
Um conde bastante famoso na Transilvânia, leva violência e morte por onde passa.
Os olhos de Bela Lugosi nunca foram deste mundo e se destacavam em várias cenas de seus filmes. Quando algo chama a atenção daquele belo e ameaçador par, é porque a coisa vai ficar séria. Ele nasceu para o papel e a sua interpretação, serviu de referência para todos os outros Dráculas que apareceram em filmes, novelas e até programas infantis, como o Vila Sésamo, com um conde bem parecido com Lugosi, que ensinava as crianças a contar.
Todas as carruagens das redondezas são puxadas por cavalos velozes, pois ninguém quer ficar na rua depois do pôr do sol. Não é segredo nenhum na vizinhança, que o morador mais antigo do bairro, pode ter tentado jantar alguns dos ancestrais deles. A primeira aparição de Drácula e de suas três esposas, é silenciosa. Não se fala nem um “boa noite”. Coisas de casais sobrenaturais polígamos, que já estão juntos há alguns séculos. O fato é que o silêncio traz um toque de mistério, para um personagem já familiar.
Um jovem procurador, acabou de ser contratado para transferir os negócios do conde da Transilvânia para a Inglaterra. Ignorando a péssima reputação que o cliente tem com seus vizinhos, ele segue para o castelo e conhece o excêntrico empregador. A companhia de um homem ao mesmo tempo pomposo e humilde, confunde o visitante, assim como sua moradia, que dependendo do cômodo, oscila entre mansão de luxo e masmorra sem diarista.
O empregado poderia ter dado no pé, quando o senhor do castelo dava todas as pistas de que o jovem estava entrando numa cilada. Todo aquele fascínio com animais noturnos, aqueles olhos que não piscam nunca, todo aquele gel no cabelo que não escorre em cima da capa… Mas o sujeito é hipnótico, ao ponto de hipnotizar dentro e fora das telas. Cheio de charme, servindo vinho, falando com um sotaque carregado e inspirando um brasileiro chamado Zé a cuidar das unhas e comprar um caixão. A conversa vai super bem, até o rapaz cortar o dedo e aguçar os instintos do anfitrião. Antes que a gente imagine o que vai acontecer com ele, já aconteceu. A imobiliária perdeu um funcionário e Drácula ganhou um fiel escudeiro, para guardar seu sono durante a viagem para o novo lar.
Já em Londres, o conde sai para aproveitar a vida noturna, sem as limitações do antigo vilarejo. O filme nunca o mostra atacando ninguém, ou não do modo como conhecemos. Pode parecer besteira, mas um homem tão próximo do pescoço de alguém, naquela época, era um escândalo. Nem os dentes são muito salientes. Os corpos são simplesmente deixados pra trás, para qualquer um encontrar, como quem come e não tira o prato de cima da mesa.
Entre os apetitosos cidadãos, Drácula conhece a família Seward e seu seleto grupo de amigos, durante uma apresentação em um teatro. O Dr. Seward é o encarregado do manicômio, que agora abriga o ex-procurador do início do filme, completamente enlouquecido e tido como o único sobrevivente de um certo navio vindo da Europa Oriental. Entre os outros integrantes do seleto grupo, estão Mina, a filha do médico, seu noivo John e a amiga de Mina, Lucy, que com sua alma artística, se encanta instantâneamente com o estrangeiro de olhar penetrante. Como uma adolescente tonta em um filme de serial killers, Lucy é morta sem cerimônias. O verdadeiro alvo do vilão, é a garota já comprometida e os planos do conde para Mina, são muito mais perversos do que a morte.
Não é fácil levar a sério, uma história tão conhecida, sendo contada sob condições obsoletas. Era o início de tudo, da sonorização, das adaptações de livros e o filme acaba se tornando, para os padrões atuais, quase uma peça infantil. Cenas abertas e paradas, ações coreografadas, cenários desenhados e atuações exageradas.
Uma coisa que precisa ser enfatizada, é que apesar do filme ser antigo o bastante, para não mostrar uma estaca atravessando um coração morto, e chocar seu público original, o elemento principal do filme, continua sendo muito interessante. Por mais que a história progrida sem sua presença, Drácula faz falta em todas as cenas das quais não participa. Não temos mais medo dele, mas continuamos sob sua influência e é surpreendente o quanto aguardamos sua aparição.
Quando Mina já não consegue resistir ao homem de quem chegou até a tirar sarro, seu pai chama um colega, o Dr. Van Helsing para ajudar a entender o que está acontecendo com a garota. Um personagem também famoso da obra de Bram Stoker, que chegou a ganhar um filme só seu, é o herói ideal para combater Drácula. Ambos são inteligentes, sorrateiros e com objetivos simples. O vampiro quer sangue, mas quer conseguí-lo sem muito alarde. O caçador quer matar o vampiro, mas quer fazê-lo sem muita fanfarra.