
Uma família é atacada por um grupo de sociopatas, durante uma viagem para Los Angeles.
Wes Craven sempre foi um cara de grande influência. Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado e Lenda Urbana não existiriam sem Pânico. Ele também tinha a habilidade de extrair trabalhos completamente originais de obras de outros diretores, como fez em Quadrilha de Sádicos, claramente inspirado em O Massacre da Serra Elétrica. A estreia na direção com o violento e polêmico Aniversário Macabro, anunciava a chegada de um visionário com mais preocupação com um roteiro que rompia regras, do que com garantir com um filme popular, financiamento para o seu próximo trabalho. Craven não conseguiu muito dinheiro ou reconhecimento, até que Freddy apareceu, mas nada o impedia de fazer o que queria, nem poucos recursos.
A ideia da viagem é muito atraente. Ninguém recusaria cruzar o país com a família, no conforto de um trailer, para comemorar as bodas do casal mais velho. Não veremos vítimas despreparadas aqui. A família é numerosa, são dois veículos, dois cachorros de grande porte e um policial experiente na liderança rumo a Los Angeles. Não há nenhum sinal de perigo até que eles cheguem ao lugar onde Judas, sem botas ou meias, disse “Já deu, né?”. É impressionante que tanta segurança e planejamento, não façam diferença diante de um imprevisto. Um dos veículos sofre um pequeno acidente, mas a vulnerabilidade só fica evidente quando os familiares se separam para procurar ajuda e um dos cachorros aparece morto.
Os poucos habitantes da vila, formam uma comunidade onde “ninguém é de ninguém”, no sentido mais incestuoso do que hippie da expressão. As consequências do isolamento e das atividades consanguíneas são visíveis, assim como as marcas psicológicas do canibalismo. Um deserto quase abandonado, onde nem a natureza atrai, só pode abrigar gente doida e é isso que nos impulsiona a pensar no início do filme, que Ruby, a desleixada local, irá matar Fred, o único comerciante, quando ela toda misteriosa se enfia no escritório dele e fecha a porta. Mas Ruby é boa gente, o que a torna única na sua espécie; tudo o que ela quer é uma carona de Fred para escapar daquele lugar. Mas ela não consegue, porque sendo como ela é, Fred não acredita que ela sobreviveria entre pessoas normais.
Quadrilha de Sádicos não é o filme mais famoso de Craven, na verdade o sucesso desta história veio mesmo com o remake, lançado com o título Viagem Maldita, no qual Craven participa como produtor. O conteúdo é quase o mesmo, as diferenças estão no polimento, conseguido com recursos cinematográficos modernos e mais dinheiro. Viagem Maldita tem mais personagens, com uma maquiagem que indica que o local tem muito mais história do que o do primeiro filme. Os adolescentes também são interpretados por atores na idade apropriada, ou pelo menos por gente que se cuida para parecer jovem. Em Quadrilha de Sádicos, os filhos mais jovens tem tantas rugas, que nem as roupinhas apertadas ou a granulação no filme conseguem disfarçar. Mas o velho não deve nada ao moderno em matéria de violência.
Por mais que a expectativa e a própria sinopse, nos façam antecipar os ataques, eles nunca acontecem quando ou do modo como esperamos. É mal preparado e desengonçado, mas cruel e eficaz, chocando pela rapidez com que tudo acontece. Em um slasher, é comum ter personagens de maior ou menor importância. Isso não acontece em uma família, mesmo que uns se destaquem mais do que outros na história. Craven mostrou que era destemido e não só apelativo (como em certas cenas de Aniversário Macabro), quando a gangue elimina três dos familiares mais fortes de uma só vez, levando ainda o bebê com eles. Não era uma simples balançada na estrutura de um grupo qualquer, era a mais desonesta das desvantagens, retratada com todo o desespero que as circunstâncias permitem. Quem ainda está vivo, nem pode cogitar uma fuga e deixar a pequenina Katy para trás. Na melhor das hipóteses ela seria morta e devorada, na pior, ela seria criada como uma deles. O jeito é engolir o choro e lutar.
Craven, que morreu no último domingo, dia 30 de agosto, não será celebrado com o devido respeito, porque procedia na carreira lançando um verdadeiro clássico do terror e depois se ocupando de filmes menores por muitos anos. É injusto que muitas destas obras intermediárias permaneçam desconhecidas do grande público, porque mesmo com roteiros inferiores, as execuções não são fracas, provando que o homem realmente nasceu para o terror, apesar das tentativas de extraviar para outros gêneros. Eu recomendo uma sessão descompromissada e divertida, como um pequeno ritual fúnebre particular, com Shocker – 100.000 Volts de Terror e Um Frio Corpo Sem Alma. Filmes do diretor que batiam ponto nas madrugadas televisivas nos anos 80 e 90.