Depois de apanhar do namorado, terminar com o imbecil, cobrir o rosto com maquiagem e tentar encobrir o crime com mentiras, Harper tem duas opções para a noite de Halloween: passar horas ignorando mensagens cada vez mais ameaçadoras do ex, ou ir para a balada temática sendo a única sem fantasia. Optando por passar vergonha na rua, ao invés de passar nervoso em casa, ela desbloqueia mais uma série de escolhas, acompanhando o grupo de amigos antigos e recentes, com até um novo affair em potencial entre eles, para fechar a noite de acordo com a data comemorativa. Descartando as alternativas seguras, o grupo decide que o entretenimento incerto, na forma de recintos mal-assombrados, montados para arrancar dinheiro da molecada naquela noite, é a escolha mais apropriada. O interessante é que a paranoia de Harper, sobre uma suposta perseguição do ex, é exatamente o que leva os amigos a optar pela casa-título como destino. A pior e a mais perigosa de todas as pós-festa que eles poderiam ter selecionado.

A Casa do Terror, com a produção de Eli Roth e a direção da dupla de “jovens veteranos” Scott Beck e Bryan Woods, questiona a normalização de comportamentos arriscados por pressão social, ou por uma noção de segurança que não tem base nenhuma. Você não se aventura por lugares desertos à noite. Não entra em estabelecimentos desconhecidos no meio do nada, ainda mais depois de escutar gritos apavorados vindos de dentro. Certamente seria louco de entregar seu celular e um formulário com seus dados pessoais para um mascarado silencioso, na porta do local oculto na mata, revelado apenas por um acesso temporário e suspeito, ainda mais quando ninguém que você conhece fora dali, sabe onde você está. A não ser, é claro, que seja a noite de Halloween, o carnaval gringo das péssimas decisões, quando um acordo entre pessoas civilizadas é estabelecido, onde a regra é ignorar sinais de alerta, agir com imprudência e usar uniformes outrora respeitados, em uma versão degradante (policial “de programa”, enfermeira “de programa”, freira “de programa”). O filme é justamente sobre a probabilidade, alta, de um bando de mal-intencionados se infiltrarem na brincadeira. Aqui, troque mal-intencionado por maníaco assassino, disposto a viver nas margens da sociedade pelo vício de matar.

Para os sempre apavorados, não existe ninguém mais chato do que o cínico em uma situação de terror. É aquela pessoa que paga pela experiência e já começa o passeio declarando que a decoração é sem graça e os sustos não assustam. É meio que o equivalente àquela criança, que te atazanava na infância até você se encher e meter o tabefe e escutar ela dizer: “Nem doeu!”, então é com um certo prazer que vemos a arrogância sumindo do grupo, quando não restam dúvidas de que eles voluntariamente se enfiaram numa encrenca letal, da qual será difícil escapar. É neste momento de seriedade também, que a nossa simpatia por eles não tem outra escolha a não ser crescer. Que bom! Porque os personagens, quatro mulheres e dois homens, aproveitam nossa torcida, para exercitar o direito de vítimas de slashers, de tomar as decisões típicas da categoria, como se separarem para buscar ajuda ou se aventurar por caminhos que eles deveriam saber que são traiçoeiros. Para o bem de suas reputações, as atrações da casa ficam cada vez mais sinistras e qualquer um naquela situação perderia o bom senso. A gente até chega a desejar uma revelação ao estilo de A Noite das Brincadeiras Mortais (April Fool’s Day – 1986), de tão sangrento que fica, mas as surpresas reservadas pelo filme funcionam bem melhor. 

Um componente chave aqui, do qual ninguém pode reclamar é o respeito ao tema. É quase uma gafe publicar esta resenha fora de outubro. As locações são uma troca constante entre algo saído de atrações de parques de diversão, os bastidores destas atrações e algo que os órgãos fiscalizadores destes lugares jamais aprovaria para o público. Um Scape Room gigantesco e infernal, de verdade. Eu geralmente não penso isso sobre maquiagem, mas aqui ela é realmente inesperada. Bem feita e uma excelente fonte de especulação quando o filme termina. Em um lugar em que sons estranhos e iluminação precária, fazem parte do teatro para provocar as reações certas nos participantes, é ótimo perceber que os truques também funcionam com o público, mas de uma maneira mais completa. Qualquer barulho é motivo de apreensão e o jogo de luzes utilizado no filme, tem efeitos surpreendentes. Quando o que se enxerga são sombras, o terror é o mesmo de vários filmes do gênero. Toda vez que as luzes se acendem, o alívio não chega, porque isto simboliza a desistência dos recursos básicos do terror por quem está no comando, indicando que isto significa que o que está adiante, às claras, é ainda mais violento.

A ação é bastante acelerada, mas temos que levar em consideração que o bom ritmo, depende de que as vítimas façam convenientemente o que se espera delas. Sorte é um elemento muito presente e por vezes, além do aceitável. O filme, apesar de abordar a ideia com uma proposta diferenciada, é muito mais raiz do que se espera. Se pensarmos que a maior ameaça de lugares inescapáveis da vida real (real por ser fora do cinema, mas ainda dentro da fantasia de atrações de feiras e parques), são os vilões clássicos e fantasiados nestes passeios, então estamos diante de um retorno as origens. A produção fez um ótimo trabalho para que fantasmas, bruxas e palhaços voltassem a dar medo nos personagens e no público. É quase um serviço de utilidade pública, após alguns anos de frustração, sendo expostos nas redes sociais à imagens de câmera de segurança destas atrações, que exibem nossos monstros favoritos desistindo da magia, ajudando um pagante perdido a abrir a porta da saída. De qualquer forma, este filme só reforça o quanto eu devo me sentir bem nos meus rolês de idosa, que não mais toleram saideira depois da atividade principal. Minha coluna tem hora-limite, como a Cinderela, graças a Deus!

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