
Esquiando em uma montanha na Noruega, cinco amigos viram presas de um maníaco assassino.
Um local isolado, um grupo pequeno de vítimas e um assassino sobre-humano, tão confiante sobre a própria eficácia que dispensa armas de fogo. Todo filme de terror da categoria slasher segue uma fórmula, e é interessante que em uma indústria com sede de novidades, a repetição de algumas regras não seja algo cansativo. É claro, nem todos os filmes com as mesmas características são bons e eu acho que isso tem a ver com respeito, pelo público e pelo próprio trabalho. Se o que se espera é carnificina, então ela estará presente, mas ela só irá nos impressionar, nos apavorar e comover, se a gente se importar com quem está morrendo, se acreditar que aquelas mortes são inevitáveis e acreditar que o vilão é muito mais do que um cara sortudo. Presos no Gelo não chega a reinventar as regras, mas é competente naquilo que se propõe a fazer e vai um pouco além em algumas ocasiões.
O filme fez tanto sucesso na terra natal, que gerou duas sequências e eu acredito que não só pela popularidade do esqui no país. A história é sobre um grupo de cinco pessoas, todos com nomes que eu mal consigo pronunciar, viajando pelas montanhas cobertas de neve durante as férias, para bem longe do circuito utilizado pela maioria dos praticantes do esporte. A ideia é fugir dos teleféricos, turistas e qualquer outra coisa que não corresponda ao espírito radical e rústico do esqui. Geralmente a palavra paraíso é usada para descrever um local com areia e palmeiras, mas o adjetivo cabe muito bem no inverno da Noruega. O lugar é de tirar o fôlego, do tipo que se vê de vez em quando no Instagram da National Geografic e dá para entender que não seria apreciado totalmente com muita gente em volta. Eles colocam seus equipamentos e esquiam livremente como a destreza de profissionais, mas acidentes acontecem, aí a gente se lembra que isolamento também afasta os mais reservados de assistência médica e policiamento.
São dois casais e um solteiro com uma fratura exposta, que sabem o que fazer, mas sem muitos recursos. Para a conveniência dos personagens e minha sensação de deja vu, eles encontram um hotel abandonado cercado pela neve. Uma sensação reforçada, quando o único quarto que se destaca no filme é o de número 237. É um hotel típico de filme de terror, então ele já causa medo só por existir, mas também é um hotel típico, com gerador, lareira e muita bebida destilada e em pouco tempo nem a perna quebrada segura a festa. O plano é passar a noite e no dia seguinte, com a ajuda do que conseguirem encontrar, levar o acidentado de volta para o carro estacionado do outro lado da montanha e de lá para o hospital mais próximo. Mas se você já preencheu a sua cota de slashers, eu não preciso lhe dizer que fazer planos logo no início de um filme de terror, é tão útil quanto apaixonados sem conflitos logo no início de um romance.
Não é O Abominável Homem das Neves, ou um fantasma que assombra o hotel, mesmo que o local tenha sido marcado por tragédias. É apenas um homem, tão humano que como nós direciona muito mal a raiva, mas familiarizado com o local e habituado à temperatura. Um sujeito persistente e resistente, que transformou a sessão de achados e perdidos do hotel em achados e tomados pela força. Eu não entendo muito sobre caça, mas a técnica utilizada aqui me faz pensar no porque ela é tão apreciada por vilões. Como é apenas um predador e diversas presas, o sensato (se é que podemos usar essa palavra quando falamos em serial killers) é esperar pelos momentos oportunos em que um dos amigos fica sozinho e sem ser requisitado por muito tempo, para atacar sem que os outros suspeitem, até que o grupo seja reduzido a um número razoável. Funciona por um tempo, porque os esquiadores não são idiotas ou completamente indefesos e estar em vantagem não quer dizer não encontrar dificuldade.
A briga pela sobrevivência é toda a diversão do filme e ela é mostrada de uma forma plausível, sem heróis e com reações naturais ao perigo, de coragem e de covardia, sem julgamentos, o que já representa uma tentativa modesta de inovação. Apenas as circunstâncias e não a personalidade determinam quem vive ou morre. O que também surpreende é que o vilão tenha um rosto e que Presos no Gelo tenha um desfecho que realmente precisa de continuação. É a cereja no sundae, quando as regras são seguidas com apreço pela importância que elas têm, com atenção ao rítmo no desenrolar da história e à empatia pelos personagens.