
Um locutor, uma produtora e sua assistente ficam presos na estação de rádio onde trabalham, cercados pela neve e por um vírus, na cidade para a qual transmitem seu programa matinal.
Este conceito é novo. Um vírus transmitido através de palavras. Na verdade, transmitido por certas palavras em uma determinada língua, ou seriam sons, já que alguns contaminados são descritos imitando insetos e o barulho do limpador de pára-brisa. Mas o problema seria produzir o som ou escutá-lo? Pois é, este conceito, apesar de novo, não é o mais bem resolvido que eu já vi.
Mas não vamos condenar Pontypool logo nos primeiros parágrafos.
Com exceção de uma engenhosa cena de leitura do obituário local, a ação se passa dentro da estação de rádio. E eu digo ação, porque mesmo não mostrando o caos que reina nas ruas, como em uma novela de rádio, você usa a imaginação para suprir o que não vê, e o efeito que isso causa supera o uso de grunhidos, câmeras frenéticas e sangue.
Grant, o locutor, Sydney, a produtora do programa e Laurie Ann, a assistente de produção, seguem com a rotina que consiste em Grant falar mais do que deve no ar, Sydney reprendê-lo e Laurie Ann defendê-lo. Eles também recebem relatórios sobre o tempo e as condições das estradas do reporter Ken, que fala do alto do helicóptero “Sunshine”.
Ken diz que existe um tumulto do lado de fora de um consultório médico, Sydney revela a Grant fora do ar que o médico foi investigado por receitar medicamentos desnecessários. Um protesto em meio a uma tempestade de gelo é pouco provável, mas dá uma animada naquela cidade onde nada acontece.
A manhã segue com alguns incidentes estranhos, mas nada alarmante até que Ken, completamente histérico, começa a descrever o comportamento colérico adotado por membros da pacata comunidade. De acordo com o seu relato, os moradores estariam violentamente atacando uns aos outros nas ruas, com bastante crueldade e sem nenhuma explicação.
Grant considera a possibilidade de tudo não passar de uma brincadeira de mal gosto, já que não está presenciando nada e Ken não é o profissional mais confiável que ele conhece. Mas uma transmissão militar de emergência invade a frequência da rádio. Em francês, eles enfatizam que os ouvintes devem evitar termos carinhosos e não traduzir aquela mensagem para o inglês. Não há dúvidas de que isso está realmente acontecendo. Mas por quê?
A pronúncia e o entendimento de determinadas palavras é o que desencadeia a doença, os contaminados atacam quem lhes dirige a palavra, explica um especialista. Como se isso esclarecesse a situação. Entretanto, a atual e real situação separatista dentro do Canadá é mencionada. Um país bilingue, em um conflito cultural, tentando se livrar de um de seus idiomas, pode explicar a insana escolha de manifestação do vírus por parte dos produtores do filme.
Grant é um falador por profissão e por natureza. Sydney, fala quase tanto quanto ele porque é a sua chefe. Por que eles não são os primeiros a manifestar a doença? O que nos faz pensar na assistente Laurie Ann, que apesar de passar o tempo todo com eles, se torna uma vítima da doença muito rápido. Ela é uma ex-combatente do Afeganistão que alimenta secretamente uma paixão por Grant e uma rivalidade com Sydney. Sua frustração é evidente quando chega a bater boca no ar com a chefe sobre a condecoração que recebeu ao voltar da guerra. Ela é uma residente sem voz, que como os outros contaminados, quer calar a boca de quem fala demais.