
Um casal compra uma câmera de vídeo, para registrar os estranhos acontecimentos na casa.
Para os que gritam “Bruxa de Blair 2.0”, eu digo que o filme tem mérito sim! Não é um modo original de filmagem, nem uma história incomum. Casas já foram mal assombradas antes no cinema e falsos documentários já se passaram por verdadeiros diversas vezes, mas há harmonia na junção de duas idéias simples e dá muito medo, mesmo sem a novidade. A câmera está lá para registrar os fenômenos, que geralmente ocorrem quando o casal está dormindo, então já é pelo menos, uma desculpa bem melhor do que gravar uma sobrenaturalidade por acidente e continuar gravando com o risco de morrer, por se recusar a largar a câmera no chão.
Sem trilha sonora, com uma iluminação trabalhada para parecer bagunçada e sem créditos. Para funcionar bem, o filme não pode parecer que está sendo dirigido. Nunca! Porque a única explicação para a falta de narrativa é que supostamente não há uma. O argumento é que este é um filme caseiro que registrou eventos não planejados. A edição não destrói a fantasia, porque pode ter sido feita por quem adquiriu os direitos sobre as gravações. No entanto, o problema de um filme sem um roteiro aparente é ele se tornar repetitivo e desinteressante. Afinal, quantos objetos podem se mover sozinhos pela casa, sem consequências graves, até que o espírito seja considerado apenas um decorador frustrado? Mas existe uma bem construída evolução de comportamentos e assombrações, junto ao fato de que muitas informações importantes são entregues ao público logo no início, servindo apenas para aumentar o suspense sem estragar o desfecho.
O espírito não veio com a casa. Por algum tempo, a geladeira barulhenta e os vizinhos arruaceiros levaram a culpa pela agitação na vida de Katie, uma estudante e Micah, o namorado que trabalha com ações e mora com ela. Os dois parecem ser bem mais normais, do que as famílias normais do cinema tradicional, então quando Katie menciona que fenômenos estranhos acontecem com ela desde a infância, a gente se empolga quase tanto quanto Micah, que adorou a notícia e comprou uma câmera profissional para tentar registrar algo. Ele não tem idéia de que tipo de filme ele faz parte.
O cinema de terror sempre fez um ótimo trabalho, para nos convencer de que vítimas tem chances contra qualquer vilão, menos contra um tão inconstante e misterioso quanto um fantasma. Faz parte da rotina dos primeiros atos dos filmes, tentar descobrir o que a entidade quer e aqui não é diferente. Quando as assombrações são fruto de uma desavença recente, como por exemplo, a ocupação da casa do falecido por uma nova família, ainda há a chance de encarar o problema como algo passageiro. Mas no caso de Atividade Paranormal, as explicações não passam de especulações e a única coisa que está clara, é que fazer as malas e sair correndo não resolve nada.
Espíritos são o tema mais assustador do gênero de terror e não se pode culpar uma obra sem muitas pretensões, por saber o que está fazendo e obter muito sucesso com isso. Não foi só o lucro estrondoso nas bilheterias, ou as sequências que parecem não acabar nunca, foi a certeza de que quem assiste será afetado, mesmo que o visual do filme lembre vídeos amadores do youtube de “fantasmas capturados em vídeo”. A gente sabe que é falso, mas não importa. Os realizadores sabem que efeitos especiais não assustam ninguém no novo milênio. O que nos une em pavor é a sombra na parede e a exposição ao perigo, com a possibilidade da remoção sobrenatural do cobertor enquanto dormimos, porque este é um objeto sagrado que nos protege de qualquer coisa. Os pés descobertos serão sempre uma preocupação para todos nós.
A maior vantagem que Atividade Paranormal tem, sobre muitos falsos documentários de terror, é fazer do casal um espelho do público. Quando a história se desenrola para o lado do desespero, a reação cinematográfica seria revelar que o protagonista tem um plano B, mas a reação aqui é chorar. Se uma decisão equivocada gera raiva em outros filmes, aqui ela é plausível. Em um determinado momento do filme, não é uma idéia inútil sair da casa, mas eles não saem, porque um dos dois afirma que tudo vai ficar bem e o outro acredita. A verdade é que a gente também acreditaria. No momento de pânico, qualquer ponta de otimismo pode nos levar a decisões estúpidas. Katie e Micah não são seres sábios e cheios de coragem…nem a gente…sorry, mas é isso o que faz o filme funcionar tão bem!