
Pai e filha são atacados enquanto reformam uma casa isolada.
Todo o investimento do mundo não disfarça um roteiro ruim. O que A Casa nos ensina, é que nem a falta de dinheiro serve como desculpa para o mesmo problema. O que atrai a atenção para este filme uruguaio, é que a história se desenrola em tempo real, no que deveria ser um único plano sequência. É claro que existem cortes disfarçados, mas ainda é um feito e tanto, que os cineastas norte-americanos não resistiram em copiar alguns anos depois em um remake. O original uruguaio e o remake americano são praticamente iguais. A segunda versão apenas se preocupa em florear um pouco mais o mesmo final nonsense.
Somente uma câmera é usada, mas ela é tão bem ensaiada e discreta, que foco nunca é um problema e detalhes da ação nunca se perdem. É uma filmagem que nos faz esquecer a falta de cortes e os cortes disfarçados, passeando entre os personagens, servindo até de ponto de vista de algum deles, sem atropelar ninguém.
Laura irá ajudar o pai, Wilson, a reformar uma casa de campo. Eles chegam bem cedo no lugar, mas como precisam de lanternas para enxergar dentro da residência, para um filme de terror, o cenário é perfeito. As janelas estão vedadas com madeiras e o interior parece ter saído de um episódio de Acumuladores. Não é uma casa muito grande, mas outra vantagem do escuro é fazer com que o local pareça infinito. Nestor é o proprietário que os recebe e vai embora, mas antes de partir, deixa as chaves aos cuidados de Wilson. Eles irão dormir na casa e começar a trabalhar no dia seguinte.
A casa não é amaldiçoada e Laura não está com medo, ela até explora o local por um tempo. Ela e o pai se preparam para dormir cedo, quando a garota escuta um barulho vindo do andar de cima. O pai não escuta nada mas é persuadido a subir para verificar. Estamos ao lado de Laura no andar de baixo, quando ela escuta o pai ser atacado e percebe estar sem proteção com um maníaco, em uma casa trancada. Daquele momento em diante, não há descanso para os nossos nervos.
Além dos créditos técnicos, é de se admirar a capacidade que o filme tem de deixar o público completamente apavorado. A tensão não sofre variações, é sempre alta, do momento em que Laura chama pelo pai e ele pela primeira vez não responde, até os primeiros indícios que revelam a identidade do vilão. São mais ou menos uns cinquenta minutos de puro terror, até que o filme revela também, que não conseguirá manter o padrão alcançado, com o desfecho que preparou pra gente.
Sem conseguir fugir e com um maluco na casa, eu logo teria arranjado um armário para me esconder. Não deve ser a manobra mais segura, mas eu acho que é pelo menos uma reação natural. Laura no entanto, que não é tão nova quanto sua carinha de bebê sugere, nem tão adepta de reações compreensíveis, não consegue parar de perambular pela casa em busca de uma saída. Com uma arma que conseguiu produzir, ela passa boa parte do filme tentando despistar o maluco, que se diverte deixando objetos para ela encontrar e movendo o pai de um cômodo para outro. A boa notícia, é que se ela não encontrar a chave da porta, Nestor, que prometeu voltar no mesmo dia, poderá salvá-la.
É um exercício cinematográfico primeiro e um filme depois. O formato é um desafio. Não tem o desleixo de um found footage, então nada de câmera-man em reflexos nos espelhos ou sombras na parede. Uma trilha sonora também se faz presente e não deixa Laura tão solitária. As atuações são ótimas. O problema é que o filme que foi realizado com uma câmera fotográfica, permite que fotos instantâneas fiquem encarregadas de esclarecer o motivo de tudo. Mesmo que conseguissem, ainda é um final fraco e sem sentido.