Lionel provoca a ira de sua mãe dominadora quando se apaixona por Paquita. O que começa como mais uma tentativa de controlar a vida do filho, resulta em um festival de tripas e líquidos gosmentos que nos faz desejar algo mais simples, como um banho de sangue.
Se Psicose fosse uma comédia, em cores e sem o mínimo de pudor, seria Fome Animal. Lionel é um jovem tímido que sofre com a opressão de sua mãe Vera, uma viúva manipuladora e egocêntrica. Até a casa onde eles moram é filmada de modo imponente, como o Hotel Bates. Só que ao contrário de Norman Bates, o tormento de Lionel é sustentado por medo e culpa.
O filme é ao mesmo tempo um pastelão infantil e um veículo eficiente para pessoas com bulimia. Algumas cenas tem uma doçura e inocência, que lembram os clássicos dos anos 30. Outras são ofensivas demais para não terem um público bastante limitado.
Durante o seu primeiro encontro em um zoológico, Lionel e Paquita são seguidos por Vera, que acaba sendo mordida por uma animação em stop motion denominada Macaco-Rato da Sumatra. A lenda que cerca a concepção do bicho é ridícula, mas está longe de ser a coisa mais absurda de Fome Animal.
Vera se torna um zumbi, mas continua uma megera. O seu corpo não está mais em sintonia com a sua mente, fica difícil até segurar a orelha no lugar, mas Lionel é o único que sabe da sua situação, pois a integridade de sua mãe precisa ser preservada. Mesmo oficialmente morta e enterrada, a mulher continua contaminando a vizinhança e sobrecarregando Lionel com mais responsabilidades.
O protagonista tem uma enorme necessidade de agradar todos ao seu redor, vivos ou mortos. Ele serve o jantar para a crescente família de finados, não tem objeções ao romance com Paquita, que nasce de uma duvidosa previsão nas cartas de tarô e nem consegue impedir uma festa em meio ao caos na sua casa. Parece que não há como se desfazer do que não deveria estar mais de pé. Ele está tão acostumado a ser mal tratado, que continua sob a influência de quem abusava dele, mesmo que estas pessoas estejam apodrecendo. Quando ele deixar de ser uma vítima e literalmente sair de dentro do ventre de sua mãe, as coisas vão começar a melhorar para ele.
Este espetáculo é da época em que o diretor Peter Jackson não se importava muito com bom gosto. Obviamente a trilogia de Senhor dos Anéis teve um orçamento bem maior, mas suas escolhas artísticas para Fome Animal não tem nada a ver com dinheiro. Nenhuma idéia é extravagante o suficiente para ser descartada, seja um padre karateca, sexo entre cadáveres ou um bebê zumbi. Nem o sangue que jorra recebe o devido respeito e se torna uma gosma cor de rosa engrossada com carne humana. Alguns zumbis brilham, outros voam e algumas entranhas são auto-suficientes. A casa fica infestada de zumbis e é muito difícil por fim à eles definitivamente. Não se trata de um vírus, mas de uma maldição. Daquelas que só um herói com muita coragem e pouca higiene, poderá quebrar.
Fome animal é um filme muito divertido, mas não é uma unanimidade. O humor depende de como a gente o encara, já que esta produção neozelandesa coloca o “t” em trash.