Seria uma solução e tanto, contra o fenômeno bridezilla, termo que une em inglês as palavras noiva e Godzilla, para descrever o comportamento monstrengo de algumas mulheres a caminho do altar. Falando assim, de um modo geral e sem fatalidades, não há nada de errado com um teste que coloque em evidência traços reais da personalidade, como níveis de empatia e consideração com terceiros, ou seja, características importantes que os pombinhos talvez estejam muito cegos para julgar. Quem casa, não recebe apenas o cônjuge, ganha todos os parentes de brinde, apesar de que no caso de Grace, isso é um bônus. Crescendo sozinha, ela aprendeu a valorizar a bênção de ter uma família e completamente apaixonada por Alex, não há um resquício de “zilla” nela, mas não faz diferença nesta história. O teste ainda precisa ser feito, porque o que está em risco é muito mais do que possíveis incompatibilidades de gênios e de estilos de vida.
Casamento Sangrento inverte com bom humor e destreza, (méritos da dupla de diretores responsável pelo ótimo reboot de Pânico (Scream) no ano passado), duas dinâmicas distintas do nosso imaginário coletivo. Uma realista, popularizada por canais de t.v. a cabo, em programas policiais de crimes reais, é que o problema em uma família respeitada na comunidade e sem antecedentes de violência, quase sempre vem de fora, na pele de algum intruso. A outra dinâmica, mais associada ao tema deste blog, nos faz questionar o que seria pior: estar perdido entre estranhos, longe de casa e com a possibilidade do surgimento de um conflito físico por um motivo qualquer, ou estar em um lugar conhecido que consideramos seguro, entre parentes, pessoas em quem confiamos e descobrir que elas querem nos fazer mal?

O filme não perde tempo e já nos coloca no casamento, realizado no jardim mantido profissionalmente, de uma mansão que certamente não foi construída ou decorada com dinheiro adquirido recentemente. Samara Weaving interpreta Grace no início, com a vivacidade e a gratidão de quem está se casando por amor. A apreensão é toda de Alex, o noivo, que liberado para enfiar qualquer pobretona na família, está proibido de revelar antes da noite de núpcias, a tradição inquebrável da família Le Domas, que fez fortuna há várias gerações com a invenção e a patente de diversos jogos de tabuleiro. Após o casamento, a noiva sorteia um jogo para que a família jogue junta e eu penso, que bom que passamos da cerimônia direto para o pós festa, do contrário, veríamos um grupo cansado demais da recepção para uma madrugada tão violenta. O estranho é que não nos identificamos tanto com Grace neste ponto, que está um anjo em um vestido prestes a virar um trapo e também um ícone da moda no terror. Nossa atenção está em Alex, que tem até o último segundo, a esperança de que a esposa não escolha o único jogo que significa uma caçada até a morte. Todos os outros são inofensivos, mas é claro que ela escolhe o pior. Deveria ter sugerido apenas uma união estável, Alex!
Quando o jogo começa, um esconde-esconde que se transforma em uma luta feroz por sobrevivência, com os parentes mais próximos segurando armas antigas, enquanto a jovem conta apenas com o conforto de um All Star, a seriedade do evento é imediatamente mostrada para a noiva, de um modo que não deixa dúvidas e há uma distância que a permita se preparar para o combate… e pensar em um bom advogado de divórcio. Grace fala consigo mesma o tempo todo e isto dispensa o uso de um narrador, em um filme tragicômico onde este recurso seria muito bem vindo. Suas impressões dos acontecimentos, são expostas com palavras de desespero ditas com ironia, suavizando o clima pesadíssimo que o filme teria, assim como suas escapadas, que são muitas e hilárias. Como é divertido ver o milionários pagando por ter uma casa tão grande e cheia de passagens secretas e esconderijos, próprios para o uso de gente sorrateira.

Vemos que algumas uniões recentes na família são bem-sucedidas, o que indica sorte nas escolhas dos jogos até então, mas como eles estão há muito tempo sem o jogo fatal e sem evidências do que poderia acontecer, caso Grace sobreviva a noite, a tradição é questionada, principalmente por quem é mais jovem e obrigado a mantê-la. Para que não seja apenas uma noite de loucura sem embasamentos, no entanto, certos detalhes são providenciados, mesmo que o terror dispense quase sempre a necessidade de motivos. A lenda diz que, naquele jogo ela precisa morrer, ou todos morrem, o problema é que a sorte de algumas décadas, criou um bando de despreparados e o que era pra ser apenas uma fatalidade, se transforma em uma verdadeira carnificina, onde o caos reina e o público vibra. É interessante que em um filme que critica e tira um sarro danado do chamado um por cento, houve um cuidado para não deixar transparecer a falta de grana da produção. É gigante e belíssima, mas é apenas uma locação já pronta, na verdade, a equipe só chegou a construir uma espécie de chiqueiro para o filme, que é mostrado no escuro e em planos fechados. Tudo foi filmado para que dar a impressão certa. É a economia da ralé, sambando na cara dos gastadores e gerando pontos para os acostumados com pouco. Não mude por ninguém, Grace! Você não é a tóxica…