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Dirigido por James DeMonaco

Este ano pode ser o último com o passe-livre para cometer crimes por uma noite.

Os sádicos mascarados anuais estão de volta e com eles, agora mais forte do que nunca, está a discussão sobre a legitimidade do feriado sangrento. Neste ano de guerra entre republicanos e democratas nos Estados Unidos da vida real, nada mais apropriado do que uma disputa de ideologias nas telas. De um lado, uma candidata de um partido independente que quer acabar com a matança, porque na adolescência escapou de um massacre facilitado pela noite em questão. Do outro lado, o candidato do governo atual, tentando manter a tradição, junto com os ótimos resultados socioeconômicos que ela garante, já que a grande maioria das vítimas da noite de crime são os mais pobres da população.

A candidata da oposição tem um motivo válido para não fugir para outro país naquela noite. Que credibilidade teria a mulher que se diz uma representante do povo, se ela fizer o que grande parte desse povo não tem condições de fazer? O problema é que como sociedade funcionamos em ciclos, e o que parecia a solução para todos os males começa a sofrer a rejeição inevitável. Nesta disputa pelo maior cargo executivo do país, a população começou a perceber que a qualidade de vida não melhora tanto, quando o preço é um dia de impunidade. Por esse motivo, a Senadora anti-crime está indo muito melhor do que se esperava nas pesquisas e o outro lado está apavorado, mas como estão ainda no poder, resolvem arriscar a própria pele revogando o direito à proteção que os políticos possuem na data.

Purge, The, Election Year (2016)

Diz a regra cinematográfica, que a segunda sequência precisa mostrar que reconhece suas origens. Uma Noite de Crime 3 presta homenagens ao filme 1, com a casa sofrendo uma tentativa de invasão e a vítima-estopim acolhida por Ethan Hawke na primeira história, fazendo uma participação especial nesta aqui. Mas com muita sensatez, os realizadores preferem repetir a fórmula do segundo filme, que foi melhor escrito e dirigido. Um grupo de vítimas em potencial fica solto pelas ruas e o protagonista que buscava vingança no filme 2, está encarregado da segurança pessoal da candidata mártir, que prefere morrer como a trair as próprias convicções, na pior noite do ano.

Sempre foi uma ótima ideia transformar um país inteiro em um filme de terror. O foco da história desta vez é Washington e a cidade do presidente não exibe muita diferença em relação às outras em termos de segurança. A carnificina é tão absurda quanto em qualquer outro lugar. O que sempre funciona muito bem é a antecipação. Uma mistura de medo e excitação com a contagem regressiva até o fim do prazo para arranjar um local seguro. O filme é cheio de surpresas, ainda mais considerando que é a terceira versão da mesma história. As pessoas fazem planos o ano inteiro para a data, de proteção… e de diversão, mas imprevistos sempre acontecem para derrubar estratégias e o que o público espera que vá acontecer. Não se pode subestimar ninguém.

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Uma coisa que me incomoda nestes filmes é que por mais louco que um cidadão seja para sair na rua naquela noite, tem sempre outro doido, mais bem armado e em um grupo maior, para deixar o primeiro louco tão vulnerável quanto uma pessoa normal. Os Estados Unidos representados nesta cine-série não são apenas cruéis, são impossíveis. A coisa toda funcionaria apenas uma vez e não por 2 décadas como eles dizem, sem transformar metade da população em canadenses através dos anos. Eles até brincam com a ideia de estrangeiros entrando no país para praticar um dia de “turismo do crime”, mas não seriam os estrangeiros os alvos mais fáceis, de quem quer matar alguém de uma terra distante, para não ter que sofrer com a retaliação de parentes de compatriotas no ano seguinte? Para ser justa, o filme deixa claro que estar nas ruas é um prazer mas também um risco para os sádicos. Ninguém está a salvo, nem mesmo os mais bem equipados e eu consigo admitir que existe gente por aí que não se importa se morre ou mata, quer apenas participar.