Dirigido por Derek Lee e Clif Prouse
Dirigido por Derek Lee e Clif Prouse

O fim não é tão certo, para um homem com uma doença terminal.

O gênero terror tem muitas ramificações e às vezes vemos combinações de estilos que dão certo. Sobrenatural com gore, zumbis com ação, serial killer com comédia, mas a mistura em Infectado eu ainda não tinha visto e nem sabia que era possível. Basta dizer que se trata de um found footage e só, porque grande parte da diversão no filme é descobrir gradualmente o que a câmera na mão foi convocada para mostrar. O filme venceu alguns prêmios em festivais de cinema independente, provando que inovação sempre chama a atenção, ainda mais se acompanhada de uma história bem contada.

Derek Lee e Clif Prowse são os roteiristas e diretores do filme. Amigos de longa data, resolveram também estrelar este que é o primeiro longa da dupla, usando seus nomes verdadeiros e vários aspectos de suas vidas. Com tanto pano de fundo, poderiam ter até usado o plano de marketing de A Bruxa de Blair, mas optaram por uma promoção menos repetitiva. Nesta história, eles são melhores amigos com um projeto de volta ao mundo em um ano. A viagem vai ser documentada por Cliff, no papel dele mesmo, um diretor de filmes, e irá percorrer todos os continentes e diversos países. Derek encabeça a ideia sob os protestos da família, já que o objetivo da viagem é mais do que farra de amigos ou a oportunidade de realizar imagens belíssimas. A jornada é basicamente uma despedida, porque Derek está com um tumor inoperável no cérebro.

Afflicted 1Imagens muito bem produzidas ilustram o início da viagem. Cortesia da desculpa do documentário sendo realizado por um cineasta de verdade. No entanto, a costumeira câmera nervosa está no filme, nas mãos de Derek, o personagem inexperiente em cinema, coletando imagens de apoio para o filme e são elas que mais interessam ao público, porque é através delas que a história será contada. O filme usa uma interatividade de mentirinha como permissão para usar trilha sonora e artes gráficas. Tudo o que os rapazes vão filmando é editado e postado em um blog onde sugestões e comentários de terceiros são bem vindos. Só que toda a parte estética não transforma o filme que estamos vendo em um documentário, mesmo que o material não seja abandonado para ser “encontrado”. Ainda é um found footage, porque, por conta dos eventos que ocorrem com os dois, não há chance de finalizar o filme decentemente.

Os rapazes encontram alguns amigos, atravessam algumas fronteiras, passeiam, bebem, se divertem, mas nem chegam na metade da Europa, continente que era o ponto de partida no roteiro da viagem, sem que Derek conheça uma linda garota e tenha com ela um encontro fora do comum. Ferido e ensanguentado, mas averso a hospitais desde o diagnóstico infeliz, Derek recusa a ajuda médica que o amigo corretamente oferece. O incidente foi além dos medos expressados por familiares em relação à viagem, mas nada tem a ver com ela. Poderia ter acontecido em algum bar perto de casa, com alguma maluca local. Derek faz bem em não se deixar desanimar, mesmo porque, um hospital ou a interrupção da viagem não resolveriam o problema dele, principalmente quando o filme deixa de ser um típico programa do Discovery Travel and Living, para se tornar uma verdadeira história de terror.

Afflicted 2Derek é um cara legal, sempre foi, e é importante para o filme que a personalidade dele não mude. Para não estragar a surpresa, não cabe revelar o que irá acontecer com ele, basta dizer que é muito interessante que uma transformação tão familiar para o universo de terror, seja retratada lentamente, com todo o fascínio, instabilidade, perturbação e finalmente, pavor, que sempre deveria existir em um filme de terror que elimina a quarta parede. Ferimentos terríveis surgem, mas desaparecem sem tratamento e a fome incontrolável não permite que o coitado coma nada. A cada estágio da conversão de homem para o que quer que seja, Derek mantém a própria essência, nos lembrando do quanto todo o processo é digno de fazer parte do lado mais sombrio da história do cinema.

O filme felizmente não sofre do “mal de found footage”, em que a suposta falta de planejamento (que sempre faz parte da história), acaba inundando o filme com cenas arrastadas e desnecessárias. Não há enrolação. Ao que tudo indica, mesmo com dois operadores de câmera, elas são ligadas somente quando há algo interessante para ser mostrado ou dito. O mesmo vale para os sustos no filme. Nenhum é gratuíto, um deles até me fez pular da cadeira sem sentir raiva, porque como tudo está acontecendo de verdade, não era pra assustar, era pra dar pena.

Obs.: Não perca a cena que aparece durante os créditos finais.

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