
Três estudantes de cinema desaparecem na floresta, deixando apenas suas filmagens para serem encontradas pelas autoridades, um ano depois.
“Eu sei que é tudo mentira, mas ela é de verdade?” era a pergunta oficial em 1999. Mérito de uma campanha de marketing online, quando a internet ainda estava engatinhando e do enorme talento dos cineastas, para provocar medo mostrando muito pouco.
A câmera treme, os realizadores estão super animados e a lenda é interessante. Estamos assistindo a um documentário, ou isso é o que o website do filme queria que a gente acreditasse. Criada pelos produtores, meses antes do lançamento do filme, a página da internet tinha o propósito de dar credibilidade a um mito recém-criado, fazendo parecer que a história era antiga e que o desaparecimento dos estudantes era real.
Heather, a diretora, Josh, o câmera e Mike, o técnico de som, seguem para a cidade de Burkittsville, previamente conhecida como Blair, para fazer um filme sobre o bicho-papão local. Uma mulher declarada bruxa, que assombra a floresta ao redor da cidade, por tempo suficiente para ser considerada imortal. Quando eles entrevistam as pessoas sobre a lenda, é difícil acreditar que estamos olhando para atores, dizendo as falas que decoraram de um roteiro. Mas isso é grande parte do charme do filme. Deixar as histórias fictícias sobre a bruxa, serem contadas por pessoas atuando como a população local, poupando os documentaristas de serem rejeitados pelo público, como tolos, supersticiosos ou manipuladores.
O que a equipe consegue na pequena cidade, é uma mistura de contos infantis de terror, relatos verdadeiros de assassinatos em série e uma descrição bastante improvável da bruxa. A única coisa que as informações fazem, é deixar os jovens curiosos, enquanto eles deixam a civilização para trás e entram na floresta, com algumas provisões, um mapa e duas câmeras.
Naquele lugar que lembra os econômicos desenhos da Hanna-Barbera, onde o cenário é reciclado, eles andam e andam, mas não chegam a lugar algum. Durante o dia eles estão sempre perdidos, quando escurece, eles parecem ter companhia. Barulhos estranhos que parecem vir de todos os lados, acordam o trio no meio da noite, todas as noites. Na melhor das hipóteses, são algumas pessoas com muito tempo livre e o espírito para passar trotes. As histórias descartadas por eles e por nós como invenções, começam a se concretizar, deixando os nervos a flor da pele. Não são nem trinta minutos de filme e os nossos olhos passeiam pelo cenário, esperando que algo se mova nos pontos mais escuros.
A fome e o cansaço, não chegam nem perto do terror de saber que, quando a noite cai, eles não estão seguros. O barulho que antes não podia ser decifrado, fica mais claro e mais próximo. A luz do dia não traz salvação, já que após vários dias andando em círculos, é evidente que eles não vão sair da floresta. Mas a situação consegue ficar pior, quando um deles desaparece no meio da noite.
O filme funciona, porque estimula a nossa imaginação com recursos muito simples. Os personagens vivem trombando com objetos, que dão medo porque alguém os fez e os deixou lá para serem vistos, mas nunca sabemos o que eles representam ou pra que servem. A ameaça, mesmo não aparecendo, é tão clara quanto uma parede branca, cheia de marcas de mãos de crianças, em vermelho. Não há preocupação com enquadramento, ou com a clareza do som e os estudantes não são heróis, o que contribui para acreditarmos no que estamos vendo. A bruxa de Blair é um ótimo filme de terror, porque com ou sem a dita cuja, se perder em uma floresta e não conseguir sair dela, já é muito assustador.