
Depois da perda da filha, um casal recebe uma mensagem profética.
Dois médiuns estão disputando a nossa atenção neste filme. Para um deles, o dom é um presente de Deus, para o outro, o dom não existe. Ambos são muito participativos, do início ao fim da história, vendo e prevendo coisas, mas isso não vai impedir que tragédias aconteçam.
Christine morreu enquanto brincava no quintal de casa. O riacho que atravessa a propriedade dos Baxter, estava bem mais fundo depois da passagem da chuva e a menina se afogou. Os pais em luto, deixam a casa e todas as lembranças para trás, saindo da Inglaterra e se mudando para a Itália. Ironicamente, sua nova residência fica em Veneza, uma cidade cercada por água.
É confuso de propósito! Duas línguas o tempo inteiro. Barulho ensurdecedor seguido de silêncio. Pessoas parecidas, ruas ainda mais parecidas, que só desorientam os estrangeiros. Visitas e conversas sem importância. Tudo para nos distrair do serial killer que está a solta e dos corpos que estão sendo encontrados pela cidade.
John e Laura não deixam de cuidar um do outro nem por um minuto. Assim como era antes da perda, tudo o que um faz, interessa o outro. Meses depois a dor permanece, mas pulamos o período do desespero. John trabalha com restaurações e Veneza tem uma igreja que precisa do talento dele. Laura, não finge os sorrisos, nem qualquer outra coisa ao lado de John. Os dois se amam e estão juntos o tempo inteiro. O problema surge, quando Laura faz uma nova amizade.
Duas irmãs idosas, inglesas, uma delas cega e ao mesmo tempo vidente, cruzam o caminho do casal com duas revelações. A vidente diz que pode ver Christine e a menina está bem, mas está preocupada com o pai, porque diz que ele corre perigo. Laura encara a mensagem como uma bênção, porque além do aviso, tráz a certeza de que a filha continua com eles. John fica furioso, taxando as velhinhas de charlatãs, mesmo que nenhuma delas peça uma compensação.
Não que eles ignorem o conflito, ou que vozes não se alterem, mas a gentileza ainda domina, porque o casal não age como se estivesse em um filme de terror, ou em um drama… ou suspense. A vida simplesmente segue. Eles agem normalmente, não como se fossem personagens e isso não funcionaria com atores menos competentes do que Donald Sutherland e Julie Christie. Para acompanhar suas recusas em atuar, o filme se recusa a ser um filme normal. Não há a mínima preocupação com a nossa pressa, para saber em que pé estão os trabalhos na igreja, ou quais são as verdadeiras intenções das misteriosas irmãs. Se algumas cenas demoram a ponto de chatear, não tem problema. As vezes a vida é realmente chata. Se uma ação é sem sentido, assim ela permanecerá. A história não é só sobre um casal que perdeu a filha e começa a receber mensagens do além. É sobre uma cidade e tudo o que acontece nela. Como ela é muito grande, é natural que algumas informações sejam omitidas, porque estamos olhando em outra direção naquele momento.
Laura e John tem mais um filho, John Jr., que ficou na Inglaterra, em um colégio interno. O menino se acidenta e a mãe volta para casa, mas o marido fica. Um grande erro. O menino está bem e não precisa do pai, mas, por mais que o filme tente não seguir padrões, John nunca fica bem, quando Laura não está ao seu lado. Em poucas horas sem a companhia da esposa, John sofre um acidente quase fatal, cria uma confusão gigantesca com a polícia local e avista uma figura baixinha pelas ruas da cidade, sempre fugindo com o seu casaquinho vermelho, semelhante ao que Christine usava quando morreu.
Inverno de Sangue em Veneza é um deja vu constante. Parecem erros de edição, quando cenas se repetem, ou nem esperam uma acabar, para pular para a próxima cena. Não chega a atrapalhar o filme, na verdade, uma delas, de tão bem feita e íntima, mesmo avançando e voltando constantemente, chegou a por em risco os casamentos dos atores envolvidos. Essa bagunça é culpa de John, que não entende o dom que tem. Passeando por Veneza, achando que todos falam a sua língua e nada acontece na cidade, além da sua própria história.