
Um grupo de estudantes consegue enganar a morte, mas não por muito tempo.
E se você sofresse um acidente terrível de avião ao lado de muitas outras pessoas, testemunhando o desenrolar de uma sequência de acontecimentos que vai matando todos a sua frente, até que no seu último segundo de vida, você consegue voltar no tempo, como quem acorda de um pesadelo. Como você reagiria? Acreditaria que tudo não passa de um sonho por causa da ansiedade, já que, no caso do protagonista desta história, foi um longo e perturbador caminho, cheio de sinais negativos, de casa até o avião, ou abraçaria a idéia de que teve uma visão do futuro, gritando da sua poltrona na classe econômica que o avião vai explodir, sem se preocupar com as consequências de uma previsão furada, em um mundo pré-onze de setembro?
O filme começa com a turma de francês da escola de Alex em um aeroporto, embarcando em um avião para Paris. A viagem com certeza não é uma recompensa por boas notas, ou os alunos entenderiam pelo menos as instruções em francês no alto-falante. A jovem Clear é a única da classe que faz um esforço, ela é a Hermione da turma, mas o restante não tem nada de especial, nem mesmo Alex… até que ele tenha uma visão do futuro, surte no avião e receba a oportunidade de salvar algumas vidas, temporariamente. A histeria de Alex o expulsa do avião junto com meia-dúzia de passageiros, que tentavam acalmá-lo ou detê-lo. O piloto decola sem eles e o avião explode segundos depois.
O que fez de Premonição um sucesso, assim como todas as sequências dele, é que além das grotescas e imaginativas mortes individuais, assistimos ao grande desastre na íntegra e sem economia de detalhes, logo no início do filme. Ficamos sabendo exatamente o que teria acontecido aos sobreviventes, se o vidente decidisse não se manifestar. Por mais inevitável e constante que seja a presença da morte no filme, é com alívio que os vemos escapando do acidente coletivo, o mais ousado, realista e explícito de todos.
Outro ponto que destaca o filme, é não levar os personagens para o perigo, como se ele existisse em algum lugar distante e específico do qual se possa fugir. Depois que a primeira matança acontece, não se pode confiar em nenhuma locação ou objeto de cena. É uma maravilhosa variação de um slasher comum e mesmo com todas as mortes anunciadas, nenhuma delas é previsível.
Algumas semanas se passam após a tragédia e a escola faz uma homenagem aos que morreram. Fica claro que Alex é visto por alguns com uma mistura de medo e desconfiança, quando ele é evitado e hostilizado na cerimônia. Exceto por Clear, que é inteligente e corajosa demais, para não reconhecer que o garoto ainda é o mais assustado com o que aconteceu. Quando todos vão para casa, um acidente nada acidental, tira a vida de um aluno que tinha sido salvo. Hermione se liga na hora, mas só é oficial quando Harry Potter diz em voz alta, que existe a possibilidade de ninguém ter realmente escapado de nada. Ela é a melhor, mas ele é o personagem principal.
Não me incomoda que o filme retrate a morte como uma entidade vingativa. Eu até gostei da idéia de ver esta entidade com personalidade. O que me irrita é desperdiçar uma grande oportunidade de se conectar profundamente com o público, exibindo mortes que parecem menos um produto do acaso e mais uma violação às leis da natureza. Eu aceito que a morte tenha uma lista de tarefas a cumprir e que atrapalhar o seu trabalho, só irá deixá-la com raiva. As mortes rápidas e sem dor, são chocantes e públicas, as que acontecem na privacidade e conforto do lar, são cruéis e demoradas. Já é o suficiente. Não havia necessidade da morte “esconder os seus rastros”, como por exemplo, causando um vazamento no banheiro e depois sugando a água de volta para os canos. Do que a morte teria medo? De ser presa por assassinato?
Premonição tem sucesso em gerar torcida contra o vilão que nem o público conseguirá evitar. Mesmo carregando o peso de um caixão nas costas, nenhum dos sobreviventes pensa em se entregar. Se algo continua trazendo a morte até eles, outra força continua a dar dicas para que eles permaneçam vivos. A ordem dos nomes na lista da morte pode ser qual for. O filme segue o ditado, que diz que a esperança sempre será a última.