Em tempos de vacas magras, o Muito Molho oferece ao seus leitores três filmes pelo post de um, para ver se “os negócios pegam no tranco”e eu consigo atrair a clientela. Há algum tempo, sem planejar eu assisti a três filmes de terror com exatamente o mesmo tema, em um intervalo muito curto para não notar a semelhança entre eles. Nos três, as histórias falam de gente desesperada por dinheiro, concordando em realizar tarefas embaraçosas, perigosas e até criminosas para a satisfação mórbida de milionários. Os filmes também foram lançados com apenas um ano de diferença entre eles, o que mais parece uma tendência do que uma coincidência. Um daqueles fenômenos cinematográficos de multiplicações, como a leva atual de adaptações de heróis dos quadrinhos, a retomada dos slashers nos anos 90, ou simplesmente o surgimento simultâneo de atores com rostos muito parecidos, a ponto do público confundir quem é quem (tipo Javier Barden e Jeffrey Dean Morgan). É um post que sugere que a indústria do cinema pode também agir como o mercado financeiro, alertando aqueles em busca de uma solução milagrosa para o saldo negativo na conta. Eu vou falar dos filmes em ordem de lançamento, já que não tenho exatamente um favorito entre eles. Recomendo os três.
WOULD YOU RATHER – 2012

Você terá em filmes de terror vilões notáveis, vítimas heróicas, cenários apavorantes, mas quando o assunto é gente esquisita, o ator Jeffrey Combs (de A Hora dos Mortos Vivos e Os Espíritos) dá um baile em qualquer um disposto a desafiá-lo no quesito. Ele é inesquecível em qualquer filme do qual faça parte e neste não é diferente. Jeffrey interpreta um ricaço patrocinador de um evento anual, reunindo em sua mesa de jantar, diversas pessoas comuns com problemas financeiros urgentes. Os convidados irão participar de uma competição de “Would you rather”, que é um jogo popular nos Estados Unidos, basicamente oferecendo duas alternativas com o mesmo valor para serem “preferidas” pelos participantes. Na vida real, a brincadeira é inofensiva e limitada à duas péssimas escolhas hipotéticas, mas no filme, a seleção precisa ser “cumprida”, sendo que as alternativas são horríveis e também eliminatórias, se é que você me entende.
Participar do jogo não é opcional, afinal, cada necessitado levou tempo e dinheiro para ser encontrado, investigado e trazido de diversas partes do país para o evento. Outra coisa, a proposta do anfitrião é super indecente, não permitindo que desistentes saiam da mansão divulgando as violações de direitos humanos do milionário. Só a compensação financeira não é o suficiente para calar os participantes, é preciso que todas as mãos estejam sujas de sangue, antes que o jogo chegue ao fim.
CHEAP THRILLS – 2013

Existe uma turminha de diretores/atores/escritores que se desdobra entre estas profissões, sem muito apoio de produtores estabelecidos na indústria, para realizar alguns filmes de terror ousados demais para Hollywood. São pessoas que a gente acompanha de vez em quando em filmes que pagam as contas, mas que se aventuram em produções que nunca saem do circuito dos festivais para a tela grande, por causa de uma propaganda boca a boca mediana e da resistência dos realizadores em alterar o conteúdo do filme para agradar, ou para pelo menos ser tolerável para o público mais sensível. São quase sempre os mesmo atores, causando aquele desconforto por interpretar gente próxima demais da realidade, mesmo em situações malucas.
Craig acabou de perder o emprego e decide tomar umas doses de coragem no bar, antes de ir pra casa e encarar a esposa. No local, ele encontra um velho amigo que, passando pelos mesmos problemas e há mais tempo, decidiu aceitar trabalhos ilegais para garantir o pão de cada dia. No bar eles são abordados por um casal obviamente deslocado, sendo tão sofisticados em um local tão mixuruca. É o aniversário da esposa e o marido quer celebrar propondo desafios para os dois amigos, por uma recompensa em dinheiro, é claro. Não há nenhuma arma apontada para a cabeça de ninguém e os dois podem ir embora a qualquer momento, mas a brincadeira os envolve assim como o filme nos envolve. No início, as tarefas são super divertidas, até para os participantes e a quantia em dinheiro oferecida não é grande coisa, mas parece dinheiro fácil. Ele só fica difícil, quando a oferta é generosa o suficiente para fazer grandes mudanças na vida dos dois e quando o jogo vira uma competição, os amigos são forçados a se superarem em busca da atenção do casal. Cheap Thrills é um filme muito pervertido, porque quando o negócio fica doloroso e com consequências permanentes nas mentes e nos corpos dos dois amigos, eles se mostram dispostos a irem além na próxima rodada, já que a recompensa só aumenta, e eles largaram a ideia de orgulho e dignidade que tinham em suas vidas até então.
13 SINS

Elliot não sabe quem está no comando, porque as propostas chegam por telefone, mas assim que completou a primeira tarefa e viu o dinheiro caindo diretamente na própria conta, não duvidou de mais nada e começou a jogar. A situação do personagem principal é um pouco diferente das dos outros filmes deste post, por mais que Elliot também esteja nadando em dívidas. O filme tem um bom orçamento, então o protagonista não fica limitado a apenas um lugar, na verdade, ele passa por diversas partes da cidade, pulando de missão em missão, sendo livre para parar o jogo a qualquer momento. O problema, além do óbvio aumento na dificuldade para completar cada tarefa, é que apesar dos prêmios em dinheiro surgirem em quantias cada vez maiores, se Elliot desistir antes de terminar os “13 pecados” combinados com a voz no telefone no começo de tudo, o dinheiro que ele havia conseguido até o momento desaparece.
O filme se apresenta como um acordo entre cavalheiros, de uma parte não só depositando corretamente o dinheiro, como esclarecendo o número exato de missões a serem realizadas, sem alterações causadas por ânimos exaltados, mas não dá para confiar em gente que adora transformar a vida dos outros em uma brincadeira. A soma total do dinheiro no final é a mais tentadora entre os três filmes, mas como cada passo é mais complicado e comprometedor, pode não ser uma boa ideia para Eliot estar tão solto e exposto pelas ruas.
Menção honrosa ao famoso (porém péssimo) “A Serbyan film” e “The box”. 😛