhos, bom, crianças nunca sabem a hora de parar de falar a não ser que um adulto diga alguma coisa, mas nunca há realmente nenhum por perto.

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O filme criou sequências memoráveis sem precisar imitar o clássico de 90, como as mãos torradas atrás da porta que lembram a família perdida do pequeno Mike, ou a cena dos slides ganhando vida, ou a belíssima e assustadora cena que só poderia ter sido feita nos dias de hoje, das vítimas flutuando no esgoto. Eu tinha esperanças no entanto, de que esta nova versão esclareceria coisas como Derry ser a cidade escolhida para a maldição e o porque de tudo, porque geralmente os remakes gostam de prestar contas, mas eu entendi que It não é sobre o palhaço, ou se chamaria Pennywise e não A Coisa. O filme é a própria infância, já que quando se é criança, tudo o que parece estranho nos dá medo, inclusive o bozo. Medo do quadro se mexer, medo de perder o barquinho feito com tanto gosto pelo irmão mais velho, medo de que a puberdade atraia de uma vez o pedófilo… Eu gostei muito do filme, mesmo tendo que assistir com um bando de moleques que não sossegavam no cinema. A minha nova esperança é que daqui há 27 anos façam outro remake, e eles retornem para o cinema mais velhos, para obter redenção.