
Os cidadãos da ilha turística de Amity, são aterrorizados por um enorme tubarão branco.
Enquanto a gente assiste a cena de abertura, não há nada pior do que ouvir os gritos daquela jovem, sem poder fazer nada. Até que os gritos acabam. Se o início do filme, é apenas uma fatalidade, o restante da história se encarrega de transformar um animal marinho, em um verdadeiro monstro, que parece ser movido ao som de uma música, que todo mundo consegue identificar e imitar.
Steven Spielberg conseguiu por algum tempo, manchar de sangue o sonho que todo mundo tem de morar na praia. Não é um bicho tão grande e sem limitações quanto o Godzilla, mas é o rei no seu próprio habitat e estando em uma ilha, não é um problema do qual se consiga fugir.
Um corpo é o suficiente para que Brody, o chefe de polícia, feche a praia. É claro que o prefeito e os seus acessores não vão deixar isto acontecer. Sem o dinheiro arrecadado no verão, a cidade não sobrevive o resto do ano. Não existe verão sem praia na cidade, mas uma criança sendo devorada, em plena luz do dia, com testemunhas o suficiente para descartar qualquer coisa que não seja o ataque de um tubarão, coloca o turismo em perspectiva.
Para que a economia local não sofra e melhor, para que os próprios cidadãos não tenham medo de entrar na água novamente, é oferecida uma recompensa pela carcaça do animal, atraindo pescadores de todos os lugares. Nenhum deles parece preparado, porque ninguém sabe com o que está lidando. Tanto é que eles acabam pegando uma versão bem menor do verdadeiro inimigo. Um especialista do instituto oceanográfico, tenta acabar com a festa pós-caça, mas não consegue provar que o grande tubarão branco, verdadeiro responsável pela matança, continua rondando a ilha.
O feriado chega e com ele, os turistas, mas por causa dos eventos recentes, ninguém tem coragem de entrar na água. Nesse momento, o prefeito que conseguia alguma afinidade, tentando salvar a cidade de um colapso econômico, se torna a personificação da falta de responsabilidade, incentivando um comportamento perigoso e dando declarações falsas para a imprensa.
As mortes continuam e a cidade resolve desenterrar a cabeça da areia para lidar com o problema. Três homens corajosos e malucos, montam uma força tarefa e seguem para o mar, com os olhares apreensivos de quem fica para trás.
Cidades pequenas estão cheias de figuras inesquecíveis. O marinheiro Quint, interpretado por Robert Shaw, é aquele sujeito desbocado e encrenqueiro de quem todos querem distância. Ele não tem uma mente brilhante, mas é esperto e de todos na cidade, é o que tem mais experiência com tubarões. Suas histórias e piadas são o que distraem o público e o resto da tripulação, do que poderia muito bem ser interpretado como uma missão suicida.
Um chefe de polícia, um especialista e um velho pescador, para pegar o que é ao mesmo tempo um peixe, um assassino e uma espécie rara. Toda vez que o animal passa perto dos três personagens em alto mar, isolados do resto do elenco, o barco parece pequeno demais para a missão. O tubarão não é só gigante, é indestrutível, ousado e vingativo.
Com um monstro cheio de personalidade, mesmo aparecendo muito pouco, Spielberg assustou banhistas do mundo inteiro e deu início ao cinema blockbuster, com filmes cujo principal objetivo é arrecadar muito dinheiro. Tubarão é um trunfo na carreira do diretor, que usou um predador verdadeiro, como o vilão que faz uma cidade inteira de refém, gerando tensão tanto no mar, quanto em terra firme.