A origem da origem… da origem.

Eu não entendo… alguém aqui acredita que aquele negócio poderia ser um brinquedo lucrativo? A boneca é muito feia, até para os padrões da época em que foi feita, não só isso, ela é propositalmente assustadora, então não teria apelo com criança nenhuma, e pela primeira vez temos um artesão responsável para xingar pelo design sem-noção que ela tem. Annabelle também nunca teve muito carisma do lado de fora das telas para carregar um filme sozinha, mas ainda assim, fomos ofertados com mais uma tentativa de contar sua história. Para a minha perplexidade e contrariando o desempenho fraco do primeiro filme, Annabelle 2 é um esforço bem sucedido do diretor David Sandberg, do longa e do curta Lights Out, que está devagarzinho construindo o nome em Hollywood. Ele entendeu que Annabelle é pra ser uma presença pouco requisitada, dentro e fora da tela e a transforma em uma coadjuvante em sua própria história.

Como spin off, Annabelle 2 funciona bem porque possui todos os elementos que fizeram de Invocação do Mal um grande sucesso. Pra começar: personagens próximos da realidade e em grande número. Em Invocação, o núcleo central do filme mudava do casal Warren para a família Perron e vice-versa, tornando a história bem dinâmica, sem afetar o gênero “casa mal-assombrada” que era o tema principal. Aqui, a família do começo do filme, perde o posto de protagonista sem sair de cena, quando, anos após terem sido atingidos por uma tragédia, eles resolvem acolher os ex-ocupantes de um orfanato recentemente fechado. Logo chegam a freira responsável e as meninas, somente meninas, em um ônibus próprio, que de maneira prática serve para levá-las de um lugar para outro sem que ninguém precise se apertar no banco de passageiros. Entre as crianças estão Linda e Janice, duas das órfãs mais sensíveis e co-dependentes recém-chegadas na casa. O filme também imita o uso descarado de truques velhos de terror como o original, na forma de fantasma embaixo de lençol, fotos de espíritos e eletricidade com vida própria.

ANNABELLE CREATION 1

Eu acho que quando um filme sabe criar uma conexão forte entre personagens e público, os truques antigos fazem mais efeito do que qualquer artimanha dos demônios mais criativos. Janice é tão encantadora com suas próteses, que até me fez procurar os sintomas de pólio depois de ver o filme. Sua cara-metade Linda, é igualmente o tipo de criança que seria uma bênção para qualquer família em busca de um acréscimo. Elas sonham em serem adotadas juntas, demonstrando um tipo de ambição simples nascida e alimentada por amor. Isso só serve para aumentar nossa angústia, quando a boneca que estava escondida e trancada por anos na casa, desperta e se apresenta para a moradora nova com grande dificuldade para correr, caso precise.

 

É estranho que, conhecendo Annabelle de outros filmes, eu não saiba exatamente o que esperar dela. Ela se mexe, mas para a nossa paz cinematográfica, ela não sacode como o Chucky. Tudo é muito discreto com ela, ao contrário de outras aparições no filme. Na primeira noite das crianças do orfanato na casa, quando a boneca ressurge, não está claro qual é exatamente o seu papel em todo o caos que está para acontecer. Eu vejo que as sequelas no casal Mullins vão além de luto e tento me preparar para o pior. Quando o bicho começa a pegar de verdade, é que cai a minha ficha. As órfãs que dependem da caridade dos Mullins, já vivem com o medo primordial de perder a moradia, então não é uma questão de fazer com que os adultos da casa acreditem no perigo invisível, mas sim de fingir que o perigo não existe, em um exercício contraditório de auto-preservação. Pela primeira vez desde que deixou a companhia de Ed e Lorraine Warren, a boneca me dá muito medo.

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A irmã Charlotte até pede pra galera na casa maneirar nos jump scares, mas o diretor não escuta e recheia o filme de sustos. Só que ele também usa este artificio para explicar que seres das trevas adoram aterrorizar suas vítimas, antes de atingirem seus objetivos finais. Annabelle 2 não ignora Annabelle 1, ou o julga como um erro como eu faria, ao invés disso, o utiliza para fornecer um desfecho mais do que satisfatório, capaz de partir o seu coração. Além de finalmente mostrar as origens da boneca e servir de plataforma para mais um filme com outra entidade malígna.