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Dirigido por Joel Schumacher

Uma família é caçada por vampiros, depois de se mudar para uma cidade na Califórnia.

O modo como Os Garotos Perdidos apresenta o universo que criou para seus vampiros, é muito peculiar. O nome da cidade é Santa Carla, como tantas outras cidades do estado da Califórnia com nomes latinos, mas ela é fictícia. Ela precisa ser, se o filme a denomina a “Capital Mundial do Assassinato”, mas pra mim a escolha vai um pouco além da desculpa para liberdades de criação. Santa Carla não podia ser de verdade, porque na realidade ela representa várias cidades e o estilo de vida da costa oeste, onde muita gente se submete a transformações para viver uma vida que acredita ser mais vantajosa. A minha teoria sobre vampiros serem uma analogia neste filme, pode ser apoiada pela escolha da própria transformação dos humanos em vampiros. Não envolve mordida, apenas o que parece ser uma imersão involuntária e psicodélica no mundo de drogas bem estranhas.

Santa Carla é a representação de uma cidade cheia de sanguessugas. Quem está prestando a atenção entre a população, já percebeu isso. As ruas mais movimentadas exibem jovens das mais variadas tribos e muitos folhetos informativos de pessoas desaparecidas, na maioria crianças. Se você é um cinéfilo de verdade, deve saber quem são Corey Haim e Corey Feldman, atores mirins que estão no filme e que eram inescapáveis nos anos 80, por causa da quantidade de trabalho que os dois conseguiam, juntos ou separados em muitos filmes de sucesso da década. Recentemente, a dupla promoveu um escândalo em Hollywood, quando ambos revelaram terem sofrido abusos sexuais na infância, nas mãos de gente poderosa ligada ao cinema. Isso pode ter alterado a minha visão sobre o filme, assim como altera sobre qualquer filme com os Corey, e assim como o próprio tempo muda a percepção de Os Garotos Perdidos, mas eu acredito que o filme, com bastante ênfase no título, sempre foi menos sobre vampiros e mais sobre a cidade permitir que eles se aproveitem de gente inocente.

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Joel Schumacher rouba Diane Weist, uma das musas de Woddy Allen e a transforma em uma mãe solteira, se mudando para a casa do pai na Califórnia com os dois filhos adolescentes. Como a cidade é suuuuper simpática, todo mundo começa a fazer amizades rapidamente. Lucy, a mãe, logo arranja no mesmo local um emprego e um namorado. O filho mais velho Michael, se envolve com uma gangue de motoqueiros liderada por Kiefer Sutherland, que no filme imita Billy Idol tão bem quanto Supla. No ritual de vampirismo mais singular do cinema com direito até a comida chinesa, Michael se torna parte das criaturas da noite. Sem o apego relâmpago pela vida californiana, sobra para o filho mais novo Sam (Corey Haim) o papel de Van Helsing na proteção da família. Pelo menos ele conta com a ajuda de dois moleques da vizinhança, cheios de conhecimento sobre vampiros extraído de histórias em quadrinhos.

Toda vez que eu escuto o termo “garotos perdidos” eu lembro do Peter Pan. Crianças abandonadas no mundo, se juntando para formar uma família em uma terra mágica. No filme é um pouco mais sinistro, porém, é uma sequência de eventos mais parecida com a vida real. Em um lugar com muita gente deslumbrada com demonstrações de poder de toda natureza, o vampirismo se torna algo muito atraente. Dormir até tarde e farrear a noite toda, como diz a descrição no poster do filme. Uma figura autoritária cria um pequeno exército de admiradores, mais também acaba atraindo mais gente que não sabe no que está se envolvendo até ser tarde demais. Ser um vampiro em Os Garotos Perdidos é um processo em duas partes. Enquanto não sucumbir à pior parte da nova vida, que é matar alguém, ainda existem esperanças para Michael e outros desavisados, mas isso não é tudo. Para literalmente acabar com essa nova raça para sempre, Michael, Sam e seus amigos precisam destruir o cabeça desta perigosa família.

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Um dos maiores clássicos do terror dos anos 80, o filme não tem quase nada das histórias tradicionais de vampiros e eu adoro isso. Ele consegue se manter original, mesmo que as décadas tirem um pouco do seu brilho, principalmente naquelas sequências que imitam videoclipes. Os efeitos especiais que seriam mais afetados com o envelhecimento nem existem, apenas muita maquiagem e uma edição certeira. O filme fez muito sucesso quando foi lançado e ainda faz, por ser uma história bem-humorada, tensa e com uma ótima mensagem sobre o perigo de se envolver depressa com desconhecidos e permitir que eles tenham acesso irrestrito aos nossos filhos.