the conjuring 2
Dirigido por James Wan

Para cada demônio que você expulsa…

Nesta continuação do grande sucesso de 2013 não faltam referências. Além da boneca famosa e do brinquedo giratório do primeiro filme, James Wan presta homenagem ao machado na porta de O Iluminado, balança camas de meninas como fez O Exorcista, coloca um menino em uma tenda como aquela de Sexto Sentido e abre o filme colocando Ed e Lorraine Warren na casa infame em Amityville. Wan se tornou um expert em criar franquias de terror, porque ele entende o que realmente funciona em cada uma delas, por exemplo em Sobrenatural 2, acompanhamos o desenrolar do sofrimento dos Lambert, mas em Invocação do Mal 2, por mais que a família assombrada do primeiro filme tenha toda a nossa torcida, o verdadeiro apelo para a produção de uma continuação para Invocação 1, vinha do desejo do público em assistir a mais uma aventura baseada em fatos reais do casal de investigadores paranormais.

Lorraine começa a história querendo dar fim à carreira de médium. Ninguém poderia culpá-la quando o serviço é perigoso para o corpo e para a alma, e ainda tem a audácia de seguí-la na volta para casa. Geralmente quando um personagem é muito devoto a uma religião, a tendência é que o público desconfie de suas intenções, mas Ed e Lorraine conseguiram um passe livre para rezar. É importante que as crenças de gente real retratada no cinema sejam respeitadas, mas mais do que isso, é a fé e a dedicação que eles têm pela Igreja Católica, que fazem deles heróis em um universo cheios de vilões super poderosos. Se eles demonstram que acreditam, a gente também precisa acreditar para acompanhar o filme e não é como se Lorraine estivesse com dúvidas, pelo contrário, ela acredita tanto que está morrendo de medo. Essa imperfeição na bravura mas não no caráter dos Warren, foi o toque de humanidade que chamou a atenção e provocou a empatia do público desde o início.

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De um lado do Atlântico nos Estados Unidos, os acontecimentos já estão bem avançados quando a nossa dupla dinâmica chega. O jovem Ronald DeFeo já está preso há anos pelas mortes de Amityville e a família Lutz também já teve tempo de morar e fugir da casa para escrever um best seller. Lorraine e Ed chegam na casa com outros estudiosos de fenômenos extraordinários, para verificar se a casa é assombrada como afirmam os Lutz, e se existe um demônio no local que possa ter influenciado DeFeo a matar toda sua família, como jura o prisioneiro. Em seguida do outro lado do Atlântico, em uma parte bem pobre da Inglaterra, a família Hodgson sofre com problemas semelhantes, que estão piorando rapidamente e se concentrando cada vez mais em Janet, a filha do meio.

Existe um grande problema com a história da família neste segundo filme. Se você fizer uma busca rápida online, irá encontrar um vídeo bem comprometedor dos verdadeiros Hodgson, falando das assombrações em tom de deboche. O pai saiu de casa e as crianças realmente precisam de atenção. Apesar de conseguirmos ver o que a pequena Janet vê, além da mãe e dos irmãos dela, dos vizinhos e até de uma dupla de policiais, Lorraine não enxerga nada além de uma família castigada pelo abandono e pela falta de dinheiro. É uma grande sacada do diretor, gerar este conflito entre o público e a vidente, porque nos faz duvidar de Janet como se não pudessemos confiar nos nossos próprios olhos. Lorraine diz ter visto um demônio em Amityville, mas DeFeo continua preso até hoje, cumprindo seis sentenças de prisão perpétua, porque ninguém vê o que ela vê, e é por isso que Invocação do Mal 2 fala muito sobre credibilidade e a sua importância para o trabalho realizado por paranormais. Classificar uma coisa tão séria como fraude, é uma decisão que no filme pode ser fatal.

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Os espíritos que James Wan coloca na tela tem sempre a mesma carinha esquisita, mas eles não falham em assustar em cada uma das muitas sequências em que aparecem. Os departamentos de escolha de elenco e de maquiagem também estão de parabéns, pela transformação dos atores para os seus respectivos papeis, com menção especial às duas meninas da família. Patrick Wilson e Vera Farmiga não se parecem muito com Ed e Lorraine Warren, mas carregam com respeito e leveza os trejeitos de seus personagens e ainda somos agraciados com uma palhinha da voz de Wilson, que não ouvíamos desde O Fantasma da Ópera. A vilã principal, que cheia de malícia usa a roupa de uma freira, consegue estar à altura da terrível Annabelle e será um ícone como ela, mas eu peço que por favor não lhe concedam um filme próprio. Acho que podemos concordar que não há necessidade, certo?