
Um casal australiano em crise, presencia a fúria da natureza durante um fim de semana prolongado.
No eterno conflito entre o homem e o seu habitat, o homem só ganha quando a natureza não resolve revidar. Não veremos nada tão drástico quanto um terremoto, ou uma chuva pesada, daquelas de alagar e ilhar as pessoas, mas seremos testemunhas do quanto somos pequenos, diante de criaturas que conhecemos como irracionais, quando estas tem sede de vingança.
O diretor se certificou de mostrar o casal flertando com outras pessoas logo no início, para não fazer do filme uma guerra de sexos. O problema não é entre homens e mulheres, é apenas entre Peter, o cínico e Marcia, a histérica. Algumas coisas desagradáveis aconteceram no casamento, o que está causando um clima bastante hostil, com raras e inesperadas faíscas de carinho.
Eles não estão a caminho do vasto e perigoso deserto australiano, no sentido de que, para aumentar a sensação de perigo, o local deveria aparentar ameaça. Seu destino é uma praia de surfistas, que nem isolada está. Um verdadeiro paraíso, que os visitantes estão nervosinhos demais para respeitar. Mas também, ninguém merece rodar por horas no carro, no escuro, tentando achar um lugar que é para ser a última tentativa de resgatar o romance.
Apesar dos protagonistas não serem agradáveis, a gente não pode deixar de torcer pelos dois únicos personagens humanos. É uma questão de afinidade, não só porque somos da mesma espécie, mas porque a torcida é pela sobrevivência e não por uma reconciliação.
No início, apenas os sons são estranhos. Marcia, que preferia estar sozinha no conforto de um hotel, a matar insetos na companhia do marido, teria dado meia volta ao primeiro grunhido (ou seria grito) que escuta. Mas não depende dela, depende de Peter, o macho alfa, com sua prancha de surf e sua espingarda, atirando em quase tudo e todos que mira, só porque pode.
Animais de várias espécies e tamanhos se aproximam do acampamento, retribuindo a visita que chegou sem ser convidada. Alguns encontros são amigáveis e outros violentos, espelhando o comportamento bipolar de Peter e Marcia. O par com a relação perturbada, perturba o ambiente, as vezes por precipitação, as vezes por pura crueldade. Aí o bicho começa a pegar… literalmente!
Se fosse um exército de quadrúpedes marchando em direção ao casal, era só entrar no carro e sumir dali. Seria uma guerra declarada, algo concreto, mas o que se segue é menos explícito e mais sombrio. Sem aviso, a câmera começa a se mover como alguém na surdina, ao redor da tenda dos pombinhos. O barulho que os movimentos fazem, não deixam dúvidas de que eles estão sendo observados. Essa combinação de movimentos e sons, sugerem inteligência e um complô, mas sem um vilão.
Era folga, mas não havia diversão. Depois de um dia e meio de ofensas, eles não conseguem nem sossego. Quando não se agridem verbalmente, são provocados por algo que não podem explicar. Nem a gente consegue explicar, mas algo sinistro está definitivamente acontecendo. Não é um ataque organizado, na verdade, poderia parecer uma série de coincidências, se a história fosse contada para alguém que não esteve lá.
Os acontecimentos estão longe de serem normais, mas são muito discretos para provocar pânico. As árvores não estão vivas, mas o que deveria estar morto, não para de se mexer. Confusos, Marcia e Peter tentam ir embora, só que ainda estão brigados e quase se matando. Assim fica fácil para bambi e seus amigos, incentivarem o casal a buscar a própria ruína.
Com poucos recursos e o máximo de resultados, Um Longo Fim de Semana não é um filme simples. A história vai além de uma possível mensagem ecológica, já que os problemas estavam presentes, antes dos protagonistas se enfiarem no meio do mato. O filme é único e está aberto para várias interpretações, mas na minha opinião, se você acredita que seres cruéis, estejam superando a falta de comunicação, para provocar um massacre, então, vai achar justo, que os dois vilões do filme, sejam devidamente punidos pelos pobres animais, naquele final de semana prolongado.