
Uma equipe de limpeza precisa trabalhar em um hospital psiquiátrico desativado há anos. Desativado sim, abandonado, nunca! Os seguranças estão sempre expulsando adolescentes encrenqueiros, moradores de rua e até ex-pacientes que voltam para o prédio, eu acredito, por saudade. Por fora, o hospital é realmente impressionante. Eu nunca tinha visto um estabelecimento deste tipo no cinema, ou na vida real. É um prédio de poucos andares, mas largo para os lados, com alas dispostas a parecerem um morcego, quando o prédio é visto de cima. É claro que temos diversas tomadas aéreas que celebram o tamanho do prédio, assim como cenas internas, que mostram o quanto todo aquele potencial está apodrecendo com o tempo. É um paraíso para operários de todo o tipo, que sabem que ganhariam uma nota para reformar o local e ele será reformado e reativado, por trabalhadores que se comprometerem a trabalhar bem e rápido. No post anterior, eu falei de um filme super simples sobre um assunto complexo. Session 9 é um filme de difícil entendimento sobre um assunto bem simples. O hospital enorme é descrito como uma mini cidade, que tinha até pista de boliche e cinema, para ajudar a tratar muita, muita gente em diversos estágios de problemas mentais. Estatisticamente é impossível que todos os paciente tenham nascido com deficiência, alguns tinham passado por traumas que necessitavam de ajuda profissional, outros simplesmente sofriam com as pressões do dia a dia, que por serem problemas tão comuns, não eram considerados sérios até que fosse tarde demais. Session 9 não nos diz logo de cara, prefere nos mostrar que loucura é algo que pode acontecer com qualquer um, por qualquer motivo. Temos personagens considerados normais mas com todo o potencial para se tornarem pacientes no local. Fobias, arrependimentos, traições e exaustão são discretamente mostrados como estopins em homens sem nenhum histórico de comportamento violento, mas que usam violência quando certos estímulos psicológicos são ativados. É uma experiência que nos mostra que o perigo mora dentro de todos nós, mas para fazer com que o público participasse do teste de nervos, era preciso um truque. Não é um filme de terror, mas engana como um. Sem aparições, sem assombrações, somente algumas histórias macabras, verdadeiras ou falsas e o impacto subestimado de uma cadeira de rodas estacionada no final de um longo corredor escuro. Medo é uma droga poderosa e é com ele que o filme nos suga para dentro. Antes da limpeza habitual, a limpeza pesada deverá ser feita para remover do prédio o que está acumulado após décadas de descuido. De um modo seguro, a equipe de Gordon termina os reparos em três semanas. Ele é o chefe, Phil é o seu braço direito, Mike é o cara que largou a faculdade, Hank é o que roubou a namorada de Phil e o mais novo membro do grupo é Jeff, o sobrinho cabeça-de-vento de Gordon. Todos precisam de dinheiro e três semanas é muito tempo para o responsável pelo prédio, então para não perder a oportunidade para outra equipe, Gordon quebra a própria regra e oferece seus serviços por duas semanas. Com a possibilidade de um bônus pela rapidez do trabalho, ele entra em desespero e determina que tudo acabe em uma semana. A equipe resmunga, porque vai ser uma maratona de cão, mas concorda.
Com a pressão do tempo em cima dos operários, eu esperava ver pelo menos uma montagem, daquelas que mostram o trabalho evoluindo com a participação de todos. No estilo treino do Rocky Balboa. Máquinas são operadas, lixo é removido, mas não com tanto empenho quanto o bônus exige. Eles trabalham separados e o foco do filme é a interação entre os trabalhadores. Tem mais cenas de pausa para o almoço de que de serviço sendo feito. Um lugar como aquele também é cheio de distrações e não demora muito para que alguns membros da equipe encontrem motivos para permanecer ou voltar para o local após o expediente. Dentro do hospital, Hank acha um plano B em forma de dinheiro fácil que ele procurava sem sucesso nas raspadinhas há muito tempo. Mike, o intelectual, encontra nove fitas com as sessões de terapia de Mary Hobbes, uma ex-paciente do hospital com múltiplas personalidades e um passado misterioso. Os relatos das fitas são tão fascinantes que no meio de uma crise, na verdade a maior crise do filme, Mike larga tudo e se enfia em um dos quartos para ouvir o que Mary, ou qualquer um dos alter-egos dela tem a dizer. Gordon, que virou pai recentemente apesar da idade avançada, vive cansado e nervoso. Mesmo que o filme fosse sobre o trabalho, todo mundo está ocupado demais para trabalhar. Session 9 tem uma interpretação diferente dependendo de quem o assiste, o que é apropriado para a história que conta. O prédio pode ter uma força maligna… todos os homens podem ser pedaços da personalidade de apenas um deles… quem pode saber? O que fazemos com as informações que vemos é problema nosso. O que os trabalhadores fazem com o que encontram é problema deles. Por conta do dinheiro, Hank desaparece. Após ouvir as fitas, Mike decide voltar para a faculdade. Sem dormir, Gordon começa a ouvir vozes. Sem liderança, Phil trai como foi traído. Simon é a personalidade de Mary que só aparece na nona fita, para esclarecer que surge apenas nos momentos de desespero. O trabalho é simples, o problema é simples, mas sem tratamento, nada mais no filme importa. Nem a amizade, a confiança, o plano B ou o bônus no final da semana.