
Uma simples proposta de trabalho, se revela perigosa para um cineasta com problemas financeiros.
Se este Find Footage será gravado por um profissional, eu me pergunto por que sinto vibrações de youtube. Aaron viu um anúncio que dizia pagar mil dolares por apenas um dia de trabalho, para um homem com uma câmera de vídeo que saiba ser discreto. Toda essa grana por apenas um dia, faz com que o cineasta se esqueça de que terá que ir ao encontro do empregador sozinho, em um lugar remoto, sem saber exatamente o que terá que gravar e sem ter avisado ninguém. Quando ele começa a gravar o trajeto até o local, se colocando dentro do filme sem autorização ou necessidade, não é amadorismo, é um reflexo de que deveria ter obtido mais informações sobre o trabalho, antes de aceitá-lo. A câmera vira uma companhia e conversar com ela pelo caminho disfarça o nervosismo.
A tensão de Aaron é transferida para o público e não nos abandona até os créditos finais, porque Josef, o contratante, é um cara que intimida até quando elogia. A descrição do trabalho é bem menos preocupante do que se espera, a execução é que será um problema. Josef tem um tumor inoperável na cabeça e apenas algumas semanas de vida. A tarefa de Aaron, é documentar um dia na vida de Josef, para que ele possa deixar o vídeo para o filho que ainda não nasceu. É evidente que Josef não é uma pessoa normal, desde a sua primeira aparição em cena. Cheio de perguntas inconvenientes e atitudes imprudentes, ele deixa Aaron constantemente apreensivo sobre o trabalho. Aaron permanece no local porque 1 – precisa pagar suas contas, 2 – de vez em quando eles estão rodeados de pessoas e 3 – porque cada macaquice de Josef pode ser uma reação à doença, ou uma consequência dela. Aaron realmente quer ajudar.
Creep tem apenas dois personagens, com a pequena participação da voz de um terceiro e se passa quase que totalmente na “cabana de férias” da família de Josef, apesar dele se proclamar um milionário. Uma questão de orçamento, creio eu. Tudo parece familiar para quem gosta de filmes de terror, da atmosfera de perigo constante aos momentos delicados, de puro sentimentalismo, que tentam disfarçar o clima pesado. O importante, no entanto, é que nada é previsível. O filme é completamente lotado de humor, de verdade, mas sem nenhuma gota de sangue. A história parece uma dança muito bem ensaiada, para ser usada em situações cheias de imprevistos. Um planejamento cuidadoso em prol do aleatório. Um roteiro de viagem na maionese, criado por um maluco que se deixa levar pelas circunstâncias.
O lado ruim de Creep não ser o que a gente espera, é que a expectativa só aumenta. O momento de maior angústia, mostra um inofensivo corte de cabelo. O momento de maior perigo, é quando todas as precauções foram tomadas. O momento em que o filme tem a nossa mais devota atenção, é durante uma confissão, feita somente em áudio. Quando o desfecho parece ter chegado para um personagem, tudo não passa de uma encenação. Com tantas reviravoltas na história, o final é exatamente o que deveria ser, mas ainda sim decepciona. É um anticlímax.
Se Creep for lembrado por apenas um aspecto pelo público no futuro, será pela quantidade irritante de sustos. Mas, novamente, não é o que se espera. Todos eles são causados por Josef… propositalmente. São todos falsos. Até os sustos orgânicos em qualquer filme, se apresentados em quantidade excessiva, enchem o saco. Mas se o subgênero Found Footage serve para alguma coisa, é para misturar realidade com ficção na cabeça do público. Um cara que você acabou de conhecer, dono do dinheiro que você precisa, exercendo uma obsessão infantil por sustos, por motivos que ninguém poderia compreender, pode ser a coisa mais assustadora do mundo, se estiver acontecendo de verdade. Pode não ser um filme perfeito, mas o diretor não é tão sem noção quanto o seu personagem.