
Seis estranhos enfrentam as armadilhas de uma estrutura gigantesca dividida em diversas salas em formato de cubo.
Cada parede possui três blocos (um metro mais ou menos cada bloco) de largura e três blocos de altura. Quatro paredes, um teto e um piso, como o de costume em salas normais, só que elas não são normais. Cada sala possui quatro aberturas no estilo escotilha e cada abertura leva a uma outra sala, sempre com o mesmo tamanho e design, mas algumas tem cores diferentes. Escolher ir sempre para um determinado lado, para passar de uma sala para outra em busca de uma saída, se torna uma decisão tão desesperadora quanto pular de sala em sala de modo aleatório, já que depois de algumas horas o labirinto parece infinito, mas essa não é a pior parte. Algumas salas são especiais e reservam surpresas letais para os afobados que entram nelas sem muito cuidado.
Este filme sobre uma experiência macabra que dá muito certo, no sentido de que a engenhoca e quem se encontra nela funcionam exatamente como se espera; se tornou um clássico cult na velocidade em que o boca a boca aconteceu nas video locadoras. Não tem ninguém famoso, poucos efeitos e apesar da minha descrição no parágrafo anterior, apenas um cenário, usado de uma forma inteligente para parecer múltiplo. Sem nenhuma lembrança da abdução, do transporte até o local ou de um motivo, algumas pessoas acordam em salas diferentes do grande cubo. Passando o choque inicial, elas começam a atravessá-lo de compartimento em compartimento, até que as que tem sorte para sobreviver às armadilhas de determinadas salas se encontram em um só local. Cada pessoa no cubo tem uma habilidade diferente, algo que as torna indispensáveis em um plano de fuga e ele é totalmente possível, mas as regras do jogo são reveladas aos jogadores e ao público aos poucos, geralmente quando um erro fatal é cometido.
Entre os relutantes jogadores, tem uma médica, um policial e até um especialista em escapar de prisões. Todos eles parecem ser bons no que fazem e unidos com o mesmo objetivo, conseguiriam fugir do cubo mesmo com muito trabalho e depois de levar um bom tempo. Mas apesar de serem competentes em suas funções, os prisioneiros não estão exatamente em sintonia. Em muitas ocasiões a grande máquina não é o item que oferece o maior risco no grupo. Por conta do desprezo por algumas funções e até pela vida de alguns aprisionados, nem todos acreditam que a colaboração seja o melhor caminho, o que garante momentos de grande tensão e entretenimento em um filme de cenários e ações repetitivas.
Cubo coloca seus personagens em uniformes identificados por nomes, como se nada passasse de um jogo e é isso o que mais os apavora. Como um quebra cabeças que eles são forçados a montar para sobreviver. Um slasher high tech cuja vantagem sobre o similar big brother from hell Jogos Mortais é a rapidez das mortes. O sofrimento se limita à antecipação e à frustração a cada novo cômodo descoberto, sem apelações. Me faz pensar que sem as armadilhas, o filme ainda seria um interessantíssimo exercício de lógica na tela, e o terror estaria presente pela agressividade que o loop aparentemente interminável provoca nos personagens. A desvantagem é o quanto aquelas armadilhas parecem datadas, evidenciando o baixo custo da produção, mas depois de anos a precariedade dos efeitos ainda é ofuscada pela eficiência do roteiro. Cada fase do filme é extremamente divertida, seja uma descoberta apavorante sobre uma situação ou personagem, ou um passo que deixa todos mais próximos à saída.
As questões que todo mundo faz quando assiste ao filme, como quem é a mente maquiavélica no comando de tudo ou qual seria o objetivo, já são perguntadas pelos próprios personagens por todo o filme. Eu devo dizer que fiquei satisfeita com as respostas e com a falta de algumas delas. Existe gente no Cubo que nem mesmo possui o intelecto para entender a gravidade da situação, e se isso é permitido em uma das vítimas, é bem possível que a filosofia do filme permita que quem está do lado de fora, se houver alguém, tenha a mesma inocência. Não existe competição, se der, todo mundo sai. Quem procura por vilões e se posiciona como um herói, está condenado a ficar preso no caos proporcionado pelo mecanismo. Quem conseguir enxergar a ordem impessoal dentro do caos conseguirá escapar, se o herói permitir. Mas é sempre assim em qualquer lugar, aberto ou fechado, com ou sem armadilhas.