Crimson-Peak-Movie-Poster
Dirigido por Guilhermo del Toro

Apesar dos alertas deste e do outro mundo, Edith vai de encontro ao violento destino.

 

Não há muita preocupação com surpresas. Você sabe quem é o vilão, sabe o que ele fez, sabe até onde o veneno é escondido, porque del Toro expõe todas as informações necessárias para que você passe o filme inteiro temendo e não tentando desvendar um grande segredo. Essa escolha não faz de A Colina Escarlate um filme melhor do que aqueles que permanecem mais misteriosos por muito mais tempo, só faz com que o filme seja diferente, é uma abordagem diferente porque ela também precisa existir no mundo do terror. Em muitas ocasiões de perigo, a cegueira é coletiva e todos são enganados, mas em outras ocasiões, o charme de um mau elemento só funciona com a presa, e quem está ao redor acompanhando o desastre iminente tem duas opções: abrir a boca e perder o amor da vítima, ou calar-se e virar cúmplice do bandido.

Pode ser Mia Wasikowska no papel principal, ou o estilo gótico em cenários e roupas, já que eu sinto uma atmosfera meio Tim Burton no ar. Isso até que a quantidade de sangue no filme, me faça reconhecer que esta é realmente uma obra de Guilhermo del Toro, outro diretor também adepto da fantasia, mas com cenas onde a violência extrema parece ter saído de filmes menos comerciais. Os fantasmas de del Toro são mais sofridos e suas feridas nunca saram, porque se eles ainda estão entre nós, é pela selvageria que marcou suas mortes. Não são espíritos tímidos, aparecendo de diversas maneiras o tempo todo, do jeito que o diretor gosta, apavorando o assombrado e fascinando o público. Somente uma pessoa no filme os vê, e basta que seja ela, uma pessoa que sempre esteve certa de que fantasmas existiam.

crimson peakEdith é uma jovem aspirante à escritora, que perdeu a mãe quando ainda era criança. Ela acha que por ser uma empreendedora, está acima do resto das mulheres “criadas para serem esposas”, e recebe sem muito entusiasmo os avanços românticos de um amigo de infância. Os encontros e desencontros amorosos nos livros não a interessam, ela prefere escrever sobre perda e fantasmas. A autora Jane Austen com certeza não é uma fonte de inspiração, mas o cinismo de Edith não será o suficiente para livrá-la do amor, quando um estrangeiro misterioso literalmente bate à sua porta.

O engraçado é que quando alguém descreve Thomas para Edith antes que ela o conheça, Edith já reconhece que ele não passa de um parasita com um título nobre. Se o filme fosse um romance de época, eles iriam se conhecer, passar algum tempo juntos e ela aos poucos mudaria de opinião sobre ele, mas estamos em um filme de terror, que apesar de ser cheio de imaginação, não poderia estar mais próximo da realidade. Basta um elogio, do forasteiro acompanhado da irmã esquisitinha, ambos desesperados por dinheiro, para que Edith abandone a razão e se deixe levar pelas ilusões. Thomas tem uma invenção que pode ou não funcionar e o pai de Edith é um investidor que se recusou a financiá-lo, então nada mais vingativo do que seduzir e enganar a filha do velho, certo? Errado! Este é um filme sobre pessoas que não atendem às espectativas, seja as do público ou dos próprios personagens, para o bem ou para o mal. Uma fantasia sobre a realidade.

CrimsonPeak1Uma jovem cheia de dinheiro é um alvo para qualquer pilantra, mas Edith teve, digamos, a felicidade de receber as visitas da mãe morta (que se esquece que é um fantasma e apavora a menina), fazendo profecias sobre um futuro do qual a filha dificilmente escaparia. Edith larga tudo para trás e se casa com Thomas, indo morar com ele e a inseparável irmã dele na mais bela das mansões na Inglaterra. Eu não estou exagerando, porque Edith tem dinheiro, mas Thomas herdou um título de nobreza e será sempre o senhor de uma bela e gigantesca casa. O lugar é tão bonito, que nem a negligência com reparos indispensáveis e limpeza, conseguem deixá-la menos atraente. Nem a escuridão ou os diversos fantasmas a rebaixam à classificação de mal-assombrada. O problema não é a casa, são as pessoas que vivem nela e por sorte, o alvo da falcatrua se comunica com os alvos que já se foram. Mas será que pelo menos os conselhos do além conseguirão quebrar o encanto da jovem apaixonada a tempo de salvá-la?

É um filme com atuações maravilhosas, especialmente a de Jessica Chastain como Lucille, a irmã chiclete. Tem uma história muito simples, que poderia ser contada no rítmo e duração de uma fofoca, mas por ser tão familiar, deixa um gosto amargo na alma, assim como uma notícia de jornal verdadeira de características semelhantes deixaria. Nos simbólicos filmes de Guilhermo del Toro, o bem pode até prevalecer no final, mas não antes que o mal faça um estrago irreparável. Além dos espíritos, Edith podia contar com o faro infalível do pai para identificar picaretas, pelo menos por um tempo. É impressionante que o velho consiga uma coisa muita rara nestas situações: provas! O problema é que ele acredita que não precisa usá-las, mas não é sempre assim que acontece? O pai não queria perder a confiança da filha, e por isso corre o risco de vê-la se transformar em uma vítima.