
Depois de perder a família em um trágico acidente, um homem se muda para uma casa de campo, onde é atormentado por um fantasma.
Com o auxílio de uma empregada e um faz-tudo, o compositor John Russel planeja cuidar de uma mansão gigantesca, enquanto retoma aos poucos o seu trabalho. Música, ironicamente, exige um ambiente silencioso para ser produzida. John não tinha idéia, mas o seu novo lar é inapropriado para a sua profissão, apesar do isolamento.
A casa chama a atenção, realmente é lindíssima. Rústica e cheia de história, mas livre do luxo exagerado dos anos 80. Mostrada com orgulho, em longas sequências, ela é um tesouro a ser conservado. Grande demais para apenas um morador, mas depois de vê-lo perder a esposa e a filha, não questionamos o consumismo confortador. A casa deveria ser perfeita para compor, pensar e chorar, mas não é. Descobrimos isso na primeira noite, com um barulho ensurdecedor e repetitivo, como se fosse um instrumento acompanhando uma melodia.
Desde o início, sabemos que o centro da história será a assombração dentro da casa. Isso pode nos fazer ignorar personagens que apareceram timidamente no começo do filme, antes dos primeiros sinais de atividade paranormal. Grande erro.
O barulho que John escuta uma noite, quando está sozinho, está assutadoramente semelhante ao movimento de gente dentro de casa. Como o filme está no começo, achamos que a dúvida vai ficar na cabeça dele por mais alguns episódios de assombração, mas não há tempo. Sem muito alarde, o fantasma aparece. John não grita, apenas recua, muito mais intrigado do que apavorado.
A mansão é alugada e o compositor tem dinheiro, ao contrário de tantos assalariados do cinema de terror, cheios de filhos e com hóspedes sobrenaturais. Não há nada que o prenda no local, a não ser curiosidade. Ele não tem medo. A pior coisa que podia lhe acontecer, já aconteceu.
É uma história de mistério, onde a vítima de um assassinato, sem alternativas, se torna a única testemunha. Um menino, a quem John se apega, não só pela sua própria perda, mas porque as vantagens que o garoto tem, de compartilhar as informações que quer, no rítmo que quer, aparecendo e desaparecendo, não o deixam menos digno de pena. Sua comunicação é confusa, porque ele está confuso. É só uma criança.
Essa recusa de John em se tornar uma vítima clássica, deixam o filme mais tolerável para os medrosos. Sua presença é confortante. Ele é um herói, que desvenda segredos como em um filme policial, sem a mínima vergonha de pedir ajuda. Mas quando a câmera resolve dar voltas pela casa, enquanto John dorme, e isso acontece com frequência, estamos por nossa conta. Ainda é um filme de terror.
O benefício de um fantasminha mais ou menos camarada, aparições discretas e uma investigação guiando a história, é que qualquer coisa fora do comum, assusta, até mesmo a descrição de um sonho. Nenhum filme de terror obtém sucesso com base na cena mais bizarra, na mais violenta, ou na maquiagem mais grotesca. Aproximar o público da normalidade, só para puxar o tapete de todo mundo… esse é o segredo. O filme faz isso muito bem, com coincidências plausíveis, vilões de ocasião e com um dos melhores atores do cinema norte-americano, George C. Scott, no papel principal.
Mesmo sem sustos baratos, Intermediário do Diabo, não é completamente desprovido de momentos clássicos. Um deles, apavora uma menina inocente, assim como nós, desavisados e acostumados a quase não ver o espírito. Mas são meios para um fim, que no caso, é aproximar John de Joseph, o garoto paralítico, morto de forma covarde e esquecido por décadas.
Muito antes de chegar ao final do filme, o grande mistério parece estar desvendado. O problema é que John não está seguindo as pistas de modo convencional, portanto, não pode recorrer à polícia, quando suas descobertas atingem suspeitos poderosos.